Soldado Pereira: uma luta de 33 anos para ter seus direitos de volta. (Foto: Divulgação) |
A história desta reportagem poderia fazer parte da série Fatos
que só acontecem na Bahia. Apesar do suposto final feliz, ela esconde a
crueldade de homens encastelados no poder e que não possuem nenhum preparo para
tal. A notícia foi divulgada no portal Dia a Dia Nordeste e difundida
pela rádio Canabrava FM de Ribeira do Pombal, num trabalho do radialista
Cleisson Cardoso. O soldado Manoel Pereira dos Santos, depois de 33 anos de
afastado, volta aos quadros da Polícia Militar da Bahia.
Tudo aconteceu quando um dia qualquer de 1990, o Soldado
Pereira, nome usado na corporação, foi chamado pelo comandante Lima, Este lhe
pediu o fardamento, a identidade militar, o armamento e disse que ele estava
desligado da PM. Diante da surpresa do comandado, Lima disse a ele que
procurasse um advogado e procurasse a Justiça. Em pleno estado democrático, um
homem é afastado de uma corporação militar sem nenhuma justificativa, documento
ou processo administrativo ou disciplinar.
Este absurdo demorou a ser corrigido. Sem condições de
reagir, o Soldado Pereira, acostumado a seguir ordens, seguiu seu caminho e foi
a busca da sobrevivência. Sua história era contada e conhecida. Ninguém tomou a
dores, ninguém queria brigar com os comandantes da PM de Ribeira do Pombal. O
problema é que não se sabia o motivo, já que não se sabe até hoje o que levou o
comandante Lima a tomar tal atitude. Manoel Pereira foi trabalhar no que
arranjava, até mesmo sobreviveu catando castanhas para alimentar os filhos. Um
dia, chegou a não ter dinheiro para pagar o aluguel. Os antigos colegas de
corporação, em união com várias outras pessoas, construíram uma casa para ele.
A generosidade dos amigos amenizava a dor da injustiça vivida.
Um dos filhos de Manoel Pereira estudou e virou advogado. Há
oito anos resolveu lutar para limpar o nome do pai. A luta termina nesta
quinta-feira (19), quando o Soldado Pereira será reintegrado aos quadros da
honrosa Polícia Militar do Estado da Bahia. O Soldado Pereira terá todos os seus
direitos restabelecidos, inclusive suas graduações e remunerações enquanto soldado.
A justiça foi feita 33 anos depois? Não! Ainda há muitas
questões a resolver. Então quer dizer que um comandante militar de um pelotão
pode afastar dos quadros da PM um subordinado, retirá-lo da folha de pagamento,
jogá-lo na sarjeta por pura perseguição pessoal, indo de encontro a todas as
leis do país e ninguém faz absolutamente nada? Se não foi perseguição pessoal,
o que fez de tão grave o Soldado Pereira, já que toda a sociedade pombalense sabe se
tratar de um homem íntegro? A cúpula da Polícia Militar aceitou o afastamento
sem questionar ou apurar nada?
Apesar de a notícia ser a prova de que há justiça no país, capenga, lenta, vacilona, mas existe! É preciso que os questionamentos acima sejam respondidos para que se ensine como se deve agir numa sociedade pautada no devido respeito às leis! Se foi restituída à vítima o seu direito, é preciso identificar aquele ou aqueles que cometeram excessos. Existem sérios indícios de que isso não foi só um erro cometido por um comandante de pelotão. Há muito mais água a correr por debaixo desta ponte.
Colaborou: Joilson Costa.