A BA 084, que liga Biritinga a Nova Soure, é o trecho mais longo a separar dois municípios nesta rodovia. Os 60 kms que separam as duas cidades é bem sinalizado e com pouquíssimos problemas. A estrada é uma imensidão cortando uma mistura de caatinga com cerrado e, apesar da presença do asfalto, ainda há lugares inóspitos. Mas o trajeto é seguro, protagonizado por uma reta de mais de 40 quilômetros. Sem a estrada, a região seria quase inabitada. Depois de Biritinga, na margem direita, 12 kms depois, há o acesso à Sátiro Dias pela BA 233, distante 18 kms. Fora disso, há vários acessos a pequenas localidades ao longo da rodovia, inclusive aos povoado Raso e Quixabeirinha, que formam a BA 403, estrada muito usada para sair de Nova Soure até Sátiro Dias.
Mas, afinal, como se formou a cidade de Nova Soure? Vamos à sua história, que começa quando os jesuítas da Companhia de Jesus de Santo Inácio de Loiola chegaram na região no final do século XVI. Os padres cultivaram a confiança dos Cariris, habitantes naturais do lugar, e fundaram a Missão do Natuba, unindo cinco aldeias numa só. Colonizadores portugueses desenvolveram a agricultura em suas terras férteis, cortadas pelo Rio Natuba, afluente que se encontra com o Itapicuru em Nova Soure. Não é sem razão que “natuba”, na liguagem dos Cariris, significa “rio que nunca seca”.
O município foi emancipado em 1754 com o nome de Nossa Senhora da Conceição do Natuba. Em 1758 recebeu, através de Carta Régia de 8 de maio daquele ano, o nome de Vila de Nova Soure. Mas a condição de município foi perdendo espaço para Cipó, que era distrito de Nova Soure. As coisas se inverteram na Era Vargas. Em 1933, Nova Soure figura como distrito de Cipó. Somente em 1935 é desmembrado de Cipó e volta a ser município com o nome de Soure, pelo Decreto n.º 9.600, de 18 de julho daquele ano, instalado um mês depois. Outro decreto-lei do estado, n.º 141, do último dia de 1943, incorpora novamente Nova Soure a Cipó como simples distrito, sendo seu território anexado ao município de Cipó. Os moradores não gostaram e seis meses depois, em 1 de junho de 1944, foi restaurado definitivamente o município de Nova Soure, pelo Decreto Estadual n.º 12.978, desmembrado de Cipó. O primeiro prefeito nomeado é José Ferreira da Silva, que cuidou de melhorar aspecto estéticos do município.
O desenvolvimento chegou mais rápido com o advento das estradas, mas a BA 084 só contribuiu bem mais tarde. Antes, Nova Soure cresceu com a BR 110, que faz a ligação da cidade com Cipó, ao norte, e Olindina, ao sul. Com o asfaltamento da BR, tornando Alagoinhas e Salvador mais pertos, o desenvolvimento ficou mais visível. Entretanto, o acesso a Biritinga e Serrinha era feito por uma trilha de barro batido, numa região quase despovoada, mas que liga duas grandes BRs – a 116, em Serrinha, e a 110, em Nova Soure. A BA 233, de Serrinha a Biritinga, com 22 km, foi a primeira a receber asfalto. Somente bem depois a BA 084, de Biritinga a Nova Soure, com 60 km, recebeu uma borra asfáltica. Mas os problemas com a buraqueira eram constantes. O percurso chegou a ser feito em quatro horas, sem falar nas constantes quebras de veículos. Somente de 2013 para cá é que a estrada passou a ter um tratamento melhor, com uma camada de asfalto mais resistente. Quem passa na região vê o desenvolvimento mais pujante.
Nova Soure tem hoje 27 mil habitantes e minha relação com a cidade começou nos anos 80. Montamos uma companhia de teatro em Serrinha, e saimos apresentado a peça “Hoje a Banda não sai”, do pernambucano Severino M. Tavares. Tínhamos uma apresentação para Cipó, no cinema da cidade, e outra para Nova Soure, no clube local. A de Cipó foi um fracasso, com apenas 3 pessoas na plateia. Em Nova Soure tinha tanta gente que chegamos a pedir às pessoas que trouxessem cadeiras de casa. Foi um sucesso. A coisa ruim foi a travessia da BA 084 naquela época: um tormento.
Nas últimas eleições, em 2020, elegeu como prefeito Luis Cássio de Souza Andrade, Cassinho – do PSD, economista hoje com 50 anos, que já era prefeito da cidade e lutava pela reeleição. Ele obteve 7.036 votos, ou 45,34% dos votos, vencendo outros três candidatos: Ari, do PSB – com 6.395 votos, ou 41,34%; Marcos Ureilton – do PT, com 1.128 votos, ou 7,27%; e Dr. Dorginho – do PDT, com 958 votos, ou 6,17%.
A Câmara Municipal foi composta dos vereadroes Itinho – PSD – 1.064 votos; Wênio Moreira – PSD – 942 votos; Eraldo da Saúde – PSD – 906 votos; Dênis da Sorveteria – PSB – 708 votos; Geraldinho – PSD – 630 votos; Val Gás – PSB – 614 votos; Nilton de Gavião – PSB – 614 votos; Barimar – PSD – 570 votos; Natalicinho – PSB – 533 votos; Dio de Tonho de Bina – PSD – 494 votos; e Zé Carlos da Cajuba – PT – 467 votos.
Há ainda muito a se dizer sobre Nova Soure e os seus 78 anos de história, que serão comemorados no próximo dia 1º de junho. Nova Soure é a reunião de todas as lutas do seu povo, inclusive na fé a Nossa Senhora da Conceição, a padroeira do lugar. O novassourense é a síntese do brasileiro, do nordestino de raiz, na luta pelo seu viver, sempre de olho no viver cada vez melhor, em harmonia com o próximo, até o dia onde possa dizer que construiu seu porto seguro, para esperar o barco que o leve à vida do outro lado da história.
No próximo episódio: A BA 084 e cidade de Cipó.
