Ildinho e os 4 cavaleiros do após Calipso
Ser um bom administrador no
Brasil não é tarefa fácil. Se a missão for administrar o país, multiplique a
dificuldade por dois. Em se tratando de administrar um estado como a Bahia,
coloca dificuldade mais nisso. Agora, pior mesmo é ser um prefeito. Sim, estou
falando ser um prefeito que queira administrar mesmo! Fazer bandalheira, pousar
de Rainha da Inglaterra ou só pensar em meter a mão no dinheiro público são
coisas fáceis no Brasil. As leis estão aí para facilitar toda safadeza possível
na administração pública. Só precisa ter um pouco de sorte e não aparecer um
Moro na sua vida. Mas administrar certinho, fazendo o correto, tentando
consertar erros e acabar com vícios e costumes de anos, é quase o inferno.
Digo isso porque vejo o prefeito
de Heliópolis tentando aqui e ali fazer alguma coisa que possa justificar os
votos que recebeu. Quando converso com ele, percebo seu esforço em tentar fazer
o melhor possível. Sua administração não está ruim. Caminha muito bem e poderia
estar bem melhor. Mas o que atrapalha esta possível melhora? A oposição? Claro
que não. As besteiras feitas pelos opositores do prefeito deram até mais Ibope
ao alcaide. O problema maior de Ildinho são quatro. Explico melhor: o prefeito
de Heliópolis tem quatro correligionários que estão atrapalhando a melhoria da
administração pública.
O primeiro é vereador e acha
que, por isso, pode tudo. Quer passar por cima dos correligionários, passar por
cima das leis e exige que suas vontades sejam feitas de qualquer maneira. O
segundo administra um setor vital para a vida das pessoas e só não passa por
cima da autoridade do prefeito porque aí já é mexer com pólvora. Este chega ao
ponto de, em fins de semana e feriado, se dar ao luxo de desligar o celular e
cair na gandaia, não se importando com a desgraça dos outros. O terceiro não
faz nada, mas sempre está metendo o bedelho onde não deve. Se fosse para
ajudar, tudo bem, mas é só para semear intriga. Isso ele faz por saber do seu
peso político. O último não tem poder político, mas econômico e de amizade. Se
aproveita da proximidade do chefe para semear discórdia, acolhendo uma vingança
aqui e outra ali.
Os quatro cavaleiros do após
Calipso se esquecem de que Joelma sem Chimbinha não tem Calipso, e o contrário
também. O ano que vem haverá eleições. O grupo vai precisar do voto do povo. Eu
sei que vereador é importante. Prefeito inteligente trabalha com os vereadores
do lado e divide com eles o sucesso da empreitada, mas tudo tem limites.
Indicar pessoas incompetentes para cargos só por serem eleitores seus não
significa sucesso político. Fazer intriga contra a secretária de saúde porque
ela está fazendo as coisas corretas não traz dividendo eleitoral nenhum.
Colocar despreparados em certas funções acaba por gerar problemas. Não preciso
aqui citar o motorista que brigou com um aluno ou a atendente que recebeu mal
uma paciente. As consequências serão sentidas nas eleições. Quem comanda é o
povo. Vereador e prefeito são funcionários temporários das pessoas.
Numa reunião ocorrida esta
semana, sem a minha presença, é claro, um dos cavaleiros chegou a levantar uma
questão envolvendo almoço na Casa de Apoio de Aracaju. Tudo isso porque um
motorista, eleitor do queixoso, não foi convidado para o banquete. Meu Deus!
Tantos problemas enfrentados pela prefeitura com a falta de dinheiro, demissões
que terão de serem feitas porque a grana está cada vez mais curta, e o nobre
correligionário, que nem ligado ao setor é, quer proibir que os motoristas
façam sua boiazinha. E olhem que foram eles que compraram a comida e fizeram a
gororoba lá mesmo na Casa de Apoio. Não tem grana da prefeitura envolvida na
questão. Por causa de um, todos pagaram o pato e parece que a comida não entrou
legal e saiu pior.
Outro caso interessante envolve
um motorista da secretaria de saúde. Ele foi acusado por um dos cavaleiros de
estar falando mal do prefeito em serviço e quer a transferência do funcionário,
que é concursado. Será que ele acha que transferindo o rapaz o problema estaria
resolvido? Melhor: todos os nossos problemas estariam resolvidos? Pelo amor de
Deus! É muita cabaça para minha cuia! Isso se resolve é com diálogo. Se o
funcionário estiver falando algo grave, grava-se, processa-se e acabou! Mas, na
verdade, parece que o que há é a operação da prática de uma vingançazinha ou a
velha história de se ficar perseguindo funcionários adversários. Este tempo já
passou, mas tem gente que ainda não aprendeu.
Aproveito para dizer que a
reunião, do ponto de vista político, foi inútil. Um dos cavaleiros pediu demissão e nada foi decidido. Não
estou aqui para pedir sua cabeça, mas se não quer fazer a coisa certa, já vai
tarde. Política é sacrifício. Tem que estar preparado para o sacrifício. Ele
está agindo como o médico que, depois de formado, não quer atender os
pacientes. Lembro-me bem de um fisioterapeuta que, quando os pacientes chegavam
para as sessões, ele se queixava que não podia fazer isso ou aquilo porque doía
em tal lugar. Era ele o doente ali. Se não pode com o pote, não adianta carregar
a rodinha. Cargo público, principalmente em setores vitais, requer dedicação,
sacrifício. Não se tem hora para si. O tempo todo é o outro que olhamos. Eu sei
o que é estar ao lado de uma secretária que nunca desliga o telefone e que,
depois de organizar tudo para dar o socorro a alguém, esbarra justamente na
ineficácia ou na má vontade de um correligionário, colocado ali para, como ela,
servir ao povo de Heliópolis.