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Neópolis - Cidades do Velho Chico - 31

Emilio Odebrecht: “Terão de construir mais 3 celas: para mim, Lula e Dilma”

Marcelo Odebrecht é a capa desta semana de Época
A revista Época desta semana traz uma reportagem que deixará os petistas em polvorosa. Acostumados, como todos nós, a um país que cria leis para proteger os poderosos, jamais passou pela cabeça de alguém que Lula ultrapassaria todos os limites inimagináveis, a ponto de ser hoje apontado por todos os analistas como o próximo a ocupar um dos cômodos da Papuda. Eu não duvido da determinação do juiz Sérgio Moro, mas também não duvido de um acordão para salvar a república e livrar Lula e Dilma da cadeia. A fala de Emilio Odebrecht, que abre este artigo, não pode ser vista como algo desprezível. Seu filho está preso e ele não vai deixar barato. Por que ele iria pagar o pato sozinho, depois de ajudar o PT a chegar ao poder por quatro eleições em sequência?
Em reportagem de Filipe Coutinho, Thiago Bronzatto e Diego Escosteguy, Época afirma que desde que o avançar inexorável das investigações da Lava Jato expôs ao Brasil o desfecho que, cedo ou tarde, certamente viria, o mercurial empresário Emilio Odebrecht, patriarca da família que ergueu a maior empreiteira da América Latina, começou a ter acessos de raiva. Nesses episódios, segundo pessoas próximas do empresário, a raiva – interpretada como ódio por algumas delas – recaía sobre os dois principais líderes do PT: a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A exemplo dos presidentes da Câmara, Eduardo Cunha, e do Senado, Renan Calheiros, outros dois poderosos alvos dos procuradores e delegados da Lava Jato, Emilio Odebrecht acredita, sem evidências, que o governo do PT está por trás das investigações lideradas pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot. “Se prenderem o Marcelo (Odebrecht, filho de Emilio e atual presidente da empresa), terão de arrumar mais três celas”, costuma repetir o patriarca, de acordo com esses relatos. “Uma para mim, outra para o Lula e outra ainda para a Dilma.”
Está mais que claro que o PT não arquitetou nada porque muito pouca coisa no Partido dos Trabalhadores é planejada, nem mesmo o seu cansado discurso de luta contra as elites. É só colocar em conta que o principal amigo de Lula, Emilio Odebrecht, não faz parte desta elite. O PT esquece de dizer que é contra a elite que é contra o partido, que questiona suas incoerências, que mostra a verdade de que o partido sempre esteve apenas disposto a chegar ao poder e lá quer ficar até que não possa mais. E também, elite para o PT é tudo que está contra ele. Se for um pobre miserável que prega algo contra o partido, haverá sempre alguém a dizer que é um trabalhador que traiu a companheirada, iludido pelo discurso da direita.
Os administradores da operação Lava Jato estão comendo pelas beiradas. Sabem que o país não agiria com naturalidade ao ver um ex-presidente e uma presidenta acusados de administrar o maior desvio de recursos públicos que se tem notícia na história da república. Só o tempo vai confirmar o que estou aqui dizendo. Só ao ler Doris Lessing foi que eu descobri que Stalin pode ter matado mais pessoas que Hitler. Não foi a História que me revelou. A ideologia esconde os verdadeiros heróis e vilões. Hoje vejo o quão inocente fui em acreditar um dia que o operário Luís Inácio Lula da Silva seria o iniciador de uma nação próspera, que caminharia para ser a mais progressista do planeta, justa e igualitária. Não me arrependo da luta. Não lutei por Lula, lutei por um país – e ainda luto. A visão que tenho hoje é suficiente para ver que Lula está mais contribuindo com o que ele chama de elite que com o país. Sérgio Moro sabe que não se desmonta um falso deus da noite para o dia. No fundo, ele está recuperando nossa crença na nação. É preciso separar as coisas: política se faz para melhorar o país e não para endeusar pessoas.
Não foi por acaso que batizaram a 14ª fase da Operação Lava Jato de Erga Omnes, expressão em latim, um jargão jurídico usado para expressar que uma regra vale para todos – ou seja, que ninguém, nem mesmo um dos donos da quinta maior empresa do Brasil, está acima da lei. Era uma operação contra a Odebrecht e, também, contra a Andrade Gutierrez, a segunda maior empreiteira do país. Eram as empresas, precisamente as maiores e mais poderosas, que ainda faltavam no cartel do petrolão. Um cartel que, segundo a força-tarefa da Lava Jato, fraudou licitações da Petrobras, desviou bilhões da estatal e pagou propina a executivos da empresa e políticos do PT, do PMDB e do PP, durante os mandatos de Lula e Dilma. Não é pouca coisa. Só para se ter uma ideia, os americanos encontraram desvios na FIFA na ordem de 150 milhões de dólares. Esta grana toda é equivalente ao que somente um dos delatores da Lava Jato se comprometeu a devolver aos cofres do país. Não está incluso aí o que ele pagou a políticos e empresas. Era só a parte que coube a ele.
Os comentários de Emilio Odebrecht eram apenas bravata, um desabafo de pai preocupado, fazendo de tudo para proteger o filho e o patrimônio de uma família? Ou eram uma ameaça real a Dilma e a Lula? Nas últimas semanas, segundo fontes ouvidas por Época, teve encontros secretos com petistas e advogados próximos a Dilma e a Lula. Transmitiu o mesmo recado: não cairia sozinho. Ao menos uma dessas mensagens foi repassada diretamente à presidente da República. Que nada fez. Na coluna Painel, da Folha de São Paulo, afirma que a  prisão de Marcelo Odebrecht levou pânico ao mundo político pelo grau de conhecimento que o presidente da empreiteira tem dos pormenores da engrenagem do financiamento eleitoral ao PT nos últimos anos. Mesmo negando participação de sua empresa no escândalo de corrupção na Petrobras, o executivo teria feito relatos de como o esquema abasteceu campanhas petistas em 2010 e 2014. O temor é que, se ficar preso por muito tempo, Marcelo resolva desfiar esse novelo.
Prisão de Marcelo Odebrecht (foto: UOL)
Ainda em Painel, sobre o potencial de estrago de uma possível fala de Marcelo e a falta de elementos para sustentar as prisões, advogados apostam que a libertação dos presos desta sexta-feira será mais rápida que o padrão. Ocorre que os advogados da Odebrecht sustentam que não faz parte da linha de defesa dos executivos presos selar acordos de delação premiada, como fizeram investigados de outras empreiteiras. Nos relatórios que embasaram os pedidos de prisão da nova fase da Lava Jato, a Polícia Federal aponta que “as operações do grupo Odebrecht seguem padrões mais sofisticados do que as concorrentes”. Mesmo assim foram desmascarados e isso pode levar a um grande acordão, já que as maiores empresas estão envolvidas e haverá uma estagnação no setor de construção, gerando desemprego em massa. O que está pior pode estragar mais ainda. Até porque, vem aí Ricardo Pessoa. Políticos lembravam no fim da semana que ainda está por ser conhecido o teor da delação de Ricardo Pessoa, da UTC, que deve ser homologada nos próximos dias pelo relator Teori Zavascki.
Como desgraça pouca é bobagem, a oposição se agarra a uma possibilidade concreta para afundar ainda mais o governo Dilma e fará pressão sobre o TCU nos próximos 30 dias para cobrar a rejeição das contas de Dilma. Tucanos citam parecer de Miguel Reale que diz que essa decisão seria o caminho para pedir o impeachment. Mas Dilma vai usar a carta em que Arno Augustin assume responsabilidade pelas pedaladas para provar que o procedimento era corriqueiro e decidido por escalões inferiores. Ou seja, os erros não são meus, só as virtudes.
Na reportagem de Época, ficou claro que não há como determinar com certeza se o patriarca dos Odebrechts ou seu filho levarão a cabo as ameaças contra Lula e Dilma. Mas elas metem medo nos petistas por uma razão simples: a Odebrecht se transformou numa empresa de R$ 100 bilhões graças, em parte, às boas relações que criou com ambos. Se executivos da empresa cometeram atos de corrupção na Petrobras e, talvez, em outros contratos estatais, é razoável supor que eles tenham o que contar contra Lula e Dilma. Além disso, Fernando Pimentel, governador de Minas Gerais, seria um dos atingidos também com as investigações. 
Fato é que, pela primeira vez na história do país, suspeitos de ser corruptores foram presos – os executivos das empreiteiras. Antes, apenas corruptos, como políticos e burocratas, eram julgados e condenados. E foi precisamente esse lento acúmulo de prisões, e as delações premiadas associadas a elas, que permitiu a descoberta de evidências de corrupção contra Marcelo Odebrecht, o empreiteiro que melhor representa a era Lula, como afirma a reportagem de Época. Foram necessárias seis delações premiadas, dezenas de buscas e apreensão em escritórios de empresas e doleiros e até a colaboração de paraísos fiscais para que o dia 19 de junho fosse, enfim, possível. Tudo isso é prova inconteste de que estamos no caminho de uma nação com futuro, finalmente, onde as leis são para todos e que ser pobre ou rico é apenas uma questão de classe e de posição social no capitalismo. O dinheiro pode comprar bens e não consciências. Partidos, lideranças e ideologias são importantes, desde que não ultrapassem os limites das leis e da Constituição. Santos serão o bem-estar, a saúde, a educação e a cultura de um povo. Pessoas e ideias são instrumentos usados para chegarmos a um mundo perfeito. Precisamos de exemplos para chegarmos a isso. Estas prisões, e outras futuras, são um extraordinário começo.