Dalva Sele revela como funcionava
esquema que irrigou o caixa eleitoral do partido e beneficiou Rui Costa, Walter
Pinheiro, Afonso Florence, Nelson Pelegrino e Vicente Neto.
Landisvalth Lima
Rui Costa (PT) recebia de 3 a 5 mil mensais (foto: A TARDE) |
A questão é muito simples de
entender: funda-se uma ONG com o aval do PT, busca-se recursos para
supostamente beneficiar o povo pobre e parte das verbas são desviadas para
financiar campanhas políticas do partido. Como estamos sabendo de tudo isso?
Alguém descobriu, foi à Justiça e o processo ficou mornando. Prometeram que não
daria em nada, que toda denúncia seria arquivada. Não foi. Quatro anos depois,
a falcatrua vem a público e a dona da ONG resolve jogar areia no ventilador e o
PT está, mais uma vez, enrolado. Tão enrolado que já virou algo comum associar
PT a corrupção. Não é a toa que a palavra corrupto tem um PT no meio.
E a denúncia é da revista VEJA
desta semana. Desde 2010, o Ministério Público investiga o Instituto Brasil,
uma ONG criada pelos petistas da Bahia. Em 2008, a entidade foi escolhida pelo
governo do estado para construir 1 120 casas populares destinadas a famílias de
baixa renda. Os recursos, 17,9 milhões de reais, saíram do Fundo de Combate à
Pobreza. Dinherio para salvar os pobres da miséria. Os investigadores já tinham
reunido provas de que parte do dinheiro desaparecera, mas não havia nada além
de suspeitas sobre o destino final dele. O mistério pode estar perto do fim. Em
entrevista a VEJA, a presidente do instituto, Dalva Sele Paiva, revela que a
entidade foi criada para ajudar a financiar o caixa eleitoral do PT na Bahia,
um esquema que funcionou por quase uma década com dinheiro desviado de
“projetos sociais” das administrações petistas.
A engrenagem chegou a
movimentar, segundo ela, 50 milhões de reais desde 2004. O golpe era sempre o
mesmo: o Instituto Brasil recebia os recursos, simulava a prestação do serviço
e carreava o dinheiro para os candidatos do partido. Como os convênios eram
assinados com as administrações petistas, cabia aos próprios petistas a tarefa
de fiscalizar. Assim, se o acordo pagava pela construção de 1 000 casas, por
exemplo, o instituto erguia apenas 100. O dinheiro que sobrava era rateado
entre os políticos do partido.
Dalva Sele Paiva, presidente do Instituto Brasil |
Dalva
Sele apontou o candidato ao governo do Estado da Bahia, Rui Costa, de ter
participado juntamente com o senador Walter Pinheiro que, segundo Dalva, teria
recebido R$ 260 mil. São citados também o deputado federal pelo PT, Nelson
Pelegrino e o atual presidente da Embratur, ex-PCdoB, Vicente Neto, e o ex-ministro
da presidenta Dilma, Afonso Florense, que chefiava a pasta de Desenvolvimento
Agrário."Quem definia os que receberiam dinheiro era a cúpula do PT. A gente distribuía como todo mundo faz: sacava na boca do caixa e entregava para os candidatos ou gastava diretamente na infraestrutura das campanhas, como aluguel de carros de som e combustível", diz Dalva Sele. São ainda citados o deputado Zezéu Ribeiro, os deputados estaduais, secretários e ex-secretários do governo de Jaques Wagner, como Jorge Solla (Saúde), o ex-superintendente de Educação Clóvis Caribé, a deputada estadual Maria Del Carmen, militantes e dirigentes do PT na Bahia. Militante histórica do PT, Dalva Sele deixou o país pouco depois de conceder entrevista. Ela afirma temer retaliações do partido e decidiu pedir proteção policial do Ministério Público tão logo comece a colaborar com as investigações. “Tenho receio daquilo que eles podem fazer comigo e com a minha família. Por isso, já estou em contato com os meus advogados para pedir proteção às autoridades”, diz Dalva.
O Instituto Brasil já vem sendo investigado pelo Ministério Público desde 2010. A entidade foi escolhida para construção de cerca de 1.120 casas populares para famílias de baixa renda, com aproximadamente R$ 17,9 milhões de recursos do Fundo de Combate à Pobreza. Ainda de acordo com Dalva, nesse método de receber os recursos e simular a prestação de serviço, o esquema já chegou a movimentar cerca de 50 milhões desde 2004, com quase uma década de funcionamento. Os nomes dos outros envolvidos ainda não foram revelados.
O Instituto Brasil já vem sendo investigado pelo Ministério Público desde 2010. A entidade foi escolhida para construção de cerca de 1.120 casas populares para famílias de baixa renda, com aproximadamente R$ 17,9 milhões de recursos do Fundo de Combate à Pobreza. Ainda de acordo com Dalva, nesse método de receber os recursos e simular a prestação de serviço, o esquema já chegou a movimentar cerca de 50 milhões desde 2004, com quase uma década de funcionamento. Os nomes dos outros envolvidos ainda não foram revelados.
Wagner diz que notícia foi
comprada
Afonso Florense (PT), ex-ministro |
A reportagem da última edição da
revista Veja, publicada na última sexta-feira (12), foi considerada como
“comprada” pelo governador Jaques Wagner, segundo postagem do Bahia Notícias.
"Isso foi matéria comprada, alguém da oposição. Quem não tinha dinheiro
para pagar condomínio de repente pagou de uma vez só 13 mil, 14 mil reais? Com
certeza foi o dinheiro que ela recebeu para fazer essa bombástica
revelação", disse o gestor estadual ao programa da Record Bahia “Balanço
Geral” na manhã desta segunda-feira (22), em referência a presidente do
Instituto investigado, Dalva Sele.
Além de considerar que a matéria é
“requentada”, ele disse que seria um ato de “desespero” de adversários pelo fim
da campanha eleitoral. "Das pessoas que estão sendo citadas, cada um tem
que responder. Um deles já respondeu (Rui Costa) e abriu processo criminal
contra ela. Ela tinha esse instituto há muito tempo - foi contratada em 2005 e
prestava serviço já em 2006. Conseguiu um outro contato para fazer casas
populares e na segunda prestação de contas delas, o secretário Cícero
[Monteiro] veio a mim e disse que a prestação estava inconsistente e eu mandei
romper o contrato. Rompemos o contrato, não pagamos e ela não tem esse negócio
desde 2010".
Nelson Pelegrino (PT) |
Pinheiro confirma caixa dois
O senador Walter Pinheiro (PT)
detonou o seu próprio partido e condenou o PT por tê-lo atirado em um “clássico
esquema de caixa dois eleitoral”. Seu nome foi apontado pela presidente do
Instituto Brasil, Dalva Sele Paiva, como beneficiário de desvio de dinheiro
público para levantar fundos que teriam ido para sua campanha 2008, para
prefeito de Salvador. “Essa mulher (Dalva) pertencia às correntes do PT, as mesmas
correntes que nacionalmente viviam se estapeando comigo por causa do negócio do
mensalão. Ela não veio para a minha campanha pelas minhas mãos, ela veio a
partir das relações dela dentro do PT”, disse Pinheiro à revista Veja. Ele
afirmou, ainda, que Dalva já prestava serviço ao Estado quando ele chegou para
a campanha de 2008. “Nunca aceitei sentar para negociar com ninguém nada a
respeito do que essa mulher fez ou deixou de fazer. Pelo que eu entendi, essa
mulher utilizava esse negócio de campanha para traficar as coisas dela”, disse.
Ele afirmou desconhecer que o carro alugado pelo partido era suspeito de ser
pago com dinheiro de caixa dois. Não chega a ser surpresa a afirmação de
Pinheiro. O senador está longe de se envolver em corrupção por vontade própria,
mas saiu da linha e acusou o partido. Confirmou tudo.
MP da Bahia agora vai investigar
Wagner afirma que notícia foi comprada |
O Ministério Público (MP-BA)
expediu nesta segunda-feira (22) uma notificação para ouvir a presidente do
Instituto Brasil, Dalva Sele Paiva, após ela ter denunciado o desvio de
dinheiro público para caixa dois. “Além dela, vou notificar também outras
pessoas citadas na reportagem pela senhora Dalva Sele. O objetivo é saber quais
provas ela possui e confirmar também o teor do que foi publicado”, disse a
promotora Rita Tourinho ao jornal Correio. Ela afirma, contudo, que não há
elementos para convocar os políticos acusados pela presidente da ONG. Outro
procedimento está em curso contra o Instituto Brasil além da investigação
aberta em 2010 para apurar suspeitas de desvios de R$ 6 milhões do Fundo de Combate
à Pobreza, para a construção de casas populares. A última apuração tem parceria
como o Ministério Público Federal (MPF-BA) e se refere à sondagem do programas
habitacionais financiados pela Caixa Econômica e intermediados pelo governo do
estado.
Oposição quer CPI
Uma frente de congressistas de
oposição solicitará ao procurador-geral da República, Rodrigo Janot, na próxima
terça-feira (23), que o Ministério Público Federal (MPF) participe, junto ao
Ministério Público da Bahia (MP-BA), da apuração sobre a denúncia de desvio de
recursos do Fundo de Combate à Pobreza para campanhas eleitorais de políticos
petistas no estado, feita pela presidente da ONG Instituto Brasil, Dalva Sele,
em entrevista à revista Veja. O grupo é composto pelos deputados federais Bruno
Araújo (PSDB), Antonio Imbassahy (PSDB), Paulinho da Força (SDD), Rubem Bueno
(PPS), todos candidatos à reeleição; e pelo senador Agripino Maia (DEM), que
coordena a campanha do candidato à presidência da República pelo PSDB, Aécio
Neves. “É uma prática contumaz que foi flagrada na Bahia, mas ocorre em todo o
país. O Congresso não pode se omitir diante de mais este atentado à democracia
e à república brasileira”, disse Agripino. Antes de protocolar a representação,
às 9h30, o grupo se reunirá no gabinete do senador democrata para elaborar um
requerimento da instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para
investigar a denúncia. Já aderiram à frente outros congressistas, como Mendonça
Filho (DEM-PE), Luiz de Deus (DEM-BA), Cláudio Cajado (DEM-BA), Colbert Martins
(PMDB-BA), Arthur Maia (SDD-Bahia), Jutahy Jr. (PSDB-BA) e Lúcio Vieira Lima
(PMDB-BA).
CPI na ALBA
O líder da bancada da oposição na
Assembleia Legislativa da Bahia – ALBA - Elmar Nascimento (DEM) confirmou que entrou
com um requerimento de Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) na Casa para
apurar as denúncias de um “mensalão baiano” do PT. As acusações teriam fruto
nos documentos utilizados pela revista Veja para embasar matéria sobre
irregularidade do Instituto Brasil quanto a um desvio milionário de verba
pública. Nascimento afirmou que já foi provado pelo Ministério Público (MP-BA)
e pelo julgamento do Tribunal de Contas do Estado (TCE) o desvio de dinheiro
para o financiamento de campanhas do atual senador Walter Pinheiro (PT), quando
foi candidato a prefeito em 2008, e do atual postulante da chapa petista Rui
Costa para o governo de estado. “A denuncia é feita por uma pessoa do PT. Dalva
Sele é do PT, não somos nós que estamos denunciando. Se o desvio foi feito, a
gente investigou e provou. Agora é saber quem foi o principal beneficiado”,
disse o parlamentar. “O Instituto Brasil é uma grande encruzilhada para desvio
de verbas e rendas para o PT”, concluiu o líder da oposição.
Petistas falam em leviandade
Walter Pinheiro nega participação e complica o PT (foto: Bocão News) |
As denúncias de desvios
milionários de verba pública da ONG Instituto Brasil para integrantes do PT
feitas pela presidente da entidade, Dalva Sele Paiva, foram classificadas de
levianas e mentirosas pelo deputado federal petista Afonso Florence, e pelo
senador do mesmo partido Walter Pinheiro. Tanto Florence como Pinheiro
rechaçaram relações espúrias com Dalva e a entidade. “É mentira! Repudio e
rechaço veementemente as acusações desta matéria veiculada na revista Veja. O
Ministério Público investigou o caso do Instituto Brasil em 2010, e concluiu
pela inexistência de qualquer ato ilícito a minha pessoa”, declara Afonso
Florence que disse que vai acionar a publicação na Justiça. Pinheiro também classificou como levianas as
declarações da ex-presidente do Instituto Brasil. Segundo o senador, que também
ajuizará a revista, afirmou que a matéria da Veja foi uma interpretação do
repórter publicada fora do contexto e que foi parcialmente reproduzida.
"Em sete campanhas que fiz jamais conheci e tive contato com essa pessoa.
Se ela declara ter relações com o partido ou pessoas próximas, não eram comigo
e, assim, ela não pode promover um monte de injúria com meu nome”, declarou. O
senador ainda afirmou que o Ministério Público da Bahia (MP-BA) já havia
denunciado à Justiça o Instituto e, em nenhum momento do processo, há qualquer
citação dele. Pinheiro também qualificou o fato de o caso vir à tona agora como
factóide eleitoreiro, por conta de aparecer às vésperas das eleições previstas
para daqui a 15 dias.
Processo reativado
Dois anos após a concessão da
liminar que determinou a indisponibilidade de bens do Instituto Brasil –
Preservação Ambiental, da Conbec Engenharia e Serviços e de Dalva Sele Paiva,
Lêda Oliveira de Souza Liana Silvia de Viveiros e Oliveira, Maria Auxiliadora
da Silva Lobão, Valdirene dos Santos Nascimento, Lindoln Marques e Ana Cristina
Valle, o processo que investiga o desvio de R$ 17,9 milhões de construção de
casas populares no interior da Bahia foi reativado na última quinta-feira (18)
na 7ª Vara da Fazenda Pública de Salvador. De acordo com um despacho da juíza
Patricia Cerqueira de Oliveira, os réus citados na liminar concedida em agosto
de 2012 deveriam ser notificados sobre a indisponibilidade de bens no prazo de
48h – encerrado neste sábado (20) – e a medida solicitada pelo Ministério
Público da Bahia (MP-BA) cumprida – apenas a Conbec Engenharia recebeu o teto
de R$ 500 mil para o bloqueio de bens. Dentro da última movimentação do
processo, movido pelo MP-BA, a magistrada registra que o Estado da Bahia
ingressou com uma solicitação de prazo para se manifestar em 11 de setembro de
2012, porém, à época, o processo físico não havia sido localizado. No histórico
do processo, todavia, os autos foram devolvidos ao cartório no mês seguinte e
uma petição de 18 de maio de 2013 retirou-os novamente, necessitando de um
agravo de instrumento para que a documentação fosse devolvida, um ano depois.
Vicente Neto também foi citado |
A emergência do processo pela
revista Veja envolvendo a ONG Instituto Brasil, a Secretaria Estadual de
Desenvolvimento Urbano (Sedur) e nomes do PT baiano, denunciada em 2009 pela
então bancada de oposição na Assembleia Legislativa e classificada como
eleitoreira pelo presidente estadual da sigla, Everaldo Anunciação, é resultado
desse novo prazo estabelecido pela 7ª Vara da Fazenda Pública de Salvador. Às
vésperas de ter bens bloqueados, uma das dirigentes da ONG, Dalva Sele Paiva, trouxe
à tona o suposto esquema de financiamento de campanha – ou caixa 2. A medida,
que ganha contornos delicados a 15 dias das eleições 2014, provoca mudanças nas
estratégias de campanha. Enquanto a oposição vai usar as denúncias como palco
para uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), os governistas tentarão
blindar os aliados. Guardado por dois anos, o processo mexe com muita poeira.
Denúncia eleitoreira
O presidente do PT estadual,
Everaldo Anunciação, classificou a denúncia de desvio de dinheiro público do
Instituto Brasil como eleitoreira e disse que a presidente do instituto, Dalva
Sele Paiva, tem raiva de alguns petistas por não terem resolvido pendências e
irregularidades do contrato. O partido entrará com medidas judiciais contra a
publicação da revista Veja, assim como contra a autora das denúncias. Segundo
Everaldo, os primeiros contatos do Instituto Brasil com o governo da Bahia
aconteceram durante a gestão do ex-governador Paulo Souto, atual candidato ao
governo do estado (DEM). “Foi Paulo Souto quem trouxe este instituto para o governo,
por meio de convênio firmado em 2005 com a Secretaria de Combate à Pobreza”,
afirmou o presidente do PT. Além disso, o governo Wagner teria tomado a
iniciativa de suspender os pagamentos das prestações do contrato firmado entre
a Secretaria de Desenvolvimento Urbano (Sedur) e o instituto. Constatadas as
irregularidades na execução do contrato, o governo teria bloqueado a terceira
prestação, deixando Dalva insatisfeita, segundo informações do partido. “Este
tipo de denúncia apenas deixa claro o desespero que já toma conta dos
adversários, ante o crescimento da candidatura de Rui Costa [Governo] e de Otto
Alencar [Senado]. Mas nós sabemos perfeitamente de onde isto vem, dos nossos
adversários, e o fato de eles terem que recorrer a este expediente apenas
reforça nossa confiança na vitória e o nosso ânimo de trabalhar”, concluiu o
presidente da sigla. É aquela velha história de tentar transformar o
denunciador em algoz e o denunciado em vítima. Nos próximos dias o PT dirá que
Dalva Sele é o próprio diabo.
Informações da revista Veja e do
portal Bahia Notícias.