Carlos Madeiro – do portal UOL
Mortes no campo assustam CPT |
O crescimento do número de mortes
no campo em 2014 está preocupando movimentos sociais, que cobram dos governos
mais celeridade nos processos de desapropriações e investigação dos crimes. Na
semana passada quatro crimes foram registrados, o que geraram uma nota pública
de repúdio da diretoria-executiva nacional da CPT (Comissão Pastoral da Terra).
Segundo a CPT, que é ligada à
Igreja Católica, existe uma "onda de violência no campo, intensificada nos
meses de julho e agosto". Este ano já foram 23 mortes relacionadas a conflitos
do campo. Outros três casos ainda estão sob averiguação e podem aumentar a
conta. Em 2013, foram 29 mortes, número que aponta um crescimento na média
mensal de crimes.
Dos quatro casos recentes, três
aconteceram no Mato Grosso e um ocorreu no Pará. Em julho foram outros sete
assassinatos. O Nordeste foi a região que mais registrou mortes neste ano, com
10 casos. Bahia, Maranhão e Pará têm quatro mortes cada um.
A CPT vê relação no número de
mortes pela falta de desapropriações. Os dados mais atuais do Incra (Instituto
Nacional de Colonização e Reforma Agrária) mostram que o processo de reforma
agrária vem sofrendo forte desaceleração desde 2006, quando 136 mil famílias
foram assentadas. Em 2013, foram 30 mil. No portal do órgão não há dados de
2014.
Para CPT, conflitos nunca
cessaram
A coordenação da CPT diz que os
crimes elevam a tensão no campo e dificultam ainda mais a vida em acampamentos
e regiões em disputa. "Os conflitos nunca cessaram. Mas tem tempo em que
eles se intensificam por questões conjunturais ou por alguma ação pontual.
Vemos o avanço do agronegócio como um dos fatores. O que chama a atenção este
ano é que anos de eleição não têm elevado número, mas em 2014 se acentuou de
maio pra cá. Isso tem relevância", disse diz Isolete Wichinieski, da
coordenação nacional do CPT.
Para Isolete, apenas ações de
policiamento não ajudam a resolver o problema. "O que precisa é que as
pessoas sejam assentadas, as posses sejam regularizadas, que não tenha tanto a
influencia do agronegócio. Proteção da pessoa ameaçada é paliativo.
MT registrou três mortes em
agosto
O Mato Grosso foi o Estado que
registrou três das últimas quatro mortes. No último dia 13 de agosto, a
ex-presidente do Sindicato dos Trabalhadores na Agricultura de União do Sul,
Maria Lúcia do Nascimento, foi morta após sofrer diversas ameaças de um
fazendeiro.
Segundo a CPT, Maria Lúcia teria
sido assassinada porque conseguiu reintegração de posse da área onde morava, no
assentamento Nova Conquista 2, o que gerou revolta do antigo posseiro ilegal
--que tem o nome apontado pelos movimentos sociais. Já no dia 16, o presidente
da Associação de Produtores Rurais Nova União, Josias Paulino de Castro, e sua
mulher Ireni da Silva Castro, foram assassinados, no Distrito de Guariba, em
Colniza. Onze dias antes, Josias havia denunciado as ameaças de morte à
Ouvidoria Agrária Nacional e a outras autoridades do Mato Grosso, durante
audiência em Cuiabá.
"Esse casal lutava pela
regularização fundiária de terras do Estado que foram repassados para
colonizadoras e foram invadidas por fazendeiros. Eles estavam abraçando questão,
e qualquer um que tente lutar é ameaçado", disse o coordenador da CPT no
Mato Grosso, padre Paulo César Santos. As mortes no Mato Grosso, segundo a CPT,
tiveram ligação com a histórica falta de solução à questão fundiária no Estado.
"Existem no Mato Grosso 8
milhões de hectares [cada hectare tem 10.000 m²] de terras da União ocupadas
ilegalmente, que não são regularizadas, e os fazendeiros tomam conta. Aí existe
o conflito, e na relação de forças, o fazendeiro prevalece. Foram mortes
anunciadas, ambos já tinham comunicado que estavam sendo ameaçados",
contou. Após pressão dos movimentos, o governo do Estado informou que designou
uma comissão para investigar as mortes.