Landisvalth Lima
Na TV, Presidenta bate na oposição e aumenta o Bolsa-Família |
A Presidenta da República Dilma
Rousseff entrou em rota de desespero com os resultados das últimas pesquisas e,
principalmente, com a iniciativa do PR de jogar mais lenha na fogueira do “Volta
Lula”. O pronunciamento feito ontem na televisão não teve nada a ver com a
prática de um processo de comunicação de uma chefe de estado para com o povo de
seu país. Foi propaganda eleitoral explícita, para não dizer depoimento em autodefesa.
Não é sem razão que a oposição já botou a boca no mundo. O vice-líder do PSDB
no Senado, Álvaro Dias, afirmou, em entrevista ao jornal Estado de S. Paulo,
que questionará as declarações no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), por
considerar que se tratou de campanha eleitoral antecipada. “A primeira
conclusão é que é necessário acabar com o processo de reeleição no Brasil
porque o abuso é desmedido. O que ela fez hoje foi campanha eleitoral
antecipada e com dinheiro público. É um ritmo de discurso eleitoral com
discurso mentiroso”, acusou.
A coisa foi tão piegas que no pronunciamento
em cadeia nacional de rádio e televisão a petista falou sobre o cenário
econômico nacional, os escândalos ligados a contratos da Petrobras e anunciou
correções na tabela do Imposto de Renda (IR) e no valor do Bolsa Família. Não
teve a coragem de anunciar o percentual de correção do IR, já sabido que é de
apenas 4,5%, porque é vergonhoso, abaixo da inflação e indicativo da
continuação do achatamento dos salários. Caminhamos para o vergonhoso dado de
que quem ganhar dois salários mínimos poderá pagar Imposto de Renda em breve.
Mas a presidente não teve nenhum pudor em anunciar os 10% de aumento do
Bolsa-Família, que é o benefício que mais lhe rende dividendos eleitorais. O
líder do DEM na Câmara, Mendonça Filho, também defende a medida de entrar com
representação. “Vou propor à Executiva do partido que entremos com uma
representação na Procuradoria-Geral Eleitoral (PGE) porque o que ela fez foi um
palanque eleitoral com recurso público. O PT privatizou a fala presidencial. O
horário gratuito é para ser utilizado para pronunciamento de chefe de Estado e
agora está privatizado a favor de um partido. Vamos reestatizar isso. É uma
aberração. Estão apelando porque ela está despencando na popularidade e agora
promete tudo a 60 dias do começo da campanha”, argumentou.
Dilma Rousseff age como se
tivesse lutando contra parte de seu próprio partido. As declarações de José
Sérgio Gabrielli, ex-presidente da Petrobras, e fortemente ligado a Lula,
sugerindo que ela assumisse as responsabilidades na compra da refinaria de
Pasadena, é um indicativo de que Lula quer ser o candidato, ou por ambição
pessoal ou por saber que Dilma não tem as condições hoje de vencer a eleição.
Esta possibilidade da volta do Lula está tirando o sono da presidenta e o seu
pronunciamento nesta quarta-feira (30) na TV indica claramente este desespero. Para
o senador Aécio Neves (PSDB-MG), pré-candidato ao Planalto e um dos principais
adversários de Dilma no pleito de outubro deste ano, o pronunciamento foi “um
dos mais patéticos episódios já vistos na política brasileira” e “representa o
desespero de um governo acossado por sucessivas denúncias de corrupção e uma
presidente da República fragilizada pelo boicote da sua própria base”.
O comportamento de Dilma na
visita feita a Feira de Santana e Camaçari também indicou o desespero do
governador Jaques Wagner, que parece ser mais Dilma que Lula. Não ter indicado
Gabrielli para ser o candidato ao governo do estado pelo PT é um forte
indicador disso. Segundo a jornalista Carol Prado, do Bahia Notícias, Dilma e
Wagner entulharam Rui Costa de elogios durante cerimônias de concessão de
equipamentos a prefeituras, em Feira de Santana, e de entrega de 1,5 mil casas
do programa “Minha Casa, Minha Vida”, em Camaçari, na Região Metropolitana de
Salvador (RMS). Por Dilma, ele chegou a ser definido, em “saudação especial”,
como principal coordenador da relação entre a administração baiana e a União
durante sua atuação como chefe da Casa Cívil de Wagner. Para o pleiteante
petista, no entanto, tudo não passou de mera trivialidade. “Não foi um evento
de campanha, embora tenha sido tudo muito lindo. Estamos aqui para celebrar um
programa habitacional que eu sei que mora no coração de todos nós”, argumentou,
em entrevista ao Bahia Notícias, após a inauguração de um conjunto residencial
popular na RMS.
Apesar do “tudo muito lindo” do
pupilo do governador, na verdade, os eventos passam como boias salva-vidas
jogadas no mar dos desesperados: Dilma em queda nas pesquisas, Rui Costa que
não consegue sequer decolar e Wagner deixando o governo com uma popularidade de
fazer inveja a quem nunca se candidatou a nada. O declínio – não é nenhuma
novidade – está sendo puxado por um cenário econômico desfavorável e escândalos
ligados a contratos da Petrobras. E assim como Dilma, que alardeia não se
preocupar com o “Volta Lula”, o candidato de Jaques Wagner vê com desdém os
problemas enfrentados pelo PT. Ao Bahia Notícias, ele afirmou que não será
prejudicado por eventuais respingos da situação vivida pela estatal e
diretamente ligada ao secretário de Planejamento da Bahia, José Sérgio
Gabrielli, ex-presidente da empresa, e ao próprio governador, que foi membro do
Conselho de Administração e deu parecer favorável à compra suspeita da
refinaria de Pasadena, no Texas (EUA). “Eu não sou candidato a presidente da
Petrobras, e sim a governador da Bahia. São duas coisas completamente
diferentes e acho que não vai haver influência nenhuma”, supôs. Dilma Rousseff
e seus seguidores fazem o possível para passar a ideia de que tudo está bem.
Não está. Reconhecer os erros é o primeiro passo para corrigir os rumos. Caso
contrário, só restará entrar em rota de desespero e esperar pela sorte. Aí começa
a rota para a eminente derrota.