Alexandre Padilha diz que se consultaria com médico reprovado no Revalida. (foto: Fábio Pozzebom/Agência Brasil) |
Não sei por que motivo temos
tantas instituições neste país, se elas não servem para nada. Pelo menos foi
isso que deu a entender o ministro Alexandre Padilha (Saúde). Ele defendeu
nesta sexta-feira (1º) os médicos reprovados no Revalida, exame federal para
reconhecer o diploma de medicina obtido no exterior, e que atuam no Mais
Médicos. A afirmação do ministro desqualifica o Revalida e a instituição
Conselho Federal de Medicina. E isso aconteceu com apenas 48 dos 681 profissionais
que vieram para o país, numa média muito boa de revalidação.
A Folha revelou que um grupo
de 48 profissionais do Mais Médicos foi reprovado no exame. Padilha afirmou que
os profissionais reprovados no Revalida podem fazer os atendimentos do Mais
Médicos. "Eu me consultaria sem nenhum problema", disse. Segundo o
ministro, a atuação no Mais Médicos é diferente das exigências do Revalida.
"Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. Os médicos do Mais
Médicos estão aqui para cuidar da atenção básica. O Revalida é para quem quer
operar, quem quer fazer procedimentos de alta complexidade", disse. Padilha
citou como exemplo a Austrália, cujo programa de atração de médicos, segundo
ele, tem uma proposta similar, onde médicos estrangeiros têm um registro para
trabalhar na atenção básica. Se desejarem fazer outros procedimentos, devem
buscar o registro completo. Padilha considerou o programa um sucesso,
desconversou ao ser perguntado sobre as críticas e disse que tem escutado muito
mais elogios. "O programa recebe muito mais elogios do que críticas.
Quando eu viajo, a população diz que está muito satisfeita."
Em nota, o CFM (Conselho
Federal de Medicina) defendeu a exigência do Revalida no Mais Médicos.
"Oferecer indivíduo com perfil distinto é iludir os moradores das áreas
mais carentes, pois se houver um caso grave esse médico de segunda linha terá dificuldades
em agir, podendo, inclusive, causar até danos maiores", afirmou o
presidente do CFM, Roberto Luiz d'Avila. Os 48 médicos reprovados estão entre
os 681 selecionados para a primeira rodada do programa, criado pelo governo
federal para enviar médicos para atuar na atenção básica prioritariamente no
interior do país. No total, 1.440 candidatos formados no exterior não passaram
para a segunda fase do Revalida. Além do exame, os médicos formados no exterior
podem tentar validar o diploma em universidades que tenham um processo próprio
de validação do documento.
O ministro precisa afastar a
preocupação com o fracasso do programa federal. Ele não vai resolver o problema
do país na área da saúde. O que Padilha precisa fazer é estruturar o país para
receber todos os médicos que foram aprovados no Revalida e não pregar a
aprovação automática de todos. Ele diz que se consultaria com um reprovado, mas
todos sabem que é mentira. O ministro tem seu espaço reservado no Sírio-libanês.
Ele não irá para a fila do SUS aguardar um exame marcado para daqui a três
meses. Ademais, duvidar das instituições nacionais, sendo inclusive um profissional
da própria área, é colocar na cabeça do povo que nada aqui é confiável. O que
não está funcionando adequadamente no país é a sistema de saúde nosso de cada
dia, administrado pelo digníssimo ministro. O CFM tem dado o seu recado
satisfatoriamente. Deixa o populismo de lado, Ministro!