Carlos Madeiro - do UOL, em
Maceió
Seca se prolonga e reservatórios estão secando (foto: Cgdefato) |
O prolongamento da estiagem no
Nordeste deixou a maioria dos reservatórios de água em situação crítica e
ameaça o abastecimento dos moradores de algumas cidades da região nos próximos
meses. A falta de acúmulo de água pelas poucas chuva é apontada por
especialistas como um dos principais problemas a média prazo causados pela seca
que atinge a região desde o final de 2011. A atual estiagem, segundo o governo,
foi responsável pela morte de 4 milhões de animais somente em 2012. A situação
das barragens e açudes de abastecimento é preocupante em pelo menos cinco
Estados, segundo dados colhidos pelo UOL com os institutos de recursos hídricos
e meio ambiente. Ao todo, oito dos nove Estados do Nordeste estão em área do
semiárido -- só o Maranhão está fora-- e sofrem com a seca. "Em 2013, por
exemplo, a região enfrenta a maior seca dos últimos 50 anos, com mais de 1.400
municípios afetados", disse o meteorologista Humberto Barbosa, da Universidade
Federal de Alagoas.
Problemas em cinco Estados
Em Pernambuco, 36 dos 107
reservatórios estão em colapso, com menos de 10% da capacidade. Desses, 21
estão sem nenhuma gota de água e comprometem o abastecimento de. Um deles é o
segundo maior reservatório, o de Entremontes, em Parnamirim, que está
completamente vazio. A Compesa (Companhia Pernambucana de Saneamento) informou
que 25 cidades enfrentam problemas de abastecimento atualmente, sendo 13 delas
em colapso completo. No Ceará a situação é crítica em mais da metade dos
reservatórios. Apenas um dos reservatórios –o do Gavião-- tem mais de 80% da
capacidade, mas que fica localizado próximo ao litoral. Mais de 20 estão com
menos de 10% do volume total. No Sertão de Cratéus, as barragens estão
praticamente secas. Na região, os 10 açudes estão com menos de 15 da
capacidade. Os dois maiores –de Barra Velha e Realejo-- estão com menos de 12%
do volume máximo total. Por conta da falta de água, as cidades de Crateús, Novo
Oriente e Quiterianópolis entraram em uma verdadeira disputa pela água do açude
Flor do Campo. Em julho, as comportas
foram abertas e, mesmo com os protestos, os municípios passaram a dividir a
água. A Cagece (Companhia de Água e
Esgoto do Ceará) afirmou ao UOL que cerca de 20 cidades estão passando por
racionamento por conta da estiagem --18 cidades delas com fonte hídrica principal
muito abaixo da média. No Rio Grande do Norte, os reservatórios estão com menos
de 40% da capacidade total de acumulação de água. Segundo dados desta
sexta-feira (25), da capacidade de 4,9 bilhões de litros, os reservatórios estão
com apenas 1,9 bilhão. A situação é mais crítica em algumas regiões do sertão.
O maior reservatório, o Engenheiro Armando Gonçalves, em Assu, dos 2,4 bilhões,
o volume atual é de 934 mil-- 39% da capacidade. Há casos de reservatórios
vazios, como o de Pilões. A situação também preocupa na Bahia, segundo o
Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos. Com exceção da região do
recôncavo norte, onde as barragens apresentam bons índices, a maioria dos reservatórios
está com situação crítica, abaixo da metade do máximo. A região do São
Francisco é uma das mais afetadas. O maior reservatório, a barragem de
Sobradinho, por exemplo, está operando com 1/3 apenas do volume operacional. Segundo
a Embasa (Empresa Baiana de Saneamento), dos 364 municípios baianos atendidos
pela Embasa, apenas 16 estão em racionamento de água. Na Paraíba, dos 121
reservatórios, 56 estão em situação crítica com menos de 20% da capacidade
total de água. O açude Engenheiro Ávidos, em Cajazeiras, o quarto maior do
Estado, é um dos exemplos: dos 255 milhões de litros de capacidade, o volume
atual está em apenas 34 milhões –13,5% do total. Segundo a Cagepa (Companhia de
Água e Esgotos da Paraíba), oito municípios e quatro distritos estão em colapso
de abastecimento. Além deles, 20 sedes municipais e sete distritos estão
enfrentando racionamento.
Três menos afetados
Em Sergipe, segundo o diretor de
Operações da Deso (Companhia de Saneamento de Sergipe), Silvio Múcio, em
Sergipe, nos 71 municípios onde o abastecimento de água é operado pela
Companhia de Saneamento de Sergipe (Deso) não há problema de desabastecimento. A
empresa é responsável por operar a recém-construída barragem do Poxim, que está
com a capacidade máxima alcançada –o que dá para garantir a segurança hídrica
de cidades da região metropolitana de Aracaju durante todo o ano. Em Alagoas,
das 75 cidades atendidas pela Casal (Companhia de Saneamento de Alagoas), 32
estão em rodízio. Porém, segundo o superintendente de Negócios do Interior,
Antônio Fernando, nenhum enfrenta colapso e boa parte dos que enfrenta
racionamento não foi afetado diretamente pela seca. "Nós já temos vários
casos que as cidades já trabalhavam com rodízio por deficiência de sistemas,
independente da chuva. É o caso do sertão, da bacia leiteira, que têm a água do
São Francisco, mas não têm sistemas de adutoras suficientes", explicou. No
Estado do Piauí, apenas cinco municípios pela Agepisa (Águas e Esgotos do
Piauí) estão com dificuldades no abastecimento. Em Parnaguá, a lagoa onde era
feita a captação está com o nível muito baixo, e a água não pode ser mais utilizada
para abastecimento humano. Já em Cristalândia, o rio Palmeiras secou e não há
mais onde a Agespisa fazer a captação de água. Em Fartura o açude da cidade
secou. Em Alto Longá e Barro Duro, os poços estão com vazões baixas ou secos.