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Neópolis - Cidades do Velho Chico - 31

Realidade e mito

                    Landisvalth Lima
O mercado abandonado é um dos símbolos dos vários desgovernos de Heliópolis
Lembro-me muito bem das coisas inúteis que usam em campanhas eleitorais para afastar a política da coisa que realmente interessa. Lembro ao leitor a campanha de 2008. O prefeito da época perdeu a reeleição por causa do fim do abatimento clandestino de animais. Com a obrigatoriedade do uso dos abatedouros modernos e da carne refrigerada, caíram de pau no prefeito da época, que tinha todas as outras culpas, menos essa. Ele abandonou o povo, distanciou-se das pessoas que o apoiaram, centralizou a administração e estava cercado de secretários bajulares e incompetentes e vivia alimentando vaidades e outros temores de vereadores sem projetos e sem discursos. Sua derrota foi corroborada pelo fim do abate de animais. Não adiantava explicar ao povo que tínhamos que acabar com um dos maiores índices de Tuberculose da Bahia, provocado exatamente pelo abate irregular. Cheguei a ouvir senhores afirmar que perderam o gosto de comer carne. “Quem vai engolir aquela coisa sem gosto?”, falavam condenando a carne refrigerada. Diziam que não tinha gosto! O abate clandestino não foi o único problema a derrubar o prefeito em 2008, mas deu significativa ajuda.
Pois bem. Na eleição passada, a bola da vez foi a falta de um Delegado de Polícia. O Governador da Bahia deu uma mãozinha para ajudar a não reeleger o prefeito anterior. Também, como o outro, não tinha culpa. A nomeação de delegado é da alçada da Secretaria de Segurança Pública. A ajuda involuntária acabou sendo justa. O prefeito cometeu vários pecados e o principal deles foi transformar sua administração num grande balcão de negócios. E olhem que não estou colocando destaque para perseguição política, incompetência, mandonismo, superfaturamento, enganação etc. Mas a questão do delegado não era pecado seu.
No caso de 2008, o prefeito perdeu, o outro assumiu e o povo continua comendo carne, mesmo refrigerada. O índice de tuberculosos vem diminuindo e o Mercado Municipal, construído com o dinheiro público, está lá abandonado, entregue aos ratos e servindo de depósitos para descartados. No caso de 2012, já temos delegado, o prefeito continua fazendo as mesmas coisas que os outros fizeram. Nada mudou. Os meliantes continuam a roubar o povo e nada de novo acontece. Já roubaram o Posto Andrade, a Passarela Calçados, O Realzão. Uma casa no povoado Farmácia já foi roubada duas vezes. Ontem, tentaram roubar a minha casa. Não conseguiram entrar pelo telhado, mas tentaram e deixaram o buraco lá.
Ou seja, nós acreditamos mais fácil no mito que na verdadeira causa do problema. Pode encher Heliópolis de delegados e a violência continuará. A causa é que não temos governo. Não temos administradores para ir a busca de soluções com o estudo detalhado dos fatos. Governar virou ato de acumular documentos e juntar certidões negativas. Governar é dar empregos a filhos, parentes e aderentes. Governar é tirar o máximo que se possa e dividir, muito raramente, com os amigos. Enquanto isso não mudar, algumas verdades vão ficar martelando sobre nossas cabeças. Uma delas é que ou acabamos com o abate clandestino de animais ou doenças como a Tuberculose continuarão a existir. Outra é que a violência é uma patologia social, produto de inúmeros problemas, e não é a nomeação de um delegado que vai resolvê-la. E por fim, não adianta elegermos alcoólatra para cuidar de alambique.
STR de Heliópolis
Este abençoado município tem uma capacidade incrível de ser feliz de novo. Sempre repete a dose quando a coisa não funciona. Digo isso porque falam nos bastidores que Zé Guerra foi buscar a solução para desferir um golpe fatal e voltar a dar as cartas no Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Heliópolis. Importou do Tijuco o ex-vereador Raimundo Rodrigues de Castro, Mundinho do Tijuco, o homem que nunca perdeu uma eleição. Não é verdade, mas isso não importa por aqui. É bom até saber que ambos venceram as duas últimas. Não adiantou nada para Heliópolis, mas eles venceram e o STR de Heliópolis estará bem servido com os dois, não é mesmo vereador Ronaldo?
Ildinho Zangado
Falam por aí que o prefeito está zangado com este blogueiro, pelo que aqui publico. O problema é que ele ainda não aprendeu a ser político. A zanga dele não vai mudar o rumo deste blog, mas bem que ele podia marcar uma entrevista coletiva ou colocar alguém para escrever para os veículos de comunicação. Só vejo Jorge Souza, no Jornal Impacto, falar alguma coisa, e só porque o jornalista faz porque gosta. A verdade é que Ildinho não tem um governo, uma equipe, e não aceita ajuda. Pensa que quem o ajudar vai assaltá-lo. Com alguns “amigos” que ele tem, eu não duvido. A questão é que o prefeito ainda não distinguiu entre os que querem ajudar Heliópolis e os que querem se aproveitar de Heliópolis. Talvez até ele ache que a política é isso mesmo. Eu penso diferente e cheguei a ter uma vaga esperança que Ildinho também era do meu time. E enquanto o prefeito fica zangado com o Landisvalth Blog, as estradas estão intransitáveis, os esgotos correm a céu aberto, há funcionários recebendo 300 reais para sobreviver, há outros desempregados, a violência grassa e outras desgraças nos atacam todos os dias. Fique zangado, não. Vá trabalhar, prefeito!
Uma arara
Uso a expressão no título sem ser um ataque aos animais. É que uma diretora esteve muito zangada com a divulgação de uma compra superfaturada numa escola. ”Ficou uma arara”, falou-me o aluno. Um partidário dos pardais me procurou para tentar abrandar as coisas. Disse ele que o que ela fez comigo já tinha passado e que eu maneirasse. Não consegui ficar para dar a resposta. Dou aqui: eu não tenho pena dos derrotados, dos traídos, dos quebrados. O derrotado já conheceu a vitória; o traído já amou pelo menos uma vez e o quebrado já vislumbrou o conforto e o luxo. Tenho pena é dos que desejam e não têm, sentem dores e não podem comprar um analgésico, têm sede e não há água, sentem fome é não há comida. Tenho pena dos que necessitam. Para os poderosos eu estou vazando a tripa.