Reportagem da Folha mostra que o 'Carandiru
gaúcho' tem população maior que 40% das cidades do Rio Grande do Sul.
FELIPE BÄCHTOLD – da Folha de São
Paulo
Relatos de autoridades e de técnicos sobre as más condições do local constrangeram a gestão do governador Tarso Genro (PT) em 2012
(Foto: Felipe Bächtold/Folhapress)
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Calhas improvisadas por detentos
para conter goteiras do sistema de esgoto dentro das celas sintetizam a
situação de calamidade do Presídio Central de Porto Alegre, um dos maiores do
país.Estado cogita desativação e venda da área de 'Carandiru gaúcho' Para
evitar contato com os resíduos, que vertem pelo teto, os presos armam proteções
de plástico e improvisam tubulações, em alguns casos com garrafas pet, que
jogam o líquido pela janela. A 15 minutos do centro de Porto Alegre, o presídio
ganhou fama de pior do país nos últimos anos após ser alvo da CPI do Sistema
Carcerário.'Carandiru gaúcho' tem situação precária e superlotação
Em janeiro, uma representação
feita à OEA (Organização dos Estados Americanos) pela Associação dos
Magistrados do Estado e outras entidades denunciou o país pela situação da
cadeia, o que obrigará o governo federal a se posicionar sobre o caso. Relatos
de autoridades e de técnicos sobre as más condições do local constrangeram a
gestão do governador Tarso Genro (PT) em 2012. É uma espécie de Carandiru
gaúcho, com uma população maior do que 40% das cidades gaúchas e encravado em
área movimentada da capital. Com capacidade para 2.000 detentos, abriga 4.000.No
Estado, são 29,1 mil presos para 21,5 mil vagas.
SEM BANHEIROS
Na construção, nos anos 50, não
foram projetados banheiros nas celas. A adaptação de sanitários construídos
anos depois foi falha. Parte dos resíduos é despejada no pátio e corre a céu
aberto. Em dezembro, num dia com temperatura de 30°C, a Folha visitou uma ala
do presídio. Um forte odor exalava e, no pátio, presos jogavam futebol a poucos
metros de poças de esgoto. Detentos usavam rodos para limpar um piso ao lado. O
lixo estava por toda a parte na área externa. O preso Felipe Martins, 32, diz
que o pátio inunda quando chove. "Fica aquele cheiro misturado de urina e
fezes. Nós, tudo bem, estamos acostumados. O problema são as visitas sentirem,
as crianças." Uma reforma ampla, sem a retirada dos presos, é inviável.
O Crea (conselho regional de
engenharia) considerou a infraestrutura "irrecuperável", após
inspeção. A parte elétrica tem redes antigas e improvisadas, com risco de
curto-circuito. Uma ala muito precária está vazia após interdição judicial. Em
uma das galerias visitadas pela reportagem, centenas de detentos se amontoam em
um espaço em que a luz natural quase não chega. Há presos que passam a noite no
corredor devido à falta de espaço nas celas. De dia, o volume dos colchões
empilhados pelo chão torna ainda mais difícil circular por ali.Na segurança,
revezam-se 370 homens da Brigada Militar (PM gaúcha). No dia de visita, são
quase mil familiares.Segundo o Conselho Regional de Medicina, o atendimento
médico no presídio é precário. Não há uma equipe para cada 500 presos, mínimo
recomendado, sendo que alguns não conseguem autorização de líderes do pavilhão
para ir ao ambulatório. Há três anos, estimava-se que 9% dos detentos sofriam
de tuberculose.