FABIANO MAISONNAVE – da Folha de
São Paulo
Freia exibe bandeira brasileira em evento que marcou despedida do papa Bento 16 (foto: Alessandro Bianchi/Reuters) |
Visível em quase toda a praça São
Pedro, a bandeira do Brasil presa a um mastro de cerca de 1 metro transformou a
sorridente irmã gaúcha Cecilia Berno numa pequena celebridade --foram dez
entrevistas em pouco mais de uma hora. Mas a demonstração de apoio ao papa
Bento 16 escondia uma avaliação bastante crítica do pontificado.
"O papa tem sido muito duro
com o Brasil, silenciou muitos teólogos brasileiros da Teologia da Libertação
[movimento que prega aproximação com os movimentos sociais e o marxismo]
", disse Berno, que, contrariando orientação de Bento 16, defende a
flexibilização do celibato e a ordenação de mulheres.
Segundo a religiosa, que vive em
Roma, o papa não levou adiante as conclusões do Concílio Vaticano 2º (1962-5),
que preconizava uma abertura maior da Igreja Católica. "A sociedade cobra
desse papa e da igreja essa posição. Jesus foi revolucionário, e a igreja não
pode deixar de ser revolucionária, tem de responder aos anseios mais profundos
do ser humano." O tom crítico de Berno em relação a Bento 16 estava longe
de ser uma exceção entre os religiosos brasileiros --embora todos considerem a
renúncia um ato de humildade.
Mestrando em história em Roma, o
padre paranaense Marcos Roberto dos Santos, 35, afirma que ele foi
excessivamente eurocêntrico. "Embora muito querido, ele entendeu que era
hora de dar mais atenção à Europa. Mas priorizar uns é se esquecer de
outros." Santos afirma que, na Europa, o principal problema é a
"desertificação da fé", enquanto no Brasil os desafios são o avanço do
protestantismo, a corrupção, a violência e a pobreza. Com uma bandana
verde-amarela, a irmã mineira Daniela Brito, 44, também residente em Roma,
disse que o papa teve "grande humildade para dizer 'basta'". Agora,
ela espera um papa que "deixe a igreja mais jovem e coloque a casa em
ordem".
Já dom Geraldo Majella Agnelo, um dos cinco
cardeais brasileiros que participarão do conclave para a escolha do sucessor de
Bento 16, disse que o papa não aparentava um "estado de alma
intranquilo". "Ele tinha de tocar na sua renúncia, mas deu uma visão
de futuro, que há de ser bom para a igreja", afirmou.