Cyonil Borges disse ao MP que
Paulo Vieira conseguido tramitar processo em favor da empresa Tecondi após
acionar Sarney; senador nega
O senador Sarney é citado na Operação Porto Seguro |
Delator do esquema de venda de
pareceres em órgãos federais, o ex-auditor do TCU Cyonil Borges disse que o
presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), teria posto sua influência a favor
dos interesses da organização no Tribunal de Contas da União (TCU). Em denúncia
enviada ao Ministério Público Federal (MPF), ele relatou que o ex-diretor da
Agência Nacional de Águas (ANA) Paulo Vieira teria conseguido alterar a
tramitação de processo em favor da empresa Tecondi após acionar Sarney. O
senador nega.
De acordo com o inquérito da
Operação Porto Seguro, Vieira fazia lobby no TCU para beneficiar a Tecondi em
auditoria que discutia irregularidades em contrato de arrendamento de áreas do
Porto de Santos, no litoral paulista. A Polícia Federal sustenta que o
ex-diretor ofereceu propina de 300 000 reais para que Cyonil elaborasse parecer
favorável à empresa. Em 2007, o ex-auditor se manifestou contra a permanência
da Tecondi no terminal paulista. O processo foi remetido ao gabinete do então
relator, Marcos Vinícius Vilaça, hoje aposentado. Entre 2008 e 2010, Vieira
teria operado para que o TCU determinasse nova inspeção pela Secretaria de
Controle Externo (Secex), em São Paulo. Com isso, haveria a chance de outro
parecer, favorável à empresa, ser elaborado.
Na representação, de 15 de
fevereiro de 2011, Cyonil relata conversas com Vieira, nas quais o ex-diretor
teria citado o senador. "Paulo Vieira disse que pediria a José Sarney, que
indicara, à época, o ministro Vilaça, para reencaminhar o processo à secretaria
de São Paulo e, assim, autorizasse a inspeção." Rejeitado pelo Senado,
Vieira só foi nomeado para a diretoria da ANA após manobra de Sarney. Ao MPF, o
delator contou que o lobby renderia frutos a Vieira, pois os donos da Tecondi o
auxiliariam em campanha a deputado federal.
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Outro lado – O presidente do
Senado, José Sarney (PMDB-AP), negou ingerência no processo do TCU que discute
o arrendamento de áreas do Porto de Santos à Tecondi. Segundo a assessoria do
senador, ele não fez qualquer gestão a respeito e as declarações de Cyonil
Borges são "inverídicas". Em e-mail enviado por sua assessoria, Paulo
Vieira disse: "Nego. Nunca falei com Sarney sobre isso". Segundo ele,
o processo foi encaminhado a São Paulo pelo ministro do TCU José Múcio, no
início de 2010, atendendo a um pedido da Codesp. O ex-diretor informou que, à
época, não era ainda conselheiro da companhia. Múcio disse que não houve
conversa com Sarney ou Paulo Vieira sobre o caso da Tecondi. De acordo com a
assessoria de gabinete do ministro, nenhuma decisão dele e do plenário do
tribunal no processo foi favorável à empresa, apesar do parecer de Cyonil
sugerir o contrário. E, além disso, até a Operação Porto Seguro, não se sabia
que o relatório do auditor era comprado.
Último a saber da Porto Seguro,
Cardozo ficou por um fio
Supreendida pela investigação da
Polícia Federal, Dilma ficou irritada e pensou em demitir seu ministro da
Justiça. VEJA desta semana traz a história completa de Rosemary Noronha e de
como ela se tornou íntima de Lula e de José Dirceu
O ministro José Eduardo Cardozo quase não soube de nada |
A presidente Dilma Rousseff soube
da Operação Porto Seguro pouco depois das 8 da manhã de sexta-feira por um
telefonema de Luís Inácio Adams, advogado-geral da União. Adams havia sido
acordado momentos antes por seu número 2, José Weber Holanda, um dos
investigados. Dilma pediu para localizar o ministro da Justiça, José Eduardo
Cardozo, mas ele não atendia aos telefonemas. Já irritada, a presidente só
conseguiu falar com o ministro duas horas depois, quando soube que ele não
tinha conhecimento de nada.
A operação pegou Cardozo e o
chefe da Polícia Federal, Leandro Daiello, de surpresa, já que foi feita pela
superintendência da Polícia Federal de São Paulo, sem comunicação a Brasília.
Três dias depois, Cardozo não conseguia dizer à chefe com segurança se havia ou
não escutas telefônicas envolvendo Rosemary e o ex-presidente Lula, como chegou
a ser noticiado. Só na manhã de terça-feira o ministro confirmou que não houve
quebra de sigilo nas comunicações de Rose. Dilma fez duras críticas à atuação
do ministro. Chegou a pensar em demiti-lo - desistiu por temer passar a imagem
de que não aceita que a PF investigue seu governo.
Por mais incômoda que possa ter
sido para Lula e para setores do governo, a operação foi conduzida dentro das
normas da PF. Uma mudança na estrutura da autarquia feita na gestão de Tarso
Genro (2007-2010) descentralizou as grandes operações. As superintendências
regionais ganharam competência para promover ações sem avisar Brasília. Sob
Márcio Thomaz Bastos (2003-2007), os trabalhos eram centralizados. O então
diretor do órgão, Paulo Lacerda, tinha um responsável pela inteligência e um
pela atuação. As ações deviam ser autorizadas por um dos dois e sempre saíam de
Brasília - o governo era avisado na véspera. De início, a descentralização foi
considerada positiva. Mas ela veio acompanhada de uma restrição orçamentária
que praticamente engessou a PF. No governo, a Operação Porto Seguro foi
interpretada como um “recado” da PF paulista, que não gosta do gaúcho Daiello
(considerado um interventor e criticado pela rigidez com que comandou a
superintendência paulista entre 2008 e 2010) nem de Cardozo (que deixou a
segurança da Olimpíada e da Copa para as Forças Armadas). Questionado por
emissários do governo, o superintendente da PF em São Paulo, Roberto Troncon,
negou que a operação tenha tido motivação política.
Quem é a mulher que sabe demais
Rose está colocando a República em polvorosa |
Reportagem de VEJA desta semana
mostra que, quando conheceu Lula e José Dirceu, nos anos 80, Rosemary Nóvoa de
Noronha era uma morena de cabelos longos e contornos voluptuosos que,
trabalhando como bancária, passou a frequentar o sindicato da categoria em São
Paulo. Ex-colegas daquele tempo lembram que ela chegou a participar de
plenárias e discussões partidárias, mas nunca se destacou como dirigente de
expressão. Fazia mais sucesso nas festas que aconteciam nas quadras do
sindicato, que ficava ao lado da sede nacional do PT, no centro da cidade. A
proximidade entre as categoria e o partido contribuiu para que ela logo
chamasse a atenção de próceres petistas, como o então deputado José Dirceu, de
quem se aproximou. Ele a contratou como secretária logo depois. Meses mais
tarde, Rose conheceu Lula, então candidato derrotado duas vezes em disputas à
Presidência. A partir daí, embora oficialmente continuasse a trabalhar para
Dirceu, passou a cuidar da agenda de Lula e a pagar suas contas. A proximidade
entre os dois cresceu ao longo dos anos. Quando Lula chegou ao poder, criou um
escritório para a Presidência da República em São Paulo, na esquina da avenida
Paulista com a rua Augusta, e Rose foi imediatamente encaixada na lista de
funcionários. Foi ela a responsável pela reforma do escritório e sua decoração,
que inclui um grande mural do petista vestido com a camisa do Corinthians e
chutando uma bola. Sobre os sofás, almofadas revestidas com reproduções de
fotos do ex-presidente. Logo após a reforma, Rose foi promovida a chefe do
escritório.
Informações do portal da revista
VEJA.