Irmão de Adam contou que atirador
tinha distúrbios psiquiátricos. Mãe do jovem, que também foi morta por ele,
colecionava armas
Denise Chrispim Marin,
correspondente de O Estado de São Paulo
A tragédia vitimou 28 pessoas |
WASHINGTON - Sob o impacto da
tragédia de Newtown, a polícia de Connecticut e a imprensa americana passaram o
sábado tentando recolher informações sobre Adam Lanza, o autor do assassinato
de sua mãe, do massacre de 26 pessoas na escola Sandy Hook e de sua própria
morte. Os indícios colhidos até o final da manhã deste sábado, 15, apontavam
para uma combinação conhecida em outros episódios trágicos nos Estados Unidos -
distúrbio mental e acesso a armas. A polícia apurou que o atirador forçou sua
entrada no prédito, segundo o jornal norte-americano The New York Times.
"Esperamos traçar um panorama completo explicando como e por que",
disse Lt. J. Paul Vance, porta-voz da Polícia de Connecticut sobre as
evidências encontradas no local. Ele iniciou o massacre na casa dele, que
ficava perto da escola, onde matou sua mãe Nancy Lanza com um tiro no rosto,
segundo a polícia. Ele então seguiu até a escola primária Sandy Hook usando o
carro da mãe e usando roupas de combate, armado com pistolas e rifles
semiautomáticos e forçou sua entrada no prédio. Ainda segundo a polícia, Lanza
escolheu as vítimas com uma eficiência brutal. As crianças se esconderam nos
armários, banheiros e em cantos das salas de aula, mas o atirador atirou em
todas elas. Um bedel correu pelos corredores alertando a todos sobre o atirador
e alguém ativou o autofalante da escola, avisando mais pessoas e salvando vidas.
As vítimas já "foram identificadas pelos legistas", mas ainda restam
alguns trâmites para que suas identidades sejam divulgadas, afirmou o tenente
Paul Vance, da polícia estadual de Connecticut, em entrevista coletiva. O
tenente Paul Vance, da polícia estadual de Connecticut, disse que uma vez que
os legistas concluam a parte burocrática de sua tarefa, será divulgada uma
lista oficial com os nomes de todas as mortes, incluindo o atirador.
Família
À polícia, o irmão de Adam, Ryan
Lanza, disse que o irmão tinha distúrbios psiquiátricos, informou uma fonte da
investigação à agência Associated Press. O Washington Post trouxe hoje a
informação de que a mãe de Adam e sua primeira vítima, Nancy, colecionava
armas. O atirador carregava consigo duas pistolas semiautomáticas quando
ingressou na escola, recebido pela própria diretora, Dawn Hochsprung, outra de
suas vítimas. Ele deixara no carro um fuzil e trazia consigo o documento de
identidade do irmão, o contador Ryan, quatro anos mais velho, o que provocou a
confusão inicial sobre a identidade do atirador. De acordo com a imprensa
local, Adam teria se formado em 2010 na Newtown High School. Antigos colegas o
descreveram como um jovem inteligente, mas inquieto e com poucos amigos. Vizinhos
e colegas de Adam na escola recordaram do antigo colega como um menino tímido,
do tipo que não olha nos olhos das pessoas quando fala e de difícil
socialização. Mas fazia parte do clube de tecnologia, tinha especial interesse
em computadores e era reverenciado como o gênio da classe.
Pânico
Adam tinha problemas psicológicos |
Ao Washington Post, o vizinho
Ryan Kraft, de 25 anos, lembrou que Nancy Lanza o deixara várias vezes em sua
casa quando a família saia para jantar fora porque ele brigava com o irmão.
Quando garoto, ele parecia deprimido, birrento, mas não violento, segundo o
vizinho. Não há evidências precisas sobre qual distúrbio Adam sofria. Vários
vizinhos e conhecidos ouvidos pelo New York Times mencionaram ter ele a
Síndrome de Asperger, uma espécie de autismo. Aparentemente, o processo
divórcio de Nancy e Peter Lanza, concluído em 2009, teve impacto na saúde
mental de Adam. Peter é vice-presidente da GE Energy Financial Services e mora
na cidade de Stamford, também em Connecticut, com sua nova família. O irmão
Ryan também deixou o convívio de Adam e Nancy para morar em Hoboken, em Nova
Jersey. No ataque que matou 20 crianças e 7 adultos na escola de Newtown, Adam
atirou em alunos de duas salas. De todas as suas vítimas, apenas uma sobreviveu
e está internada no Hospital de Danbury. Das crianças mortas, 18 morreram na
escola e outras 2 no hospital. O armamento - uma Glock e uma Sig Sauer - na
escola e um fuzil Bushmaster 223 estavam registradas em nome da mãe. Segundo a
polícia de Connecticut, todas as vítimas já foram identificadas, mas seus nomes
não serão divulgados para preservar a privacidade das famílias.
O ataque
A polícia de Newtown recebeu um
chamado de emergência às 9h30 (12h30, no horário de Brasília) da Sandy Hook
Elementary School, onde estudam cerca de 626 crianças e adolescentes, segundo o
tenente da Polícia de Connecticut, J. Paul Vance. Uma equipe da Swat foi
enviada para reforçar a resposta policial. A chegada da polícia permitiu a
retirada da escola das crianças em pânico e desagasalhadas, apesar da temperatura
abaixo de zero. Já do lado de fora, professores tremiam e choravam. Todos
tiveram antes de passar por uma revista. O pânico envolveu os alunos e os
professores e funcionários da escola. Ivonne Cech, uma bibliotecária da Sandy
Hook, disse ter se trancado por 45 minutos em um armário com 18 alunos da
quarta série – todos ao redor de 10 anos de idade – com dois balconistas e um
assistente. "Uma equipe da polícia nos encontrou e nos retirou da
escola", disse a bibliotecária ao The New York Times. Na noite de sexta, a
população da pequena cidade se reuniu nas igrejas locais para rezar pelos
mortos. De acordo com a rede de televisão CNN, a cidade de Newtown registrou
apenas um assassinato nos últimos 10 anos.