Um dos assassinados em assentamento na divisa de Poço Verde com Tobias Barreto. (Foto: Gerliano Brito/SE Notícias) |
É comum na história ver o
alicerce da paz construído com o sangue dos mortos, muitos deles inocentes. O
município de Poço Verde, berço de nascimento do Rio Real, que separa Sergipe e
Bahia, distante 145 km de Aracaju e 355 km de Salvador, está vivendo os seus
mais altos índices de violência de toda sua história. A pacata cidade dos
tempos de João de Oliveira é hoje um município com forte influência comercial
sobre muitas cidades da Bahia, inclusive Heliópolis, Fátima e Ribeira do
Amparo. Mas o fato de estar localizada numa divisa entre estados permite ser
campo fértil para o comércio de drogas e afins. Certo é que a população pediu
providências às autoridades quando assistiu ao assassinato do estudante
Horácio Barreto de Souza, 26, crime ocorrido numa quinta-feira, 16 de agosto
deste ano, em frente ao Colégio Estadual Prof. João de Oliveira. Na semana
anterior, ocorrera também um sequestro. Um morador de um povoado da cidade
teria sido levado por assaltantes e largado em uma estrada porque o carro usado
pelos marginais teria faltado gasolina. A comunidade resolveu agir. Os
estudantes fizeram a Caminhada pela Paz, manifestação contra a violência realizada na sexta-feira, dia 24 de agosto. Moradores e profissionais de vários
segmentos da sociedade aderiram à manifestação passando por várias ruas da
cidade. Além disso, os moradores colheram assinaturas para um abaixo-assinado e
solicitaram ao governador Marcelo Déda e ao Comando Geral da Polícia Militar
para aumentar o efetivo policial no município e adotar medidas que pudessem
minimizar os problemas que a população tem enfrentado em função do aumento da
violência. O crime chocou a comunidade. O estudante foi morto na porta da
escola onde estudava. Dois homens ocupantes de uma motocicleta se aproximaram
da vítima e dispararam vários tiros. A vítima foi socorrida com vida e
morreu no hospital local no mesmo dia.
Justiceiros ou bandidos?
Na manhã de uma quinta-feira, 15 de Novembro, o
adolescente Jeferson Nascimento Santana, de 16 anos, foi baleado no pé no
município de Poço Verde. Como não havia ambulância do Serviço Móvel de Urgência
(Samu), disponível para fazer o transporte, foi acionada uma viatura do Samu de
Simão Dias. O paciente estava sendo acompanhado pela tia e a ambulância foi
abordada, no povoado São José, em Poço Verde, por quatro homens encapuzados que
chegaram num veículo. Eles renderam o motorista, retiraram o paciente e o
executaram com vários tiros. Informações dão conta de que a técnica de
enfermagem correu juntamente com a tia do rapaz assassinado, mas um dos homens
gritou “não precisam correr, porque já foi feito o que a gente queria”.
No dia 31 de outubro, João Leno Santana, 23,
foi encontrado crivado de balas, na tarde da quarta-feira, em uma estrada no
município de Poço Verde. Populares encontraram o corpo por volta das 15h,
estirado numa estrada que dá acesso à barragem do povoado São José. Foram
disparados vários tiros que atingiram a vítima na cabeça e também no tórax,
característica de um crime de execução. Os primeiros levantamentos realizados
pela PM indicam que João Leno Santana tinha envolvimento com o crime na cidade
e estaria chefiando uma suposta quadrilha articulada para praticar roubos e
também com envolvimento com o tráfico de drogas. O seu nome está numa lista de
pessoas que seriam eliminadas. Ele foi o segundo da lista marcado para morrer.
O primeiro foi Jeferson Nascimento. João Leno residia numa comunidade conhecida
como Chique-Chique, na cidade de Poço Verde, e já tinha passagem pela Delegacia
de Polícia, acusado por prática de roubo. Da lista também foram mortos Elvis e
Ney.
A lista negra da morte! |
Mais dois crimes estão associados aos
justiceiros de Poço Verde. No assentamento Canaã, na divisa entre Tobias
Barreto e Poço Verde, dois homens foram assassinados e um saiu ferido. Seus
nomes não conferem com a lista publicada, mas as pessoas insistem em dizer que
os justiceiros resolveram buscar os criminosos em seus esconderijos. Os mortos
foram identificados como Denis Gonçalves Braz de Jesus Rocha, 16 anos,
conhecido como “Denis Potana”, viciado em drogas, e Douglas Braz de Jesus,
ex-presidiário, na época preso por trafico de drogas. Segundo informações da
polícia, ambos aterrorizavam comunidades e tudo leva a crer que são os
principais suspeitos das ondas de assaltos de motocicletas na região. Os
autores dos crimes não foram identificados, só se sabe afirmar que os
assassinos chegaram em um carro branco e efetuaram os disparos. Ainda não se
sabe o paradeiro do homem que saiu ferido, informações dão conta que, após ser
baleado, o mesmo conseguiu fugir.
No povoado de João Grande, município de
Heliópolis, no Estado da Bahia, um rapaz, identificado inicialmente pelo nome
de Gerônimo, com 21 anos de idade, foi executado por 3 homens que usavam
capacetes, no dia 24 de dezembro, véspera de Natal. O crime ocorreu por volta das
16 horas e, segundo alguns moradores, o jovem foi praticamente tirado dos
braços da mãe, levado para o terreiro e executado. Gerônimo era de Poço Verde e
estava passando um período na localidade. O nome dele, como foi informado pela
Delegacia de Polícia de Heliópolis, não aparece na lista. Segundo as
autoridades, ele poderia ser conhecido por algum apelido e sua morte está sim
relacionada aos que estão marcados para morrer em Poço Verde.
O último da lista que morreu foi Mário Barbosa do Nascimento, 23, faleceu após ser atingido por disparos de arma de fogo por volta das 18h da última quinta-feira, 27. Segundo informações do cabo Da Silva, plantonista na delegacia de Poço Verde, “Algumas testemunhas disseram que o viram pouco antes do crime sendo levado para o local amarrado em uma moto. Dois suspeitos estavam fazendo o transporte”, afirma. Mario, que o nome não parece na lista, estava se escondendo na casa do avô na localidade de Tanquinho, também em Heliópolis. Ele foi sequestrado na Bahia e levado para morrer na Barragem.
O último da lista que morreu foi Mário Barbosa do Nascimento, 23, faleceu após ser atingido por disparos de arma de fogo por volta das 18h da última quinta-feira, 27. Segundo informações do cabo Da Silva, plantonista na delegacia de Poço Verde, “Algumas testemunhas disseram que o viram pouco antes do crime sendo levado para o local amarrado em uma moto. Dois suspeitos estavam fazendo o transporte”, afirma. Mario, que o nome não parece na lista, estava se escondendo na casa do avô na localidade de Tanquinho, também em Heliópolis. Ele foi sequestrado na Bahia e levado para morrer na Barragem.
Diante de tantas execuções, Poço
Verde está assombrada. Um professor do Colégio João de Oliveira disse que a
cidade está em paz, mas uma paz ao custo da instituição da barbárie. Tomaram a
Justiça nas próprias mãos e estão executando adolescentes e jovens. Alguns dizem
que são irrecuperáveis, mas quem tentou recuperá-los? Qual a providência do estado
para tentar trazer para o mundo social estes meninos? Se não houve uma ação efetiva,
nada justifica tais arbitrariedades. Além disso, rasgaram a Constituição e
qualquer outro livro ou lei do direito. Todos têm direito a uma segunda chance.
Nenhuma sociedade pode pregar a paz ao custo do sangue sem o referendo do
republicanismo. O argumento maior, entretanto, é inapelável: Poço Verde está em
paz! Será mesmo?