TATIANA FREITAS – da Folha de São
Paulo
O fazendeiro José Edgar de Castro Andrade, 69, proprietário da fazenda Brejinho, posa para foto em sua plantação de soja, no município de PedroAfonso, no norte do Tocantins. (Foto: Apu Gomes/Folha) |
A terra vermelha do cerrado está
mais produtiva do que nunca. Após dobrar a área plantada com soja na última
década, o Mapitoba -nome dado à área entre Maranhão, Piauí, Tocantins e Bahia-
promoverá mais um aumento nesta safra, de 12%. Até o início da década passada
irrelevante para o agronegócio, a região é hoje considerada a terceira
fronteira agrícola brasileira -depois do Sul, onde não há mais espaço para
expansão, e do Centro-Oeste, já consolidado. Com o avanço tecnológico e
investimentos no solo, sementes e irrigação, o clima não é problema para a
região. Na safra passada, o Mapitoba atingiu participação de 8% na produção
nacional de grãos, com a colheita de 12,2 milhões de toneladas. Até 2021, ela
deve chegar a 20 milhões de toneladas, uma alta de 64%, estima o Rabobank,
banco especialista no setor. Além de ganhos de produtividade previstos com
investimentos em novas variedades, fertilizantes e máquinas, a área também deve
crescer. Dois milhões de hectares de terras de boa qualidade ainda estão
disponíveis para o plantio -o equivalente a 70% da área cultivada com soja
nesta safra-, segundo estimativas do mercado. "Abrir terras",
expressão usada pelos produtores para se referir à derrubada da vegetação
nativa e ao preparo do solo para o plantio, é uma constante na região. Com as
chapadas praticamente tomadas por grandes investidores, os produtores agora
buscam terras em áreas onde o preço é mais baixo. "Cada pedaço de terra é
garimpado", diz o agricultor Valdir Zaltron, dono de 6.600 hectares entre
o Tocantins e o Maranhão. No mês passado, ele comprou mais 350 hectares em
Balsas (MA). Nessa cidade, Idone Grolli, dono da fazenda Cajueiro, de sementes
e grãos, também tem plano de expansão. "Pretendemos aumentar a área em 20%
na próxima safra."
TODOS "GAÚCHOS"
Atraídos pela terra barata,
produtores do Paraná e do Rio Grande do Sul - apelidados de gaúchos pelos
locais - começaram a migrar para o Mapitoba nos anos 1980 e 1990. Esse processo
teve início na Bahia, expandiu-se para o Maranhão e depois seguiu para o Piauí
e para o Tocantins, o último Estado do grupo a se desenvolver na agricultura. "Um
alqueirinho no Paraná valia 40 alqueirões aqui", diz o agricultor Moacir
Catabriga, que em 1990 comprou a primeira terra no Tocantins. Além do valor da
terra, há diferença na metragem. Um alqueire no Sul (2,4 hectares) é a metade
de um alqueire negociado no Norte (4,8 hectares), o chamado "alqueirão".
O crescimento mais significativo do Mapitoba ocorreu a partir de 2000. O boom
dos preços das commodities incentivou grandes empresas e fundos de investimento
a investir na região. A produção de soja foi multiplicada por quatro,
estimulando a instalação de processadoras.Bunge, Cargill e Algar têm unidades
no Mapitoba, que reúne 5% da capacidade total de esmagamento do país, segundo o
Rabobank. O agronegócio já representa 30% do PIB dos Estados da região.