Leoa Loura comandava roubo com o
ex-namorado, o atual e até a filha estava envolvida. Com seu “charme”, Jaíra
Fagundes Moreira de Araújo, 39, dobrou e seduziu três criminosos e chefiou uma
quadrilha especializada em roubo, furto e receptação de veículos, com
ramificações em Salvador, Feira de Santana, Juazeiro e nos estados de Sergipe e
Pernambuco.
Bruno Wendel – do CORREIO
Jaíra Fagundes - a sedutora! |
Ela é loira e andava com cabelos
escorridos, maquiagem impecável e batom vermelho-sangue. Os vestidos e
terninhos eram na medida para seus 67 Kg e 1,70m de altura. Com seu “charme”,
Jaíra Fagundes Moreira de Araújo, 39, dobrou e seduziu três criminosos e chefiou
uma quadrilha especializada em roubo, furto e receptação de veículos, com
ramificações em Salvador, Feira de Santana, Juazeiro e nos estados de Sergipe e
Pernambuco. Além de um ex-marido, um ex-namordado e o atual, Jaíra comandava a
própria filha, Jaiara, estudante de Psicologia da Faculdade Regional da Bahia
(Unirb).
A mulher e a filha foram presas
com outras nove pessoas na última quinta-feira. No grupo estava também o
ex-marido, o funcionário do Presídio de Feira de Santana Luiz Cláudio Santos da
Silva e o atual namorado, o assaltante Cleiton Correia Gomes. Eles foram pegos
na Operação Leoa, batizada em homenagem a Jaíra. Luiz Cláudio foi liberado após
constatação de não ter envolvimento com o bando. Ilmar Brito Tavares, um dos
responsáveis pelos roubos dos carros e ex-namorado da loira, trocou tiros com a
polícia na operação e morreu no bairro do Barbalho.
A prisão de Jaíra nasceu e
cresceu durante seus cinco últimos relacionamentos. Natural de Vitória da
Conquista, a loira foi para Minas Gerais aos 20 anos. Casou-se e teve dois
filhos: Jaira e um irmão. Ela e o marido tinham um parque de diversões. O homem
foi assassinado em circunstâncias desconhecidas. Aí ela conheceu Luiz Cláudio,
detido com ela na operação.
A paixão fez Jaíra tatuar o nome
dele no braço. Os dois tiveram uma menina e tentaram reerguer o parque de
diversões, mas o negócio afundou. A família, então, veio para Feira de Santana
e as crises levaram à separação. “Foi nesse período que ela conheceu Ilmar
(Brito Tavares)”, conta o delegado Augusto César Lima Eustáquio Silva, do
Departamento de Crimes Contra o Patrimônio (DCCP), que interrogou Jaíra e Luiz
Cláudio.
Ilmar e Jaíra foram apresentados
em um bar que ambos frequentavam em
Feira de Santana. Amor à primeira vista?
Isso explicaria o fato de Jaíra
tatuar o nome de Ilmar nas costas. O casal se envolveu em vários a assaltos a
veículos. Acabaram presos em 2010. A loira, porém, conseguiu um habeas-corpus 1
ano depois.
Ciúmes
Logo o seu coração foi
preenchido pelo assaltante de banco Hildo de Jesus Souza – morto este ano, em
confronto com a polícia no Tocantins. À época que estavam juntos, o
relacionamento durou seis meses. O pivô da separação foi o atual namorado,
Cleiton Correia Gomes.
Segundo a polícia, entre um
roubo de carro e outro, Jaíra usou a seu favor a experiência que tinha ao longo
dos relacionamentos e a sedução. Segundo a polícia, com um banho de loja, fruto
do dinheiro dos assaltos, ela dobrou Cleiton e outros bandidos que
posteriormente cederam ao seu charme, aceitando trabalhar para ela. De estrategista,
a loira virou líder.
A quadrilha passou a agir em
Salvador e Região Metropolitana desde abril deste ano. Depois de roubados, os
carros eram adulterados, tendo a numeração do chassi, dos vidros e a placa
modificadas. A documentação era
falsificada. Depois, os carros iam para
o interior da Bahia (pode haver alguns em Heliópolis), Sergipe e Pernambuco e eram revendidos por R$ 6,5 mil, em
média.
Em determinado momento, Ilmar
passou a fazer parte do bando – o que despertou os ciúmes de Cleiton. “Afinal,
ela tinha tatuado o nome de Ilmar nas costas e não fez o mesmo com Cleiton”,
conta o delegado Augusto César . Apesar da guerra velada, segundo a polícia,
nenhum dos dois foi ao embate e administravam a situação, pois Jaíra era
“profissional” e fiel a Cleiton.
Vaidade
Roupas da moda, justas, sapatos
de diversos modelos, batom vermelho - seu preferido - e salão de beleza toda
semana. Assim era a vida da líder da quadrilha, que morava com os filhos há
cerca de um mês no apartamento 201 do edifício Bahamas, em Amaralina. Os
vizinhos a descreveram como uma “mulher elegante”. “Apesar de ela pouco falar
com a gente, ninguém nunca suspeitou de nada. Uma mulher de boa aparência,
sempre andava bastante produzida”, contou um morador. Nos últimos dias, ela circulava
num Gol.
Os investigadores do DCCP
disseram que Jaíra foi presa em Juazeiro, quando ia vender um dos carros
roubados. Antes de viajar, ela foi ao salão. “Ela vivia bem-vestida, dia e
noite. As roupas serviram tanto para frequentar shoppings, como para ir a
restaurantes grã-finos”, conta um policial.
Filha universitária assumia
funções na ausência da mãe
Detida na carceragem da
Delegacia de Repressão aos Crimes Contra a Criança e o Adolescente (Dercca),
por ser a única na cidade com cela feminina, a estudante Jaiara Fagundes de
Araújo, 20, não quis falar com a reportagem do CORREIO ontem. “Na ausência da mãe,
era a filha que fazia o levantamento da
quadrilha, buscando placas de carros para serem clonadas”, afirma o delegado
Cleandro Pimenta, diretor do Departamento de Crimes Contra o Patrimônio (DCCP).
Durante a apresentação da
polícia, anteontem, a estudante negou que fizesse parte do esquema. Questionada
sobre a relação dela com Jaíra, ela limitou-se a dizer: “ela é minha mãe”. Em
depoimento à delegada Pilly Dantas, do DCCP, ela repetiu a versão. “Ela é uma
menina bonita, articulada e fala bem”, disse a delegada.
A jovem, que cursava Psicologia
na Faculdade Regional da Bahia (Unirb),
mantinha a pizzaria Veritã, no Nordeste de Amaralina. Em depoimento, ela
relatou que a pizzaria foi comprada com investimentos da mãe e do namorado.
Segundo o delegado Augusto Eustáquio, do DCCP parte do dinheiro oriundo do
crime era investido por Jaíra na pizzaria, onde a quantia era “lavada”.
Ontem, a pizzaria estava
fechada. Além de Jaiara, a loira é mãe de outros dois filhos: uma adolescente
de 16 anos e um jovem de 22 anos, que já foi ouvido pela polícia, mas não teve
o nome e nem o teor do depoimento divulgado.
As investigações também indicam
que a criminosa pagou, à vista, a anuidade do colégio privado frequentado por
outra filha, num bairro da orla. Ela desembolsou R$ 4,5 mil e que pagou por um
ano, uma clínica de reabilitação para o filho que, segundo a polícia, é usuário
de drogas.