GIBA BERGAMIM JR. – da Folha de São Paulo
Femem chega ao Brasil |
Ativista protestam via topless |
De saia até o joelho, meia-calça, salto alto e blazer,
Bruna, 21, analisa processos num escritório em São Paulo, onde faz estágio em
direito. Até o domingo passado, o traje social e o olhar sério a colocavam na
condição de "funcionária padrão". Foi quando imagens dela em plena
avenida Paulista, só de calcinha, com os peitos de fora e as inscrições
"violação, não" no corpo, chegaram aos jornais, sites e canais de TV,
deixando os colegas de trabalho boquiabertos. Bruna Themis (codinome adotado
por ela) é a mais nova integrante do Femen, grupo nascido na Ucrânia e
espalhado pela Europa que tem, desde junho, uma "filial" no Brasil. Numa
espécie de "flash mob", elas tiram a roupa no meio da rua para
denunciar turismo sexual e defender causas como a liberdade para fazer aborto - ativismo conhecido como neofeminismo, no qual se usa o corpo como forma de
protesto. A fundadora do movimento no país, Sara Winter (sobrenome também
fictício), 20, e Bruna andam atarefadas em busca de novas adeptas do movimento.
Cerca de 20 voluntárias de São Paulo, Rio e Minas Gerais estão sendo
entrevistadas. Além do engajamento nas causas, é necessário o principal:
coragem para fazer topless sem se incomodar com olhares repressores. A maioria
das interessadas é jovem, como elas, na casa dos 20. As ativistas do movimento Femen no Brasil, Sara Winter e Bruna
Themis, realizam na avenida Paulista protesto contra proibição do parto em casa.
Rodaram o mundo as cenas de loiras ucranianas bonitonas que tentaram invadir
estádios de futebol durante os jogos da Eurocopa em Kiev. Sara estava no grupo,
a convite de Inna Shevchenko, uma das mais antigas ativistas do Femen --criado
em 2008 por Anna Hutsol. "Foi uma prova de fogo. Fiquei detida quase um
dia inteiro numa delegacia até assinar documentos e ser liberada", conta
Sara. A repressão vista na Europa --lá, as meninas do Femen são treinadas até
para se defender de policiais- não se repetiu domingo no protesto da entidade
no Brasil. Até agora, nenhuma das jovens ganha nada da entidade, mas está
previsto que a partir do mês que vem deve haver uma ajuda de custo de US$ 350
por mês para Sara. "O ideal é montarmos uma loja para a confecção de
camisetas", afirma.
TESTE
Antes de ir à Ucrânia, a jovem teve de mostrar que tinha
coragem de fazer topless. Além de postar uma foto seminua na rede social
Facebook, fez um protesto solitário em São Carlos, no interior paulista, sua
cidade natal. E, é claro, de peito aberto. Já a novata Bruna conseguiu pular as
etapas e foi logo às ruas após ser entrevistada por Sara. "Criei coragem e
fui direto. Tive medo, mas depois foi a minha libertação", diz.