Os professores da rede estadual
de ensino decidiram, em reunião na manhã desta sexta-feira (20), manter a greve
da categoria e não cumprir a determinação judicial para desocupação da
Assembleia Legislativa da Bahia (AL-BA). A proposta foi apresentada pelo
comando do movimento e acatada pela maioria dos docentes que participaram da
assembleia. Após a votação, os grevistas marcharam de volta ao saguão da AL-BA,
onde estão acampados desde o início da paralisação de 101 dias. Após vistoria
nesta quinta (19), o juiz Ruy Eduardo Almeida Britto, da 6ª Vara da Fazenda
Pública, decidiu favoravelmente à reintegração de posse, solicitada pelo
presidente da Casa, Marcelo Nilo (PDT), e determinou que os professores
deixassem as dependências da Casa até as 14h desta sexta. Se o prazo para
desocupação não for cumprido, a força policial será convocada. Hoje os
professores deixaram o saguão da Assembleia aos gritos de “a greve continua, na
Alba ou na rua”. A saída, no entanto, foi apenas temporária e tinha o objetivo
de realizar a assembleia-geral da categoria. Um acordo entre os docentes e o
presidente da Casa, Marcelo Nilo (PDT), prevê que todas as reuniões sejam
realizadas do lado de fora da Casa, para evitar transtornos ao funcionamento do
local. Em entrevista na noite desta quinta (19), o presidente do Sindicato dos
Trabalhadores em Educação do Estado da Bahia (APLB), Rui Oliveira, alegava que
a decisão judicial seria cumprida, mas qualquer anúncio só seria feito após o
tema ser discutido pela categoria. “Nós vamos cumprir a decisão, mas o tema vai
ser colocado na assembleia e a categoria vai avaliar a posição tomada pelo
juiz”, disse. O posicionamento dos grevistas em relação à desocupação do espaço
foi de manter a greve na Bahia e não abandonar as dependências da Assembleia
Legislativa (AL-BA). Os professores voltaram a ocupar o saguão Deputado Nestor
Duarte, onde permanecem acampados, apesar do corte de energia e água. Em meio à
escuridão e ao calor, os grevistas aguardam a chegada da polícia, já que a
Justiça autorizou o uso da força policial, desde que haja “moderação e
cautela”. O espaço não foi desocupado. Segundo o presidente da APLB, Rui
Oliveira, os professores não enfrentarão a polícia. “Nós resolvemos ficar. A
orientação do comando é ficar aqui e, assim que a tropa de choque chegar,
resistir e sair todo mundo com o lápis e um livro na mão. Ninguém vai enfrentar
a polícia”, assegurou, em entrevista ao Bahia Notícias. Até o momento, segundo
o comando de greve, as atividades programadas pela categoria estão mantidas. Na
próxima segunda (23) está prevista reunião das zonais. Na terça (24), uma nova
assembleia deve discutir os rumos do movimento.
Repórter expulso
Irritados com o conteúdo
exposto pela Rede Record na Bahia, sobretudo no programa ancorado pelos
apresentadores Raimundo Varela e Zé Eduardo, o chamado “Bocão”, os professores
grevistas expulsaram o repórter Adelson Carvalho da Assembleia Legislativa, na
tarde desta sexta-feira (20). Os três são acusados pelos docentes de tentar
“macular” a imagem do movimento, a mando do governo do Estado, notadamente no
episódio de acirramento entre uma educadora e uma funcionária da AL-BA. Depois
de toda a confusão, o radialista causou ainda mais revolta quando, após ser
removido do saguão Deputado Nestor Duarte, tentou entrar ao vivo na emissora
para relatar o ocorrido. Centenas de manifestantes surgiram por trás da câmera
e começaram a xingá-lo de “vendido”, “picareta” e outras ofensas. Para evitar
ainda mais tumulto, foi necessária a intermediação de seguranças da Casa para
conduzir o radialista para fora das dependências da Assembleia.
Polícia Militar não fará
desocupação
A desocupação da Assembleia
Legislativa da Bahia não será realizada pela Polícia Militar, informou o
comandante-geral da Corporação, coronel Alfredo Castro, em entrevista ao Bahia
Notícias. Fontes do governo informaram à reportagem que a medida não seria
adotada, justamente pelo temor de que os professores grevistas “desejariam o
confronto” para causar comoção na sociedade. De acordo com o chefe da PM, a
responsabilidade pela negociação será do próprio efetivo da AL-BA. “Os
prepostos da Assembleia estarão negociando para se chegar a um consenso sem
nenhum transtorno. Nós estaremos atentos, mas a orientação é fazer a
desocupação de maneira ordeira e consciente”, pontuou Castro, ao descartar
invasão ou mesmo envio de tropas do Batalhão de Choque para realizar a
operação. Em greve há 101 dias, os docentes já decidiram descumprir a ordem
judicial de deixar o espaço. Segundo o juiz da 6ª Vara da Fazenda Pública, Ruy
Britto, em caso de desobediência, a força policial seria acionada.
Marcelo Nilo quer os
professores fora da ALBA
O presidente da Assembleia
Legislativa da Bahia (AL-BA), Marcelo Nilo, em entrevista coletiva nesta
sexta-feira (20), pediu o cumprimento da decisão de desocupação da Casa pelos
professores grevistas. De acordo com o deputado, foi feito um acordo nesta
quinta (19), logo após a inspeção judicial, entre ele e o comandante do
Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Estado da Bahia (APLB), Rui
Oliveira, na presença do juiz da 6ª Vara da Fazenda Pública, Ruy Britto, que
determinou a reintegração de posse. “Eles disseram que sairiam às 14h.
Inclusive, o presidente [Rui Oliveira] me pediu ontem que voltasse a ligar as
luzes e o ar-condicionado como gesto de que sairiam. Infelizmente, o presidente
da APLB ou é a rainha da Inglaterra, ou não tem palavra ou é muito
intransigente. Eu acredito nas três coisas, porque não é possível, em um estado
de direito, não se cumprir uma ordem judicial”, avaliou. Apesar de o recesso
parlamentar durar até 1º de agosto, ele citou atos agressivos supostamente
protagonizados pelos docentes contra servidores e parlamentares como exemplos de prejuízos ao funcionamento
dos trabalhos para exigir a retirada imediata da categoria das dependências da
AL-BA. “Não passa pela minha cabeça colocar polícia para tirar professor na
marra, como se diz na gíria, mas espero que a Justiça cumpra a determinação. O
que eu quero é que o Poder Legislativo que eu presido seja desocupado”, clamou.
Ao demonstrar desconhecimento da decisão da Polícia Militar de não enviar
tropas ao local, Nilo desconversou sobre a ação de remoção ser conduzida por
prepostos da Assembleia. “Só a polícia é que vai responder”, disse. O
presidente da AL-BA mandou desligar novamente a água e a energia do prédio. Os
professores ocupam o saguão Deputado Nestor Duarte desde o último dia 18 de
abril, uma semana após a greve, que já dura 101 dias, ter começado. Nilo cobrou
da Justiça o cumprimento da reintegração de posse. “Se o Poder Judiciário
disser que quem tem que mandar desocupar é Marcelo Nilo, na marra, eu vou lá e
tiro na marra. Se ele disser que quem tem que tirar são os soldados da Assembleia,
será feito, mas a ordem terá que ser cumprida pelo comando da PM”, pontuou, ao
citar que tanto a Secretaria de Segurança Pública quanto a PM foram notificadas
na decisão do juiz da 6ª Vara da Fazenda Pública, Ruy Britto. O parlamentar
alegou falta de estrutura para conseguir remover os docentes do prédio.
“Primeiro que eu não tenho nem quantidade para mandar agir e segundo que
decisão judicial não se discute. Isso não é papel do Poder Legislativo. O nosso
efetivo é para proteger o patrimônio público”, ponderou. O comandante-geral da
PM, coronel Alfredo Castro, revelou ao BN que não encaminhará policiais à
AL-BA.
Reportagens e fotos de David Mendes, Evilásio Júnior e Patrícia
Conceição do Bahia Notícias.