GRACILIANO ROCHA e FLÁVIA
FOREQUE – da Folha de São Paulo
Com centenas de milhares de
estudantes sem aula há 37 dias, a queda de braço entre o governador da Bahia,
Jaques Wagner (PT), e os professores da rede estadual ganhou um novo capítulo
nesta quinta-feira, mas a greve ainda parece longe do fim.
O governo estadual informou ao
arcebispo de Salvador, dom Murilo Krieger, escolhido pelos professores como
mediador, que suspenderia o corte de ponto e pagaria pelos dias parados desde
que os grevistas encerrassem o movimento e voltassem imediatamente à sala de
aula.
A proposta foi rechaçada com
ironia pelo comando de greve. "Ninguém levou em conta isso, é hilariante o
governo imaginar que entramos em greve para receber os dias parados",
disse o líder grevista Rui Oliveira.
O APLB Sindicato (Sindicato dos
Trabalhadores em Educação da BA) afirma que 85% dos 37 mil professores aderiram
ao movimento. O Estado diz que 630 escolas em 230 municípios estão funcionando
normalmente. A rede estadual da Bahia atende 1,1 milhão de estudantes
matriculados em 1.422 escolas em 417 cidades.
Professores reivindicam um
aumento imediato de 15,7%, que, somado aos 6,5% concedidos no início do ano a
todo o funcionalismo baiano, alcançariam o mesmo percentual do reajuste do piso
nacional da educação (22,2%).
O governo afirma que a
exigência é irreal porque geraria um gasto novo de R$ 412 milhões na folha de
pagamento, fazendo o Estado estourar o limite estabelecido pela Lei de
Responsabilidade Fiscal.
PASSEATA
A greve dos professores é o
segundo enfrentamento com uma categoria numerosa de servidores do governo
Wagner este ano.
Em fevereiro, policiais
militares pararam durante 12 dias --o que gerou uma onda de violência e mortes
que sacudiu a Bahia. Pressionado politicamente às vésperas do Carnaval, a maior
festa popular do Estado, o governo aceitou pagar as gratificações reivindicadas
pelos policiais até 2015.
Amanhã os professores realizam
uma passeata pela Cidade Baixa até a colina da Igreja do Nosso Senhor do
Bonfim, o mesmo trajeto da lavagem do Bonfim, tradicional festa popular realizada
em janeiro na capital baiana.
Professores de 34 universidades
federais entram em greve
Professores de universidades
federais iniciaram movimento de greve nesta quinta-feira para pressionar o
governo a debater o plano de carreira da categoria e melhorias na estrutura de
ensino.
De acordo com o Andes
(Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior), 34
instituições já entraram em greve hoje e outras podem aderir à paralisação após
assembleias, agendadas para a próxima semana.
Universidades federais do
Espírito Santo, Pará, Maranhão, Piauí e Mato Grosso do Sul, por exemplo,
aderiram à greve, afirmou Almir Menezes Filho, diretor do Andes. No início da
semana, o governo editou medida provisória autorizando reajustes salariais,
entre outros benefícios, para quase um milhão de servidores federais ativos,
aposentados e pensionistas - dentre eles, professores universitários.
Os docentes de universidades
federais ganharam reajuste de 4%, percentual abaixo da inflação. "Foi um
acordo emergencial que o governo transformou em medida provisória com a pressão
dos indicativos de greve. Se a discussão da carreira tivesse se desenvolvido,
provavelmente não estaríamos nessa situação", afirmou Menezes.
"Nós defendemos o fim de
classes na carreira, [como] professor auxiliar, assistente, adjunto, associado.
Não tem diferença nenhuma de função [entre elas]", completou.
MEC
Em nota, o Ministério da
Educação destacou que o ministro Aloizio Mercadante "interferiu
diretamente junto a presidenta Dilma Rousseff" para transformar o projeto
de lei que previa o reajuste em medida provisória. A proposta havia sido
encaminhada ao Congresso em agosto do ano passado, mas não avançou no
Legislativo.
"Com relação ao plano de
carreira dos professores e funcionários, a negociação prevê sua aplicação
somente em 2013. Os recursos devem ser definidos na LDO até agosto deste ano, o
que significa que há prazo e prioridade. As negociações com o Ministério do
Planejamento e as representações sindicais seguem abertas", afirma trecho
da nota.