CPI do Cachoeira: Acusada de irregularidades e pagamento de
propina, a construtora Delta, uma das maiores do país, agoniza. Nos bastidores,
seu dono ameaça revelar segredos que comprometeriam políticos e outras grandes
empreiteiras.
Otávio Cabral e Daniel Pereira – de VEJA (veja.abril.com.br)
É absolutamente previsível a explosão que pode emergir de
uma apuração minuciosa envolvendo as relações de uma grande construtora, no
caso a Delta Construções, e seus laços financeiros com políticos influentes. A
empreiteira assumiu o posto de líder entre as fornecedoras da União depois de
contratar como consultor o deputado cassado José Dirceu, petista que responde a
processo no Supremo Tribunal Federal (STF) no papel de "chefe da
organização criminosa" do mensalão. Além disso, consolidou-se como a
principal parceira do Ministério dos Transportes na esteira de uma amizade
entre seu controlador, Fernando Cavendish, e o deputado Valdemar Costa Neto,
réu no mesmo processo do mensalão e mandachuva do PR, partido que comandou um
esquema de cobrança de propina que floresceu na gestão Lula e só foi
desmantelado no ano passado pela presidente Dilma Rousseff. A empreiteira de
Cavendish é dona da maior fatia das obras do Programa de Aceleração do
Crescimento (PAC) e tem contratos avaliados em cerca de 4 bilhões de reais com
23 dos 27 governos estaduais. Todo esse império começou a ruir desde que a
Delta foi pilhada no epicentro do escândalo envolvendo o contraventor Carlos
Cachoeira. Se os segredos de Cachoeira são dinamite pura, os de Cavendish
equivalem a uma bomba atômica. Fala, Cavendish!
Na semana passada, a CPI do Cachoeira aprovou a convocação
de 51 pessoas e 36 quebras de sigilo bancário, fiscal e telefônico. Os números
foram festejados pela cúpula da comissão como prova inconteste da disposição
dos parlamentares para investigar os tentáculos da máfia da jogatina nos
partidos políticos, na seara das empreiteiras e na administração pública. Sob
essas dezenas de votações, no entanto, esconde-se a operação patrocinada pelo
ex-presidente Lula e alguns políticos para impedir que a bomba atômica de
Cavendish seja detonada. A estratégia é enaltecer as convocações e quebras de
sigilo relativas a empresas e personagens já fartamente investigados pela
Polícia Federal. Assim fica mais fácil despistar as manobras para evitar que
Cavendish conte tudo — mas tudo mesmo — o que sabe sobre como obter obras
públicas pagando propinas a pessoas com poder de decisão nos governos.
Investigar a Delta, aliás, foi considerada a tarefa prioritária pelos próprios
delegados da Polícia Federal que prestaram depoimento à CPI. Eles disseram que
desvendar os mecanismos subterrâneos de concessão de obras públicas no Brasil
seria o maior legado da CPI. Fala, Cavendish!
Deflagradas pela Polícia Federal, as operações Vegas e Monte
Carlo revelaram o envolvimento do contraventor Carlos Cachoeira com políticos
como o senador Demóstenes Torres (ex-DEM) e Cláudio Abreu, ex-diretor da Delta
na Região Centro-Oeste. Entre outras atividades, o trio agia para abrir os
cofres dos governos estaduais e federal à empresa. Para tanto, ofereceria
propina em troca de contratos. A PF colheu indícios desse tipo de oferta
criminosa, por exemplo, em Goiás e no Distrito Federal. Foi com base nessa
delimitação geográfica que os petistas defenderam uma investigação sobre a
atuação da empreiteira apenas na Região Centro-Oeste — tese que saiu vitoriosa
na semana passada. "Não há conversa gravada do Cachoeira com o Fernando
Cavendish. A CPI não pode se transformar numa casa de espetáculo", bradou
o deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP). "A generalização beira a uma
devassa", reforçou Paulo Teixeira (PT-SP). Os petistas cumpriram à risca
as ordens dadas por Lula um dia antes, quando ele esteve em Brasília para a
cerimônia de instalação da Comissão da Verdade. A ordem foi calar Cavendish.
Mas o correto é o contrário. Fala, Cavendish!
O ex-presidente sabe do potencial de dano ao PT e a seus
aliados caso Fernando Cavendish conte como a sua Delta conseguia seus contratos
de obras e, em troca, pagava políticos. Numa conversa gravada com ex-sócios,
Cavendish os incentivou a cortar caminho para o sucesso comprando políticos. Na
tabela da corrupção da Delta, um senador, por exemplo, custaria 6 milhões de
reais. A Delta tem obras contratadas por governadores pertencentes aos maiores
partidos do país — PT, PSDB e PMDB. Será que essa onipresença da Delta explica
as razões pelas quais a CPI decidiu não chamar para depor os governadores
Agnelo Queiroz (PT-DF), Marconi Perillo (PSDB-GO) e Sérgio Cabral (PMDB-RJ)? O
deputado Vaccarezza deu a resposta. "A relação do PMDB com o PT vai azedar
na CPI. Mas não se preocupe, você é nosso e nós somos teu", escreveu em
idioma parecido com o português o deputado Vaccarezza numa mensagem de celular
destinada ao governador Sérgio Cabral. Captada pelas câmeras de televisão do
SBT, a mensagem revela de forma inequívoca o grande arranjo para calar o dono
da Delta, amigo íntimo de Cabral. Portanto, é bom repetir a palavra de ordem
que pode salvar a CPI do fracasso. Fala, Cavendish!
Nos bastidores, Cavendish tem falado. E muito. Ele usou interlocutores
de sua confiança para divulgar suas mensagens. Uma delas foi endereçada aos
políticos. Seus soldados espalharam a versão de que a empreiteira destinou
cerca de 100 milhões de reais nos últimos anos para o financiamento de
campanhas eleitorais — e que o dinheiro, obviamente, percorreu o bom e velho
escaninho dos "recursos não contabilizados". Uma informação preciosa
dessas deveria excitar o ânimo investigativo da CPI do Cachoeira. Os
mensageiros de Cavendish também procuraram solidariedade na iniciativa privada.
A arma foi ressaltar que o caixa dois da Delta, que serviu para financiar
campanhas, segue um modelo idêntico ao de outras empreiteiras, inclusive usando
os mesmos parceiros para forjar serviços e notas fiscais frias. A mensagem é:
se atingida de morte, a Delta reagiria alvejando gente graúda. Como o navio
nazista Bismarck, a Delta afundaria atirando. Faria, assim, um bem enorme ao
interesse coletivo, mas seria mortal aos interesses privados. Os mensageiros de
Cavendish têm espalhado que a mesma empresa fornecedora de notas frias da qual
sua construtora se servia abastecia outras duas grandes empreiteiras. São essas
ameaças, somadas à coloração suprapartidária dos contratos firmados, que
azeitam a blindagem da Delta. Como saber se Cavendish está apenas blefando em
uma clássica operação de controle de danos? Levando-o à CPI. Fala, Cavendish!
Desde a eclosão do escândalo, a Delta foi forçada a deixar
as obras do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), encomendadas
pela Petrobras, e da Ferrovia de Integração Oeste-Leste (Fiol), sob
responsabilidade do Ministério dos Transportes. A polêmica sobre o destino da
empreiteira pôs a presidente e o antecessor em rota de colisão pela segunda vez
em menos de dois meses. Lula patrocinou a criação da CPI do Cachoeira ao
considerá-la uma oportunidade de desqualificar instituições que descobriram,
divulgaram e investigaram o esquema do mensalão, como a imprensa, o Ministério
Público, o Judiciário e a oposição. Logo após a abertura da CPI, Fernando Cavendish
passou a negociar a empresa com o grupo J&F, cujos donos eram parceiros
preferenciais do governo Lula. A venda foi orquestrada pelo ex-presidente. O
papel de Henrique Meirelles, presidente do Banco Central nos oito anos de
mandato do petista e atual CEO do J&F, na manobra ainda não está claro.
Meirelles não comenta, mas sabe-se que ele, desde os tempos de BC, não assina
nada que não tenha a chancela de seus advogados particulares.
Vergonha nacional - Collor e o petista Cândido Vaccarezza: constrangimento à imprensa e troca de gentilezas com o governador Sérgio Cabral (foto: Cristiano Mariz) |
O J&F tem 35% de suas ações nas mãos do Banco Nacional
de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Mais que isso. Tomou emprestados
mais de 6 bilhões de reais no banco. É, portanto, uma empresa semiestatal. Por
meio de assessores, a presidente Dilma Rousseff deixou claro que seu governo
não apoia a encampação da Delta pelo grupo J&F. A contrariedade de Dilma
foi explicitada pela decisão das estatais de tirar a Delta de obras do Dnit e
da Petrobras. Dilma determinou à Controladoria-Geral da União (CGU) que declare
a empreiteira inidônea e, portanto, proibida de fechar contratos com a União.
"O governo fará tudo o que estiver a seu alcance para esse negócio não sair",
diz um auxiliar da presidente. Quem conhece Fernando Cavendish mais de perto
garante que ele nem de longe vestiria o traje de homem-bomba. Mas como ter
certeza de que tem potencial explosivo ou apenas quer minimizar os ataques a
ele e a sua empresa? Levando-o à CPI. Vamos lá, coragem. Fala, Cavendish!
O secretário estadual da Copa, Ney Campello, se manifestou a
respeito da greve dos professores baianos e opinou que os docentes deveriam
retornar às salas de aula. De acordo com a coluna Raio Laser, da Tribuna, o
titular disse que, como educador, não poderia permanecer impassível diante dos
problemas que a paralisação traz aos estudantes, mesmo que respeite o movimento
sindical. Campello é do PCdoB, partido que comanda APLB – sindicato responsável
pela coordenação da greve, que já dura quase 40 dias. Na tentativa de convencer
os profissionais a retornarem ao trabalho, o secretário afirmou que há o
compromisso do governo em manter as negociações depois que a paralisação chegar
ao fim e declarou que não é prudente uma “greve até a morte”. “Ninguém ganha
com isso. Nem professores, nem alunos. E o nosso governo tem história de
práticas democráticas e haverá de encontrar uma saída. Mas a hora é do bom
senso e do fim da greve”, disse.