O perfil do eleitor está mudando em todo o país (foto: Acorda Bonita) |
Landisvalth Lima
O que está ocorrendo no país não
é coisa de baderneiro. É uma espécie de grito que estava sufocado na garganta
da classe média brasileira. Essa insatisfação já havia dado sinais no ano
passado em vários lugares. Salvador, Aracaju e outras capitais deram um aviso
ao eleger prefeitos ligados a forças políticas com forte alicerce no passado. O
julgamento do mensalão foi uma espécie de alívio e água regando esperança de um
país melhor. Ocorre que os mensaleiros ainda estão soltos e a passagem
aumentou. Deram mais uma facada no bolso do trabalhador, num país administrado
por outrora defensores dos trabalhadores. Salários perdendo poder de compra,
inflação subindo e notícias de superfaturamento em obras da Copa acabaram por
determinar o estouro da bomba. Dilma está com a reeleição comprometida. Sua
popularidade experimenta uma acentuada queda e até já foi vaiada em plena
abertura da Copa das Confederações. Enquanto escrevo estas linhas, ouço a
decisão de cancelamento do aumento das passagens no Rio de Janeiro e São Paulo.
Creio que isso não diminuirá o montante de manifestações marcadas por todo o
país. O movimento deixou de ser apenas para revogar o aumento das passagens. Em
Aracaju está marcada uma manifestação para esta quinta-feira (20). O povo está
exigindo um país mais justo. Já estava na hora.
Mas e aqui em Heliópolis? É
preciso saber que no ano passado o povo derrubou uma forte estrutura de poder
que tinha como marca a corrupção. O desgoverno do PCdoB em Heliópolis fez o
povo fechar os olhos para a pouca experiência administrativa de Ildinho
Fonseca. Todos apostaram no seu nome, no seu histórico de homem de palavra.
Agora estamos chegando aos 180 dias de governo e a estrutura social é a mesma.
Os vícios são os mesmos. Nossa esperança é que ainda faltam 3 anos e meio e
tudo pode mudar para melhor, mas é preciso que o prefeito tome muito cuidado.
Não estou aqui autorizado a citar nomes, mas fonte segura tem me dito que os
pagamentos da prefeitura estão sendo feitos de forma estranha. Pequenas compras
são pagas com um “desconto” em torno de 20%. E a justificativa é sempre a
mesma: é o imposto. Quando o comerciante é experiente, deixam claro que o valor
é destinado a um certo senhor que está encastelado na prefeitura e na sua
página social no Facebook prega, acreditem, ser a favor do povo e contra a
corrupção. É o mesmo senhor que disse em plena eleição que quem não compra voto
não vence. Corre à boca miúda que lojas estão sendo inauguradas em nome de
laranjas e que até linha de ônibus da área da saúde já tem sociedade com este
mesmo senhor. Todos esses problemas podem não ser do conhecimento do prefeito,
mas já está na hora de ele apertar o botão de controle.
É só o prefeito imaginar que o
poder é passageiro e o povo não está mais com paciência de ouvir coisas do tipo
“vou resolver” e no fim nada acontece. Que sirva de exemplo o caso da
presidente Dilma Rousseff. Sua popularidade bateu níveis inimagináveis. E
agora? O cientista político e professor
da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Fernando Luiz Abrucio avalia que a queda de
oito pontos na avaliação da presidente Dilma Rousseff (PT) registrada na
pesquisa CNI/Ibope divulgada nesta quarta-feira (19) - que passou de 63% em
março para 55% -, sinaliza o início de um novo ciclo político e social no País
com foco na melhora da qualidade de vida da população, especialmente nos
grandes centros. Para ele, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB)
realizou o ciclo de estabilização econômica do País e Luiz Inácio Lula da Silva
(PT), a estabilização social. "Esses ciclos foram bem-sucedidos, mas acho
que há um reclame mais geral hoje em dia para que haja um novo ciclo de melhora
na qualidade de vida da população, especialmente nos grandes centros e regiões
metropolitanas", avaliou Abrucio ao Broadcast, serviço e notícias em tempo
real da Agência Estado. Segundo ele, apesar de a pesquisa ter sido realizada
entre os dias 8 e 11 de junho, antes da erupção de protestos pelo País, o levantamento
já conseguiu captar a sensação de insatisfação da população que levou ao início
desses movimentos e isso tendo a aumentar. "Há vários temas que levaram à
erupção dos problemas, como a questão indígena no Centro-Oeste, a questão dos
portos, a própria tarifa dos transportes, que deu o gatilho aos protestos e a
mobilidade urbana. É como se essas coisas fossem se somando e não houve
respostas à altura", disse.
Será que o prefeito vai esperar o
problema ser criado para resolver depois? É bom pensar no golaço que Neymar fez
contra o México. Só foi possível marcar porque ele previu o lançamento um pouco
antes. Às vezes, o comodismo e a falta de visão política podem levar um homem a
destruir um nome edificado em anos de trabalho. Cuidado, Ildinho. A política
mudou. Não é preciso ser gênio para perceber isso.