JOSÉ ERNESTO CREDENDIO e ANDREZA
MATAIS – da Folha de São Paulo
Randolfe Rodrigues (PSOL) queria convocar governadores |
A CPI do Cachoeira livrou,
nesta quinta-feira (17), governadores e parlamentares da quebra dos sigilos
bancário, fiscal e telefônico e de serem convocados a explicar suas relações
com o empresário Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira.
A empreiteira Delta, apontada
pela Polícia Federal como braço financeiro do esquema, também não terá seus
sigilos quebrados nacionalmente, "por falta de indícios", no
entendimento da maioria da comissão. A CPI livrou ainda da investigação o
presidente licenciado da empreiteira, Fernando Cavendish.
Os deputados e senadores
aprovaram apenas a quebra do sigilo da empresa Delta na região Centro-Oeste,
além dos sigilos de pessoas sem foro privilegiado que assessoravam Cachoeira e
já foram investigadas pela Polícia Federal, conforme antecipou a Folha na
edição de hoje.
A votação foi orquestrada pelo
PT e PMDB, que comandam a CPI, e contou com ajuda da oposição. O relator,
deputado Odair Cunha (PT-MG), sequer colocou em votação os requerimentos acerca
dos governadores e da Delta nacionalmente. Esses requerimentos só devem constar
na pauta da CPI no dia 5 de junho. O deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP) e
Fernando Franceschini (PSDB-PR), da oposição, apoiaram a proposta de adiar a
discussão. "Nós não vamos fazer devassa", afirmou o deputado Cândido
Vaccarezza (PT-SP). "A generalização cheira a devassa", complementou
o deputado Paulo Teixeira (PT-SP).
PIZZA
Conforme a Folha antecipou na
edição de hoje, foi feito um acordão entre caciques do PT, PMDB e PSDB para
poupar os governadores Marconi Perillo (PSDB-GO), Agnelo Queiroz (PT-DF) e
Sérgio Cabral (PMDB-RJ). No pacote dos governistas entrou ainda a preservação
da Delta nacionalmente, que tem obras com o governo federal.
"Reuniu-se um grupo numa
sala e decidiram quem vai morrer. O Rio de Janeiro está enterrado até a alma. O
que vamos dizer?", afirmou a senadora Kátia Abreu (PSD-TO). "Na minha
opinião, estamos convocando os bagrinhos da história. Os importantes estão de
fora", complementou.
"Dá impressão de estarem
selecionando alvos por orientação político-partidária", criticou o senador
Álvaro Dias (PSDB-PR). "É um mau começo desta CPI", disse o senador
Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), um dos poucos a insistir na convocação dos
governadores. "Estamos amarelando", afirmou o senador Pedro Taques
(PDT-MT).
DELTA
O que provocou maior polêmica
foi a decisão do comando da CPI de não quebrar os sigilos da Delta em todo o
país. O relator e parlamentares do PT e PMDB afirmaram que não existem indícios
contra a atuação da empresa em todo o país, o que gerou protestos.
"Estamos passando vergonha
aqui. A Delta recebeu mais de R$ 4 bilhões do governo federal e não vamos
quebrar o sigilo da empresa? Como vamos explicar isso ao Brasil?", afirmou
o deputado Fernando Francischini (PSDB-PR).
"É a CPI do conta-gotas. O
dinheiro do Centro-Oeste vai para a central da empresa", afirmou o líder
do PPS, deputado Rubens Bueno (PR). "Em relação à Delta não existem apenas
indícios, existem provas", disse o senador Álvaro Dias, em referência a
vários diálogos interceptados pela PF que citam a empresa. Apesar das críticas,
a oposição ajudou a aprovar o requerimento de quebra do sigilo apenas da Delta
Centro Oeste.
ACORDÃO
O relator e deputados do PT e
PMDB se esforçaram para negar um acordão para poupar alguns das investigações.
"Não vamos resumir nossos trabalhos em apenas uma reunião", disse
Odair Cunha. "Eu não participei de acordão nenhum. Temos que ter
serenidade", disse o deputado Paulo Teixeira (PT-SP). "Vossa
excelência não consegue convencer a uma criança de três anos que essa Delta não
tem que ter seu sigilo aberto em todo país", rebateu o deputado Silvio
Costa (PTB-AL), em resposta ao relator.
A votação desta quinta-feira
praticamente sepulta a CPI. As investigações devem ficar restritas ao que já
foi apurado pela Polícia Federal sobre os membros do grupo de Cachoeira sem
avançar para os pontos não apurados pela PF, até o momento, por envolverem
políticos, que têm direito ao foro privilegiado. A PF também não investigou a
Delta porque seu trabalho era voltado para Cachoeira.