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Nossa Senhora de Lourdes - Cidades do Velho Chico 21

Morpará - Cidades dos Velho Chico 16

Saindo de Ibotirama e seguindo pela BR 242, depois de 25 kms na direção de Seabra, encontramos novamente com a BA 160, no povoado de São Lourenço, no município de Oliveira dos Brejinhos. Dali até Morpará seriam 63 kms. Sabíamos que o Governo do Estado da Bahia estava asfaltando o trecho até o povoado Quixaba, mas queríamos saber as condições dos outros 30 kms. Para nossa surpresa e alegria geral da suspensão capenga do nosso carro, toda a estrada estava asfaltada. E o asfalto estava novo, construído no ano da eleição de 2022, depois de promessas e juras de inauguração. Restava-nos agora desvendar o percurso, registrando povoações como Mocambo Alto, Capim Raiz e o distrito de Quixaba. Não demorou muito e fomos recebidos pela avenida Rui Barbosa e, ao lado, a Praça Velho Chico. Enquanto desvendamos a cidade, vale contar sua história e formação.

É provável que o primeiro homem não índio a pisar em Morpará foi um vaqueiro em 1812, que andava a procura de gado para levar à fazenda Picada. Encontrou vários índios que pescavam às margens do Rio São Francisco, região era povoada pelos indígenas acroás, na margem esquerda do Rio São Francisco, e pelos indígenas mocoazes, na direita. Mas havia lugar para outras tribos: os Tupiniquins, Xacriabás, Caiapós, Cariris e Aricobés. No local onde o vaqueiro ainda sem nome chegou, muitos anos depois virou ponto de ancoragem dos navios a vapor, daí o surgimento de seu primeiro nome: Porto do Vapor.

A localidade de Morpará tem origem nas fazendas Poço de Gado, Ema e Picadas. Seu primeiro nome foi dado por pescadores aglomerados no Rancho Velho, proveniente dos ranchos feitos e cobertos com palhas de carnaúba, produto natural da região. Mais tarde, surge um nome mais óbvio: Morro do Paramirim, local onde há o encontro dos rios São Francisco e Paramirim.

Em 1891, o fazendeiro Antônio Bittencourt Mariani permitiu glebas e lotes para vender a quem interessasse. Foi aí que chegaram homens para abrir lojas comerciais. O pioneiro foi o Major Benedito Marcelino de Almeida, que teve a oportunidade de receber os militares quando vieram em busca dos revoltosos da Sedição de Juazeiro, confronto ocorrido em 1914 entre as oligarquias cearenses e o Governo Federal. Em 1916, com a chegada dos Brejeiros, que se instalaram comprando peixes, cera de carnaúba, peles e couro de todos os animais, começa então o movimento, com mercadorias despachadas para Juazeiro, Petrolina e para o estado de Sergipe.

O desenvolvimento marcou presença e Morpará recebeu os primeiros serviços públicos, como a instalação de uma agência dos Correios e Telégrafos. Isso permitiu uma melhor comunicação, facilitando mercadorias vindas em lombos de burros de várias localidades da Bahia para serem transportadas pelo Velho Chico. Era sabidamente o melhor porto daquelas bandas do São Francisco. Através dos barcos a vapor, mercadorias saiam dali para o Piauí, Minas Gerais, Maranhão, Goiás e outros estados.

Finalmente Morro de Paramirim deixa de ser povoado e é criado o distrito com a denominação de Morpará, pela lei estadual nº 9251, de 1934, subordinado ao município de Brotas de Macaúbas, atual Brotas. Morpará é uma forma abreviada do nome Morro (Mor) do Paramirim (Pará), que, convenhamos, ficou bem mais bonito. Em 16 de julho de 1962, o município foi criado com parte do território do distrito de Morpará, desmembrado de Brotas de Macaúbas, e com o território do distrito de Quixaba, desmembrado de Oliveira dos Brejinhos, por força de Lei Estadual nº 1.722. 

Hoje, Morpará continua com apenas os seus dois distritos originários e faz limites com Barra, Xique-Xique, Gentio do Ouro, Ipupiara, Brotas, Ibotirama e Oliveira dos Brejinhos. Fica distante de Salvador por 548 km. Sua área total é de 1.731,929 km², abrigando uma população de 7.982, censo de IBGE de 2022, com uma densidade 4,6 hab./km². O rio São Francisco era a principal fonte de economia de Morpará. Como as estradas passaram a ser o caminho mais fecundo do dinheiro, a chegada do asfalto somente em 2022 contribuiu para que a cidade perdesse seu potencial econômico. Por sua beleza e localização, espera-se um novo fluxo de progresso para o município e isso dependerá muito dos seus agentes públicos. A cidade precisa melhorar sua estrutura urbana para receber mais turistas. Fundamental seria asfaltar a BA 160 até o encontro com o trecho que segue para Barra e Xique-Xique. É uma região com várias povoações carentes de um progresso mais acelerado. Para quem segue para Barra, a melhor opção é pegar uma única balsa, localizada a pouco mais de 6 kms de Morpará e sair no povoado Torrinha, com a BA 161 em ótimas condições.