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Carinhanha - Cidades do Velho Chico 22

Jeanny Lins, Dedé Brasil e Fulô de Mandacaru são destaques no domingo do São Pedro de Heliópolis 2023

O São Pedro de Heliópolis 2023 pode se orgulhar de ter um dos domingos mais movimentados da história da realização do evento, apesar dos atrasos. Já era quase noite quando o trio atravessou a Helvécio Pereira de Santana com O Kanalha arrastando uma multidão. Em certa altura, o artista resolveu descer do trio Ideal e, ao lado do prefeito, resolveu abrir corredor no meio da multidão, para delírio dos fâs. O lado bom é que, acreditem, O Kanalha não colocou o seu sistema de letras sacanas no modo máximo. Maneirou deveras. Completou seu show até cantando algumas músicas legais, sem desmerecer sua fama.

A análise mais racional era imaginar que o arrastão roubaria o público do palco principal da festa. Só que o atraso inicial de cerca de 3 horas acabou contribuindo para o aumento do público na Praça de Eventos do São Pedro de Heliópolis. Em alguns momentos o público foi equiparado ao dia anterior. Nem mesmo os vários momentos de chuva impediram que o domingo brilhasse.

A programação da noite foi modificada e começou de forma também com atraso. A primeira banda a se apresentar foi Íkaro Mandes, por volta das 21 horas, que originariamente se apresentaria pela tarde. Seu show teve de tudo, embora tenha ligado no início o modo Sofrência. De extraordinário, distribuiu uísque aos fãs. Em seguida foi a vez da prata da casa: Forrozão Retrô. A banda tem como cronistas a dupla Fernanda Ferraz e Sebastian. A primeira é experiente, afinada e tem bom domínio de palco. Sebastian tem evoluído muito e este ano está mais solto e confiante em tons mais complexos. Fernanda é a mesma cantora de Cariri Sangrento, música pautada no livro homônimo deste redator. Forrozão Retrô está infinitamente melhor que o ano anterior e, graças ao bom som, foi possível perceber o talento de seus músicos.

Ainda não era meia noite quando Jeanny Lins e Dedé Brasil começaram a se apresentar. Os ex-integrantes da banda Forró Maior, considerada a iniciadora da revolução musical em 1993, que levou o forró a outro patamar, continuam encantando o público. Dedé e Jeanny não são apenas cronistas do chamado Forró das Antigas, mas operários da música. Apesar de a mídia transformar 30 anos em coisa velha ou antiga, a dupla está atualizadíssima. Eles não reproduzem as canções. São intérpretes delas e ainda conseguem moldá-las os seus respectivos modos peculiares de execução. Jeanny tem sua identidade na voz única, como algo preso com vontade de se libertar. Dedé, com uma voz comum, consegue elevar a tons inimagináveis, e isso como se não fizesse esforço algum. Além disso, com o atraso de Tayrone, a dupla segurou o público por mais de 3 horas sem desanimar. É o nosso primeiro destaque do dia.

Depois chegou a banda Fulô de Mandacaru, próximo das 3 horas da manhã. O show durou pouco mais de 1 hora e foi tão espetacular que pareceu durar apenas uns 5 minutos. Afinal, tudo que é bom dura pouco. A banda é formada desde 2001 e tem como trio básico Armandinho do Acordeon, Pingo Barros e Tiago Muriê. O início da fama foi em Caruaru – PE e chegou ao grande público após vencer, em 2016, o programa Superstar, da Rede Globo de Televisão. Não se enganem em pensar que é apenas um trio pé de serra. Por traz da banda há o que melhor se pode ter em tecnologia musical. Além disso, há bons músicos e, sempre que possível, as músicas passam por uma nova roupagem, sem perder a sua essência. Deu-se então a fórmula do sucesso. Aqui na nossa região já há um público cativo da banda que faz “O Melhor Forró do Mundo”. E não é exagero. A banda já fez 5 turnês internacionais, levando forró a Portugal, França, Bélgica, Alemanha, Suíça, por exemplo. Seria uma boa opção, caso o prefeito Mendonça aceitasse o conselho, incluir Fulô de Mandacaru na Alvorada do próximo ano. Não tem como não ser o nosso segundo destaque do domingo.

Depois chegou a vez de Tayrone. O cantor romântico fez o que tinha de ser feito e tocou fogo nos corações dos apaixonados, interpretando os seus conhecidos clássicos. Eram por volta das 4 horas da manhã quando a agitação deu lugar à calmaria. Depois das 5 horas foi a vez do também romântico Ronaldo Santos fechar a 34ª edição da Festa de São Pedro de Heliópolis. Em outros tempos, Gilberto Alves levava sua voz até que o último forrozeiro não mais aguentasse em pé. Esse ano também, após 32 edições (ele não participou do 1º São Pedro) não se ouviu a sanfona de Alaelson do Acordeon, nosso sanfoneiro maior. Mas não queremos aqui terminar esta análise com esquecimentos ou injustiças. Não vamos esquecer que tudo é o povo. O São Pedro de Heliópolis 2023 foi uma festa espetacular porque o povo exigiu ter o melhor, mesmo com problemas ocasionados por vícios de longas datas.