Jeanny Lins, Dedé Brasil e Fulô de Mandacaru são destaques no domingo do São Pedro de Heliópolis 2023
O São Pedro de Heliópolis 2023 pode se orgulhar de ter um dos domingos mais movimentados da história da realização do evento, apesar dos atrasos. Já era quase noite quando o trio atravessou a Helvécio Pereira de Santana com O Kanalha arrastando uma multidão. Em certa altura, o artista resolveu descer do trio Ideal e, ao lado do prefeito, resolveu abrir corredor no meio da multidão, para delírio dos fâs. O lado bom é que, acreditem, O Kanalha não colocou o seu sistema de letras sacanas no modo máximo. Maneirou deveras. Completou seu show até cantando algumas músicas legais, sem desmerecer sua fama.
A análise mais racional era imaginar que o arrastão roubaria
o público do palco principal da festa. Só que o atraso inicial de cerca de 3
horas acabou contribuindo para o aumento do público na Praça de Eventos do São
Pedro de Heliópolis. Em alguns momentos o público foi equiparado ao dia
anterior. Nem mesmo os vários momentos de chuva impediram que o domingo
brilhasse.
A programação da noite foi modificada e começou de forma
também com atraso. A primeira banda a se apresentar foi Íkaro Mandes, por volta
das 21 horas, que originariamente se apresentaria pela tarde. Seu show teve de
tudo, embora tenha ligado no início o modo Sofrência. De extraordinário,
distribuiu uísque aos fãs. Em seguida foi a vez da prata da casa: Forrozão
Retrô. A banda tem como cronistas a dupla Fernanda Ferraz e Sebastian. A
primeira é experiente, afinada e tem bom domínio de palco. Sebastian tem
evoluído muito e este ano está mais solto e confiante em tons mais complexos.
Fernanda é a mesma cantora de Cariri Sangrento, música pautada no livro
homônimo deste redator. Forrozão Retrô está infinitamente melhor que o ano
anterior e, graças ao bom som, foi possível perceber o talento de seus músicos.
Ainda não era meia noite quando Jeanny Lins e Dedé Brasil
começaram a se apresentar. Os ex-integrantes da banda Forró Maior, considerada
a iniciadora da revolução musical em 1993, que levou o forró a outro patamar,
continuam encantando o público. Dedé e Jeanny não são apenas cronistas do
chamado Forró das Antigas, mas operários da música. Apesar de a mídia
transformar 30 anos em coisa velha ou antiga, a dupla está atualizadíssima.
Eles não reproduzem as canções. São intérpretes delas e ainda conseguem moldá-las
os seus respectivos modos peculiares de execução. Jeanny tem sua identidade na
voz única, como algo preso com vontade de se libertar. Dedé, com uma voz comum,
consegue elevar a tons inimagináveis, e isso como se não fizesse esforço algum.
Além disso, com o atraso de Tayrone, a dupla segurou o público por mais de 3
horas sem desanimar. É o nosso primeiro destaque do dia.
Depois chegou a banda Fulô de Mandacaru, próximo das 3 horas
da manhã. O show durou pouco mais de 1 hora e foi tão espetacular que pareceu
durar apenas uns 5 minutos. Afinal, tudo que é bom dura pouco. A banda é
formada desde 2001 e tem como trio básico Armandinho do Acordeon, Pingo Barros
e Tiago Muriê. O início da fama foi em Caruaru – PE e chegou ao grande público
após vencer, em 2016, o programa Superstar, da Rede Globo de Televisão. Não se
enganem em pensar que é apenas um trio pé de serra. Por traz da banda há o que
melhor se pode ter em tecnologia musical. Além disso, há bons músicos e, sempre
que possível, as músicas passam por uma nova roupagem, sem perder a sua
essência. Deu-se então a fórmula do sucesso. Aqui na nossa região já há um
público cativo da banda que faz “O Melhor Forró do Mundo”. E não é exagero. A
banda já fez 5 turnês internacionais, levando forró a Portugal, França,
Bélgica, Alemanha, Suíça, por exemplo. Seria uma boa opção, caso o prefeito
Mendonça aceitasse o conselho, incluir Fulô de Mandacaru na Alvorada do próximo
ano. Não tem como não ser o nosso segundo destaque do domingo.
Depois chegou a vez de Tayrone. O cantor romântico fez o que
tinha de ser feito e tocou fogo nos corações dos apaixonados, interpretando os
seus conhecidos clássicos. Eram por volta das 4 horas da manhã quando a
agitação deu lugar à calmaria. Depois das 5 horas foi a vez do também romântico
Ronaldo Santos fechar a 34ª edição da Festa de São Pedro de Heliópolis. Em
outros tempos, Gilberto Alves levava sua voz até que o último forrozeiro não
mais aguentasse em pé. Esse ano também, após 32 edições (ele não participou do
1º São Pedro) não se ouviu a sanfona de Alaelson do Acordeon, nosso sanfoneiro
maior. Mas não queremos aqui terminar esta análise com esquecimentos ou
injustiças. Não vamos esquecer que tudo é o povo. O São Pedro de Heliópolis
2023 foi uma festa espetacular porque o povo exigiu ter o melhor, mesmo com problemas
ocasionados por vícios de longas datas.