A indicação de Aline Peixoto, esposa do ministro Rui Costa, ao TCM teve reprovação do senadro Jaques Wagner. (Foto: Aratu On) |
Política é a arte do coletivo. Todas as vezes que alguém, mesmo um líder renomado, tenta impor suas vontades sobre os demais do seu grupo político uma crise toma conta e provoca sérias fissuras nas relações. Não é mais segredo para ninguém que, até para roubar os cofres públicos, caso este tenha sido o motivo da chegada ao poder, é preciso contar com o olhar aprovativo dos aliados. A indicação da ex-Primeira Dama, Aline Peixoto, para ocupar uma cadeira no TCM - Tribunal de Contas dos Municípios, parece ser mais uma vontade pessoal do ministro Rui Costa que uma indicação coletiva do PT.
O que afirmamos ficou claro quando o senador Jaques Wagner (PT) se posicionou contra a indicação de Aline. Isso acabou mostrando que o Partido dos Trabalhadores da Bahia é cenário de uma briga interna entre o ministro e o senador. E isso já vem ocorrendo desde a indicação de Jerônimo Rodrigues para disputar o cargo de governador. Pior que revelar esta guerra de bastidores, a fissura pode dividir o partido e promover uma derrota de Aline Peixoto, o que seria algo que abalaria de vez as relações entre os dois principais líderes do PT, talvez gerando um rompimento definitivo entre Wagner e Costa.
Todos nós sabemos que o PT baiano sozinho não conseguiria uma eleição tão ampla na Bahia. Tudo se sustenta na imagem de Lula. Os aliados fortes do partido continuam até o dia em que o PT for uma opção real de vitória. Caso fosse ACM o vencedor, os atuais aliados do PT estariam quase todos com o vencedor. Na Bahia o partido pouco importa. Importa é quem vai ganhar ou quem já ganhou. Aqui não há afeição a pessoas, mas ao poder. Rui Costa sabe que ele poderia fazer o melhor governo que pudesse. Um dia, fora do Palácio de Ondina, deixaria de ser visto. Portanto, talvez pensado nisso, vem a indicação de Aline Peixoto. Antes, tentou uma candidatura ao senado, o que lhe daria um certo fôlego, como Wagner hoje tem.
Curiosa é a situação do atual governador. Jerônimo deve a Rui Costa sua eleição. O ex-governador brigou com todos para indicá-lo e foi o vencedor. Muitos petistas não veem isso com bons olhos, mas reconhecem que uma vitória depois de 16 anos do partido no poder, vencendo inclusive um adversário competitivo, foi uma luta que cravou o nome de Rui como a maior liderança do PT na Bahia. Agora, o atual governador precisa apoiar Aline, lutar por sua eleição, mas sem causar fissuras no PT. Não é tarefa fácil.
Ao fim e ao cabo, esse dilema não resolve os problemas da Bahia. O TCM foi criado para ajudar as Câmaras Municipais de Vereadores a fiscalizar as contas públicas dos seus 417 municípios. No papel, a proposta é fantástica. Na prática, é um órgão quase que inútil, que só serve para dar emprego a políticos, como forma de agradecer a eles pelos serviços prestados aos poderosos. E todos nós financiamos esta aberração. E para quem ainda não sabe, os cargos são vitalícios. Portanto, tanto faz eleger Aline Peixoto, Allan ou Marcelo. O tumor absurdo continuará lá, comendo nossos recursos e alimentando a política dos poderosos, muito bem explorada pelo velho ACM e poderosos posteriores.
Falam que o melhor seria Rui Costa recuar e pedir a Aline que retirasse sua candidatura. Depois, o ideal seria escolher um candidato de consenso, que não desagradasse a Wagner ou a Rui. Mas se é para o TCM funcionar como diz os seus documentos balizadores, melhor seria mandar o dois procurarem o que fazer e nomear alguém que possa, de fato, ajudar a organizar as contas. Ah!, mas aí é sonhar demais!