A ferrovia Bahia-Minas terá um percurso de 578 km, ligando Caravelas-Ba a Araçuaí-MG. (Foto: Reprodução) |
Numa reportagem precisa do jornalista Tiago Marques, do portal Agência Sertão, da cidade de Guanambi-Ba, li a interessante notícia da reconstrução da Ferrovia Bahia-Minas, desativada desde 1966, na época da ditadura militar. A desativação mostrou a nossa vocação para o fracasso, mesmo com todas as condições notáveis para progredirmos. Temos riquezas infinitas e muita vontade de fazer as coisas, mas esbarramos na falta de inteligência dos políticos populistas ou valentões.
Estive em Caravelas há algum tempo e a cidade está longe da pujança que tinha quando era o ponto inicial da ferrovia do Extremo-Sul baiano que ligava o Centro-Norte mineiro. Caravelas hoje vive do turismo. Da cidade partem barcos para visitas ao Parque Nacional de Abrolhos. Além dos recifes de corais há espetáculos promovidos pelas baleias Jubarte.
Agora, depois de quase 57 anos após ser desativada, a Ferrovia Bahia-Minas deve ser reconstruída e reativada, dando um novo incremento ao turismo. A decisão da reativação foi publicada no último dia 7 a partir de uma deliberação da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), por meio da diretoria colegiada, autorizando a construção e a exploração do trecho original de Araçuaí, no Vale do Jequitinhonha de Minas, a Caravelas, no Extremo-Sul da Bahia, totalizando 578 quilômetros.
A Porto Caravelas MTC Construção e Administração Portuária é a interessada em reativar a ferrovia. O prazo de concessão definido é de 98 anos. A empresa tem 30 dias para assinar o contrato, sob pena de perda de validade. Claro que o objetivo principal da reativação da Bahia-Minas é o transporte de eucalipto até a fabrica da Suzano, em Mucuri. O Vales do Jequitinhonha e Mucuri e o Norte de Minas possuem grandes áreas de cultivo da árvore, usada na produção de celulose.
Que o eucalipto vai ser o carro-chefe da reativação é mais que sabido, mas também a ferrovia vai ajudar a escoar a produção do Sul Baiano, a exemplo do cacau e outras frutas como melão e melancia, exportados para a Europa pelo Sudeste do país. Outro produto que pode ser transportado pela ferrovia é o lítio. Atualmente, a Sigma Lithium, da boutique A10 Investimentos, investe pesado na construção de uma planta de extração entre os municípios de Araçuaí e Itinga, no Vale do Jequitinhonha, para produzir lítio de alta pureza, usado na produção de baterias. A expectativa é chegar à produção de 220 mil toneladas por ano de concentrado de lítio. O produto iria até Caravelas e de lá seguiria para Ilhéus, de onde pode ser exportado.
Estive em Helvécia, distrito de Nova Viçosa, e lá ainda está preservado o prédio da estação do trem da Minas-Bahia. Quase toda a infraestrutura está sendo mantida pela prefeitura local e ainda hoje há um certo saudosismo da época do intenso movimento. A desativação desolou estas localidades e os relatos colhidos durante a reportagem inspiraram a composição da canção, lançada por Milton em 1975. Em 2015, o Jornal Estado de Minas fez uma reportagem sobre os 50 anos de desativação da ferrovia. Repórteres refizeram todo o trajeto e mostram o cenário de abandona da Bahia-Minas.
Quando visitei Prado, Caravelas e outras cidades do Extremo-Sul da Bahia, vi um povo tentando sobreviver ao esquecimento promovido pelos militares. Felizmente o eucalipto virou moeda lucrativa. Mesmo assim, hoje há uma economia diversifica na região, com o turismo como riqueza imbatível. Veja a seguir o vídeo produzido quando por lá estivemos.