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Carinhanha - Cidades do Velho Chico 22

BA 084: A rodovia da desigualdade. Ribeira do Amparo a Heliópolis

    Saindo de Ribeira do Amparo, seguimos pela BA 084 com destino à cidade de Heliópolis. Percorremos mais de 50 quilômetros de uma estrada de barro batido. Inicialmente, enfrentamos os bancos de areia e buracos até chegar ao distrito de Barrocas, onde a estrada deixa de margear o Riacho da Ribeira. A história de Barrocas está guardada na memória de seu povo até o dia que alguém resolva escrevê-la. A região era habitada por índios até a chegada dos padres e desbravadores fazendeiros. Uma coisa ficou cravada: o apego ao artesanato e ao feitio de redes, feitas ainda dentro do estilo dos antepassados, no uso do tear vertical, ou grade de madeira. A tecelã fica sentada no chão e usa o pente para bater os fios da trama, criando um número variado de padrões geométricos ligados a seres da natureza. Hoje, abraçando o modismo, Barrocas convive com os paredões de sons em bares, única forma de diversão aos domingos e em dias de feira livre. O povoado fica distante 20 quilômetros da sede de Ribeira do Amparo.

Aproximadamente 10 quilômetros depois de Barrocas, surge o maior distrito de Ribeira do Amparo: Raspador. A localização do povoado é valiosa e estratégica. Por ele passam duas rodovias. Além da BA 084, que desde a sede já conta como estadualizada, a localidade é servida pela BA 394. Esta rodovia, ainda só projetada, sai da divisa com Sergipe, no povoado Rio Real, segue pela Baixa Grande e vai se encontrar com a BA 084 no Raspador. São apenas 6 quilômetros que separam o povoado do Rio Real, na divisa, e 18 quilômetros da sede da cidade de Poço Verde, em Sergipe. Raspador está distante 30 quilômetros da Ribeira do Amparo, mas apenas a 17 de Heliópolis. A distância da sede do município e as condições da BA 084 fazem com que muitos jovens procurem Poço Verde ou Heliópolis para estudos do ensino médio. É bom que se diga que o povoado fica na divisa entre Ribeira do Amparo e Heliópolis. O açude do povoado e uma parte urbana do distrito estão em território de Heliópolis. A notícia boa é o anúncio feito pelo governador Rui Costa do asfaltamento do trecho entre Ribeira do Amparo e Raspador. Caso seja consolidada a promessa, o segundo trecho da rodovia sem asfalto ficará reduzido ao percurso entre Raspador e Heliópolis.

Os 17 quilômetros até Heliópolis estão do mesmo jeito, desde a época em que era prefeito da Ribeira José Dantas de Souza – o Nozinho, em seu terceiro mandato. Vez em quando, um prefeito ou outro coloca um cascalho, manda passar uma niveladora. Aí vem a chuva e a lama toma conta ou a água invade as estrada, cortada por vários riachos. A BA 084 não é estadualizada neste trecho e sua manutenção depende dos recursos do município de Heliópolis. Sete quilômetros depois de Raspador, chegamos ao povoado Riacho, onde a BA 394 se separa da BA 084. Dali, a 394 segue para o povoado Tanque Novo, ainda em Heliópolis, Feira da Serra, já em Ribeira do Pombal, seguindo até a BR 110, na sede daquele município. Já a BA 084 segue para o povoado Trapalha e chega até Heliópolis, se encontrando com a BA 393.

A construção da história de um povo nasce de forma oral e se consolida de forma documental. A história de Heliópolis é controvertida porque o oral não bate com o documental. O relato de que o primeiro nome era Pau Comprido só encontra referências na oralidade. “Seu” Pequeno, pai do cronista da banda Paixão Ardente, costuma dizer que Heliópolis nasceu por uma mulher. Ele se referia à Maria de Marcionílio, dona do segundo prédio de alvenaria construído na cidade, levantado onde hoje está a Prefeitura Municipal de Heliópolis, na praça José Dantas de Souza. Apesar de a Igreja ter sido inaugurada em 1911, o local não passava de um aglomerado de fazendas. O templo foi construído por Padre Mendonça. “Seu” José Pequeno, ou José Cardoso Bispo, afirma que ao lado da casa de Maria de Marcionílio havia mais quatro casas, dos moradores Felino Daltro, Juca de Anselmo, Isaías e Ezequiel. Isto em meados dos anos 40, ele ainda molecote, quando trazia gravetos para dona Maria de Marcionílio em troca de umas moedas.

Nesse época, Heliópolis já era Heliópolis. Antes, em 1931, a povoação passou a ser distrito, com a denominação de Novo Amparo, pelo decreto estadual nº 7237, de 29 de janeiro de 1931, subordinado ao município de Cipó. Foi o decreto-lei estadual nº 11089, de 30 de novembro de 1938, que Novo Amparo passou a ser denominado de Heliópolis. Nesta época não havia mais o pé de cajueiro enorme, onde João Umburana fazia cortes de carne para vender nos dias de sábado, que, segundo fontes confirmadas, seria a origem da sua feira livre, muito antes da construção da igreja ou da construção da igreja ou do restaurante de Maria de Marcionílio.

Mas o crescimento da povoação de Heliópolis se deu por obra e graça do Açude da Pindorama. Em 1952, Agenor Brito era o prefeito de Ribeira do Amparo, ligado ao governador da Bahia, Regis Pacheco. Eles inauguram uma barragem no lugar onde antes eram dois tanques. Tempos depois veio a grande trovoada e a vida das pessoas melhorou com a quantidade de água armazenada. Muitas passaram a viver na cidade e Heliópolis cresceu e ultrapassou a população de Ribeira do Amparo, ambos distritos de Cipó. Pela lei estadual nº 1027, de 14 de agosto de 1958, o distrito deixa de pertencer ao município de Cipó para ser anexado ao novo município de Ribeira do Amparo. Em 11 de abril de 1985, Heliópolis é emancipada de Ribeira do Amparo e segue vida própria.

Nas eleições de 2020, Heliópolis elegeu para Prefeito o pecuarista José Mendonça Dantas (PL). Foi sua segunda tentativa de ocupar a cadeira mais cobiçada do município. Depois de perder para Ildefonso Andrade Fonseca, venceu Thiago Andrade (PSD), obtendo 5.181 votos - 52,34% dos votos. Thiago Andrade obteve 4.717 votos – ou 47,66% do total de votos. Além de vencer, José Mendonça fez a maioria da Câmara Municipal, com os partidos PL e MDB. A composição final do Legislativo Municipal para os anos de 2021 a 2024 ficou assim: 1 - Doriedson da Garagem (PL) – 1.153 votos, 2 – Claudivan Alves (MDB) – 943 votos, 3 – Giomar do Laboratório (PL) – 882 votos, 4 – Maria de Renilson (PSD) – 796 votos, 5 – Ana Dalva (PSD) - 665 votos, 6 – Professor Igor(PL) – 625 votos, 7 – Van da Barreira (PSD) – 600 votos, 8 – Raul de Ioiô (PL) 570 votos e 9 – Valdelício de Gabriel (PSD) – 513 votos.

Da emancipação para cá, seu crescimento foi considerável quando foi ligada pelo asfalto aos grande centro urbanos, a partir da BA 393, hoje em estado deplorável mas com obras de recuperação já aprovadas. Mas a integração com a região seria incontestavelmente melhorada com o asfaltamento da BA 084, que liga o município a Ribeira do Amparo e ao município de Fátima. Neste sertão da Bahia, as melhoras chegam devagar, quase a conta-gotas, regradas por campanhas eleitorais. Tudo é diminuto, contado. Agora foi conseguida a recuperação da BA 393. Nas eleições de 2026 poderemos conseguir o asfaltamento da BA 084. Assim caminhamos devagar e sempre, sem desistirmos da construção de uma vida sempre melhor. Hoje, Heliópolis e Raspador são conhecidos mundialmente, de onde brotaram dois barões, o Felipe e o Rodrigo. Com o ritmo da Pisadinha, rapidamente chegamos aos mais distantes rincões do planeta, bem mais rápido que sair de Heliópolis e ir para a Ribeira pela BA 084.

Obs. Esta é a parte escrita do último vídeo publicado sobre a BA 084.