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Carinhanha - Cidades do Velho Chico 22

BA 084: Heliópolis, Capim Duro e Fátima

Dando sequência a esta série sobre a BA 084, a rodovia da desigualdade, saímos da cidade de Heliópolis pela BA 393, seguindo em direção ao estado de Sergipe, agora sendo finalmente revitalizada pelo governo do estado. Cerca de três quilômetros depois, vira-se à esquerda e aqui recomeça a BA 084, trecho também sem a estadualização. São cerca de 13 quilômetros de estrada no cascalho bruto e outros de areia ou barro batido. Pouco mais de dois quilômetros após deixarmos a BA 393, chegamos ao povoado Capim Duro, povoação que ainda não tem sua história escrita, mas que já fabula no meu primeiro romance – A mulher do pé de cabra – como o local onde o protagonista, o jornalista Marcelo Arruda, encontra a mulher que vai mudar completamente a sua vida. O povoado tem a Escola Sagrada Família, de ensino fundamental, posto médico, a Igreja de Nossa Senhora das Graças para confortar os fiéis e certa infraestrutura. Falta, lógico, o asfalto da BA 084.

Do povoado Capim Duro à cidade de Fátima são dez quilômetros de uma região bem povoada, passando pelas localidades de Gruê e do Alto dos Nunes. A estrada sofre sempre intervenções da Prefeitura Municipal de Fátima para que o transeunte se sinta o mais confortável possível, o que, em alguns trechos, é obra de missão quase impossível. Na chegada, no trecho alto da rodovia é possível ver a imensidão da sede do município. Fátima se estende por 359,4 km², conta hoje com cerca de 18 mil habitantes e faz fronteira com os municípios de Cícero Dantas, Adustina, Heliópolis, Antas, Fátima e Poço Verde, este no Estado de Sergipe. Está numa altitude de 284 metros e fica a 350 km de Salvador.   

O município foi emancipado em 1º de Abril de 1985. Antes da independência teve vários nomes: Vila de Fátima, Monte Alverne, Mocó e Feirinha. A distância para o município mãe, Cícero Dantas, é de 18 quilômetros, pela BA 220. Por esta mesma rodovia, Fátima tem ligação asfáltica com Paripiranga. Por cerca de 13 quilômetros, a BA 084 e a BA 220 se irmanam em direção a Sergipe. Depois disso, recomeça a BA 084 na direção do município de Adustina, assunto do nosso próximo episódio.

Mas a história de Fátima é cheia de muitas curiosidades. Muitas delas serão retratadas num livro que está sendo publicado pelo professor Moisés Reis. Enquanto a obra fica pronta, vale dizer que o povoamento da região se deve à criação de gado bovino. A chegada do vaqueiro encontra a etnia kiriri e alguns negros. Vestígios de cemitérios indígenas, encontrados em Paripiranga e na cidade de Cícero Dantas, quando da construção do estádio municipal daquela cidade, provam isso. Artefatos encontrados na localidade fatimense da Lagoa da Volta indicam que os colonos expulsaram os Kiriris para a região de Banzaê.

A plantação de cana-de-açúcar e a saturação das terras litorâneas ajudaram a criação de gado cada vez mais no interior do Brasil, no início do século XVIII. O curso dos rios e riachos ajudavam bastante. Do São Francisco foram em direção a outros como Vaza-Barris e Itapicuru. Daí foram a busca de rios menores como o Real e o do Peixe. Pastagens naturais interioranas viravam ouro. Suas descobertas eram garantias de formação de fazendas e povoações. Há indícios do surgimento de Fátima na localidade da Tabua, onde há um riacho do mesmo nome. É o mais antigo povoado de Fátima, com mais de 100 anos de história, mas foi uma feira no caminho dos tropeiros para Cícero Dantas e Sergipe que a maior povoação se formou e onde está hoje a sede do município.

O nome Fátima foi colocado por causa de um padre chamado Renato Galvão, devoto de Nossa Senhora de Fátima. Curioso é que o padroeiro do município é São Francisco de Assis, por influência de duas senhoras cultas: Isaura Borges e Nenê Veríssimo, difusoras da história do santo na cidade. O nome que mais aparece na luta pela emancipação da cidade é o de João Maria de Oliveira, que foi inclusive o seu primeiro prefeito. Mas não foi uma luita fácil. Havia um grupo que não desejava separar a vila da cidade de Cícero Dantas, mas o vereador João Maria conseguiu a vitória. Além de ser o seu primeiro administrador, João Maria virou líder político e elegeu seu sucessor, Osvaldo Ribeiro, retornando à prefeitura novamente em 1993 até 1996. Governaram ainda o município Eduardo Pires, de 1997 a 2000; Manoel Missias Vieira, de 2001 a 2008 e José Ildefonso, de 2009 a 2016. Em 2017, volta a administrar o Manoel Missias, conhecido por Sorria. Nas eleições de 2020 ele concorreria pela segunda vez contra o ex-vereador Fábio Araújo, conhecido por Binho de Alfredo (PT). Como teria sérios problemas para confirmar a candidatura, e também por enfrentar sérios problemas de saúde, Sorria resolveu se afastar de uma estapafúrdia derrota que se avizinhava. Preferiu indicar o vereador Nego de Pretinho. Isso não evitou a estrondosa derrota. De cada 4 votos, 3 foram para Binho e 1 para Nego de Pretinho. Foi a eleição mais folgada que se tem notícia na história de Fátima. Binho de Alfredo obteve 8.841 votos, contra 3.213 votos do adversário.

A Câmara Municipal de Fátima foi formada na eleição de 2020 pelos seguintes vereadores: 1 – Pedro Ivo de Pedro de Jovita (PSB) – 1.028 votos; 2 – Rodrigo de Lourival (PT) – 964 votos; 3 – Sócrates (PT) – 912 votos; 4 – Odilon do Capim Duro (PT) – 854 votos; 5 – Nobinho Agente de Saúde (PT) – 771 votos; 6 – Lourival de Jacó (PT) – 759 votos; 7 – Bel (PT) – 677 votos; 8 - Nerivam (PSB) – 589 votos; 9 – Adailton de Ita (PDT) – 521 votos; 10 – Zezinho de Joaquim de Zezinho (PSB) – 487 votos; e 11 – Almir da Gitirana (PT) – 486 votos.

A nova administração tem conseguido obras significativas para o município. Os números falam algo em torno de 50 milhões em recursos. Só a construção de um colégio de ensino médio integral ultrapassa os 16 milhões. A obra está localizada ao lado do estádio de futebol, na BA 220, saída para Belém de Fátima. Se a atual administração não cair nos erros de algumas anteriores, onde até agentes públicos foram parar na cadeia e outros respondem a mais de duas dezenas de processos, certamente Fátima passará para um novo ciclo, recheado de progresso e bem-estar social. Daí que se torna indispensável o asfaltamento da BA 084. São apenas 13 quilômetros que precisam ser estadualizados e pavimentados, coisa que só o próximo governador, seja ele quem for, poderá garantir para o município.

No próximo episódio: A BA 084 e o município de Adustina.

Veja o vídeo: