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Ádria, o último adeus!

A BA 084, Cipó e o Grande Hotel

Saindo do município de Nova Soure, pela BR 110, seguimos para o município de Cipó, distante cerca de 16 quilômetros. Neste trecho, a BA 084 se aproveita das boas condições da sua irmã federal para seguir sem maiores problemas. Só depois de Cipó é que a BA 084 volta a ter trajetória solo, seguindo para o município de Ribeira do Amparo. Antes porém, vamos conhecer um pouco da história do município de Cipó.

O nome da localidade originou-se da existência de um cipoal com uma fonte às margens do rio Itapicuru, que corta a cidade quase que ao meio. No ano de 1730, o padre Antônio Monteiro Freire, donatário de uma sesmaria no sertão do Itapicuru de Cima, dirigiu uma representação ao Vice-Rei do Brasil a respeito da utilização das águas termais da região. Mas foi somente em 1829 que o Governo da Província mandou construir, pelo Capitão-mor João Dantas, um estabelecimento de banhos nas fontes da Missão da Saúde, a um quilômetro da Vila de Itapicuru de Cima. No ano de 1831, a Lei provincial n.º 186 mandava construir, no lugar denominado Mãe d’Água de Cipó, uma casa para abrigo dos doentes que procuravam aquelas fontes. Em 1833 a Câmara local concluiu as obras.

Com a fama cada vez mais crescente, em 1843, a Assembleia mandou construir outra casa, que passou a ser chamada “Casa da Nação”. Muito tempo depois, as duas casas abandonadas ruíram devido uma enchente perversa do rio Itapicuru. Várias tentativas foram feitas para a construção de um balneário, mas somente em 1928 foi concedida permissão para exploração industrial das águas. Neste período de bonança, Cipó chegou a ter um Cassino. Ricaços do Brasil de todo o Nordeste vinham para a cidade. Graças à fama das águas termais, Getúlio Vargas, no seu segundo governo, resolveu construir um Grande Hotel. A ideia era transformar a região num centro de turismo. É, até hoje, o principal prédio de toda a cidade.

Enquanto a fama das águas atraía cada vez mais turistas, Cipó virou o grande centro regional. Em 1931 era o distrito sede de nada menos que Ribeira do Pombal, Ribeira do Amparo, Nova Soure e Tucano. Em 1933 perde Tucano e Ribeira do Pombal. Em 1935 perde Nova Soure. Em 1936, Cipó mantém o domínio sobre Ribeira do Amparo e o novo distrito de Novo Amparo, que será mais tarde Heliópolis. Com a inauguração do Grande Hotel em 24 de junho de 1952, ninguém tinha dúvida da retomada gloriosa do município, sobrepondo-se aos demais na economia. Entretanto, o apogeu dos anos 30 a 40 não mais voltou. Durou apenas um ano a retomada. Logo o Hotel ficou conhecido por ser um grande elefante branco de Getúlio Vargas. O Governo do Estado promoveu uma reforma e o abriu com preços bem populares nos anos 80, mas não deu certo. Suas portas fecharam definitivamente no final do século XX. Em 2009, ocorreu um incêndio em parte do telhado do Hotel, sem vítimas. A parte ocupada era apenas o térreo. Até hoje o prédio está lá, tombado pelo Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural (Ipac) em 2008, deixando apenas uma pequena lembrança do que foi uma das hospedarias mais luxuosas da sua época.

O dia da inauguração foi o grande momento do Hotel. Várias autoridades estavam presentes, mas o destaque estava para Getúlio Vargas, o presidente que chegou de avião, acompanhado por Régis Pacheco, governador da Bahia então. Além disso, o Assis Chateaubriand e o escritor mineiro Guimarães Rosa chegaram antes do presidente. Hoje, no térreo funciona alguns órgãos públicos, mas o abandono é visível. Cipó está a 242 quilômetros de Salvador. As vias terrestres eram precaríssimas na época da inauguração do Grande Hotel, o que dificultava em muito a acessibilidade, uma das razões de sua decadência. Até a obra da hospedaria é típica do Brasil. Começou sua construção no primeiro governo Vargas e foi inaugurada no segundo. Muita grana foi torrada e muito pouco trouxe para a região. Cipó, entretanto, sobreviveu por outras vertentes, embora tenha perdido em 1958 os distritos de Ribeira do Amparo e Heliópolis, ficando apenas com 128 km2 de área. Hoje sua população se aproxima dos 18 mil habitantes, com uma densidade demográfica em torno dos 135 habitantes por km2. 

Nas eleições de 2020, os cipoenses elegeram para prefeito José Marques dos Reis, hoje com 54 anos, o popular Marquinhos do Itapicuru (PDT), que obteve 4.152 votos, ou 38,44%. Ele derrotou o prefeito, Dr. Abel Araújo (PP), que obteve 3.677 votos, ou 34,04%. Ainda disputaram a eleição, Felipe Brito (PSDB), com 2015 votos, ou 18,66% e Taiane Macedo (PT), com 957 votos, ou 8,86%. Cabe aqui uma informação: Dr. Abel foi eleito em 2016 pelo PT, mas rompeu com o partido e foi para o Progressistas. Em 2020, sem o apoio da sigla, perdeu por 475 votos para Marquinhos, que havia ficado em 3º lugar em 2016. Taiane Macedo, candidata do PT em 2020, teve o dobro dos votos que Dr. Abel precisava para vencer o pleito. Foi uma surra inesquecível.

Os vereadores eleitos em 2020 são: Denis de Dona Moça (PT) - 621 votos; Dido Pimenta (PP) - 418 votos; Marcos de Zé Camilo (PP) - 386 votos; Lucas do Feijão (PDT) - 364 votos; Fabiano do Itapicuru (PDT) - 357 votos; André Macedo (PP) - 354 votos; Roninho de Gelson Gil (PDT) - 353 votos; Dona Celina (PP) - 352 votos; Dr. Gilson Francisco (PSDB) - 327 votos; Edivânio Santana (PSDB) - 303 votos; e Lúcia de Eduardo (PT) - com 268 votos.

Cipó tem um campo de pouso que serve toda a região e a principal rodovia que passa pelo município é a BR 110, mas é também servido pelas BA 404, que liga a cidade ao povoado Buri; a BA 395, que segue para o município de Tucano; e a BA 084, motivo desta matéria, que liga Cipó ao município de Ribeira do Amparo, nosso próximo vídeo.