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Carinhanha - Cidades do Velho Chico 22

Caminhamos rumo a uma guerra civil ou Venezuela?

A polarização que devora o Brasil é a sala de espera de uma guerra civil ou de cairmos na situação em que vive a Venezuela. (foto: Mundo em transe)

Nunca jamais imaginei que chegaríamos ao ponto em que nos encontramos. Quando beirava os 13 anos de idade, meu tio Arivaldo, o único intelectual da família naquela época, dizia sempre ao pé do meu ouvido que não esperasse por político algum, muito menos por ninguém. “Faça sua própria trajetória de vida. Se encontrar pelo caminho ajuda, aproveite. Entretanto, não espere por ela. Siga sempre em frente.” Embora tenha colocado entre aspas, não sei se ele usou exatamente estas palavras, mas o sentido foi esse. Se tivesse vivo hoje, tio “Vardu”, como era carinhosamente tratado por nós todos, talvez completasse o seu pensamento dizendo que a ideia só valeria se atravessássemos uma época de relativa normalidade. Está claro que nada disso valeria na era caótica atual, neste Brasil bélico em que vivemos.

Não se pode realizar sonhos numa sociedade em constante conflito, que ocorre entre os filhos deste solo, e a mãe gentil nada pode fazer. Ela depende da força e da inteligência dos seus rebentos para poder dar de volta a eles o berço esplêndido prometido. Voltando ao meu tio, como posso organizar uma trajetória de vida num mundo tão incerto? Pior é que só nós podemos perder. Isso aqui não é uma briga entre famílias nobres, como aconteceu na eclosão da 1ª Guerra Mundial. Lá, os parentes em guerra pertenciam a nações diferentes. A consequência foi a ruína de vários impérios e a transformação do mapa da Europa.

E nós já estamos em guerra? Não, mas falta pouco para uma guerra civil. Por enquanto, estamos na sala de espera. Falta uma porta. Já não cumprimos as leis rasgando a Constituição todos os dias. Policiais invadem casas sem Mandato Judicial; florestas são devastadas pelo fogo, sem que os órgãos competentes fiscalizem; negros pobres são usados pelo tráfico e acabam morrendo pelas armas dos negros remediados da política; pessoas são espancadas até a morte ao olhar de câmeras de vigilância, enquanto guardas fingem que não veem; autoridades com licença para processar políticos não veem crimes, mesmo que estejam explícitos em imagens inconfundíveis; parte considerável do nosso orçamento é destinada ao uso indevido por deputados do Centrão, com o nítido objetivo do uso político e enriquecimento ilícito, sempre aos olhos das autoridades da mais alta corte do país; ladrões cibernéticos roubam mensagens que são usadas por um ministro da corte para decretar a suspeição de um juiz, só porque este condenou políticos por corrupção, enquanto usa o tradicional “garantismo” para soltar envolvidos diversos em corrupção....

Só mais um pouco, por favor! Aquele desempregado que roubou o galo de raça do vizinho para comer, e ficou 5 anos preso por isso, levanta hoje a bandeira do Partido dos Trabalhadores jurando ser Lula inocente de tudo. Os ex todo poderoso ministro do governo Lula, de codinome Italiano na planilha da Odebrecht, fez deleção premiada e está com todos os seus bens indisponíveis. Entretanto, seu líder maior teve seus processos arquivados e vai até disputar a Presidência da República. Também vale dizer que “rachadinha” não é mais crime e superfaturamento de obras não leva ninguém para a cadeia, a não ser que seja provada a “intenção”. Não é a última, mas já está de bom tamanho: o presidente da Câmara dos deputados arranca uma propositura de uma comissão, coloca-a no mesmo dia em Plenário e a Câmara aprova em tempo recorde. Antes de pensar em eficiência, a medida aprovada o beneficiará num processo por corrupção.

Enquanto tudo isso acontece debaixo dos nossos olhos, o que fazemos? Ficamos indignados e ganhamos as ruas para lutar pela volta da moralidade e da ética? Usamos nossos preciosos votos para limpar Brasília de todos os malversadores do dinheiro público? Gritamos aos quatro cantos que está tudo errado? Nada disso. O caminho é escolher um culpado por tudo e apontarmos o dedo. A culpa é dos comunistas que votaram em Lula! A culpa é do gado que votou em Bolsonaro! Quando surge alguém diferente, e que pode ser uma ameaça, os dois lados gritam: Moro, traidor! Moro, juiz ladrão e corrupto que colocou Lula inocente na cadeia! Até Ciro Gomes paga até hoje por sua viagem a Paris: Ciro, lavou as mãos e ajudou os bolsomínios chegarem ao poder!

Essa coisa do nós contra eles, lançada pela campanha petista de Lula, virou uma febre e dividiu o país. Não dividiu os políticos, mas o povo. Lá no alto eles estão disputando, mas não são inimigos. Quando a conveniência se impor, estarão sempre unidos, como é uma realidade o bolsolulismo e a chegada de Alckmin à chapa do PT. Com medo da cadeia, acabaram com a Operação Lava Jato. Esquerda, direita, STF, PGR, STJ, AGU e até parte da PF, de forma deslavada e despudorada, mataram a operação. Bolsonaro e os filhos, Lula e os filhos, além de outras altas figuras, estão fora da cadeia. A culpa agora recai sobre o ex-juiz Sérgio Moro. Já tem até procurador do TCU escalado para atormentar sua vida, sob o olhar aprovador dos garantistas e do grupo Prerrogativas!

Nada disso, pois, foi suficiente para acordar uma parte do país. Há um ódio parecido com a rivalidade entre torcedores de times de futebol. Não é brincadeira e isso sempre acaba em morte. Primeiro morre a moralidade, a ética, a vergonha de ser digno, de ser honrado, de fazer a coisa certa. Depois vem o desejo de matar o inimigo, que é o seu vizinho, seu amigo de infância, seu parente. Até dói menos na consciência se for um desconhecido, que você possa apenas dizer que foi um comunista ou gado. Tudo para esconder a verdade: é gente como você, que enfrenta os mesmos problemas! É desavença entre irmãos! O próximo passo é a guerra civil. Se ela não vier, a Venezuela é logo ali.