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Neópolis - Cidades do Velho Chico - 31

Caminhos do Brasil: Irará e a BA 084, a rodovia da desigualdade

Saímos de Coração de Maria para percorrer os 25 quilômetros que separam a cidade mariense da cidade de Irará. Foi o pior trecho da BA 084, desde Santo Amaro, motivo de protestos de moradores nas redes sociais e em jornais da região. A rodovia chegou a ser bloqueada por moradores de Coração de Maria e de Irará no mês de julho, em protesto por melhorias na estrada. Os manifestantes usaram pneus, galhos de árvores e pedaços de madeira para interditar a BA. Estas imagens foram feitas em 23 de setembro de 2021 e a rodovia continuava do mesmo jeito. 

Depois da buraqueira infernal, chegamos ao município de Irará, nas terras antes habitadas pelos índios Paiaiás. No início do Brasil Colônia, no século XVI, os padres jesuítas vieram com o objetivo de catequizar os índios. Curioso é que chegaram a partir da localidade de Água Fria, uma aldeia tapuia, onde construíram uma igreja em louvor a São João Batista, origem da cidade vizinha, assunto do nosso próximo episódio. As terras eram das sesmarias de Garcia D'ávila. A busca de indígenas para escravos e a criação de gado também contribuíram para o seu povoamento. A partir de 1673, pela Carta Régia de 9 de julho, as terras foram incorporadas por João Peixoto Veigas. Mais tarde, a busca por pedras preciosas fez surgir algumas povoações, como a construção da Igreja de Nossa Senhora da Conceição, que fez surgir o distrito de Bento Simões e também de Caroba.

Em 1717, Antônio Homem da Fonseca Correia construiu uma capela dedicada a Nossa Senhora da Purificação e deu de presente a seu filho. que era padre e tinha o seu mesmo nome. O templo foi erguido próximo da casa da fazenda, construída às margens da estrada real, ligação do porto de Cachoeira ao sertão baiano, que é hoje grande parte da BA 084.  Em volta da igreja, dedicada a Nossa Senhora da Purificação, nasceu o arraial que viria a se tornar a vila de Purificação dos Campos. Em 1832, quando o Brasil oficialmente já não era mais colônia portuguesa, a movimentação da estrada real possibilitou ao arraial de Purificação dos Campos ter maior desenvolvimento do que a então vila de Água Fria. Foi aí que o Imperador D. Pedro II sancionou uma resolução, em 10 de junho de 1832, transferindo a sede da vila de São João Batista de Água Fria para o arraial de Purificação dos Campos, que passou a ser vila.   

Claro que a Câmara de Vereadores de Água Fria não gostou e demorou para que se consolidasse aquela mudança. Dez anos depois, com a Lei Provincial nº 173, de maio de 1842, é criado o município e vila de Purificação dos Campos, extinguindo o município de São João Batista de Água Fria, que passou a ser distrito de Purificação dos Campos, atual Irará. A data exata é dia 27 de maio de 1842. Agora, em 2022, Irará completará 180 anos de emancipada. A denominação Irará só é oficializada pela Lei Estadual n.º 100, de 08 de agosto de 1895, quando passa a ser cidade. O significado da palavra Irará é uma corruptela da palavra “Arará”, um tipo de formiga de asas brancas que surgia ao alvorecer do dia, de origem indígena, significando “nascido da luz do dia ou nascido do sol”.  

Até 1890, o município tinha uma câmara de vereadores e era administrado pelo seu presidente. A partir daquela data, Irará passou a ser administrado por intendentes, sendo o primeiro Pedro Nogueira Portela. De 1930 a 1947 foi administrada por interventores, sendo Elpídio Nogueira o primeiro deles. A partir de 1948, Irará passou a ser governado por prefeitos.   Elísio dos Reis Santana foi o primeiro eleito para assumir o cargo. Nas eleições de 2020, foi eleito para ocupar o cargo de prefeito Derivaldo Pinto, do Partido dos Trabalhadores, que derrotou Juscelino, do DEM, que tentava a reeleição. A diferença de votos foi estapafúrdia, 10.460 do petista contra 6.764 do então prefeito. Ainda concorreram Carlinhos, do Republicanos, com 455 votos, Baly, do PSD, com 428 votos e Eletroguisso, do PSC, com apenas 67 votos.  Para o legislativo municipal, os onze vereadores eleitos em 2020 foram: Cesinha – PP – com 635 votos; Rozendo de Júlia – DEM, com 594 votos; Djalma da Saúde, PROS, com 551 votos; Belar do Cajueiro, PROS, com 537 votos; Joelson Dantas, PSB, com 499 votos; Jarro de Zezito, DEM, com 494 votos; Beto Cicatriz, MDB, com 446 votos; Leila de Rosalino, PT, com 444 votos; Fernandinho Nailton, PP, com 436 votos; Gené, PT, com 429 votos; e João da Cruz, PSD, com 402 votos.  

O município é banhado pelos rios Seco e Parnamirim e é limitado ao norte com Água Fria; ao sul, Coração de Maria; ao leste, Ouriçangas, ao oeste Santanópolis e ao sudeste com Pedrão. Sua principal via é a BA 084 e é também servido pela BA-504. Provavelmente, é possível que alguém já tenha ouvido falar em Aristeu Nogueira, criador do CDC – Centro de Diversões e Cultura de Irará, ou ainda Diógenes de Almeida Campos, diretor do Museu de Ciências da Terra no Rio de Janeiro. Talvez tenha já conhecido o jornalista e publicitário Edson Barbosa, o escritor Emídio Brasileiro, o soldado pracinha da 2ª Guerra Mundial Fernando Nogueira Dantas, ou ainda o baixista de Ivete Sangalo, o Gigi. É provável que já tenha lido algum livro de Vera Felicidade, uma psicoterapeuta. O que eles têm em comum? São todos nascidos em Irará. Provavelmente, muitos já ouviram falar de Fernando Santana – deputado federal constituinte pela Bahia. Certamente já se ouviu falar no goleiro Dida, defensor da Seleção Brasileira e do Esporte Clube Vitória, dentre tantos outros times mundo afora. Por fim, um outro filho ilustre é Tom Zé, músico do movimento tropicalista e o mais irreverente de todos.

Irará viu seus domínios diminuírem com as emancipações de Água Fria, Pedrão, Ouriçangas, Santanópolis, Coração de Maria. Restou apenas o distrito de Bento Simões. Mesmo assim, sua população de 30 mil habitantes não para de produzir riquezas. Seu comércio é pujante e a capacidade do seu povo de produzir cultura ultrapassa as fronteiras do estado e do país. Quem é de Irará renasce todos os dias sob a luz do sol, no cotidiânico trabalho da construção da busca de uma vida sempre melhor, regada ao suor da persistência e da fé na vida. 

No próximo episódio desta série, falaremos de Água Fria e do distrito de Pataíba.