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Neópolis - Cidades do Velho Chico - 31

Por que há tanta resistência à volta das aulas presenciais?

Nos países mais desenvolvidos, a volta às aulas presenciais é uma realidade.Por aqui, só há resistências! (Foto: Rede Brasil Atual)

Um dia destes, uma reportagem de TV chamou a nossa atenção para que olhássemos para os nossos irmãos, vizinhos próximos, conterrâneos. Baixamos a cabeça envergonhados de ver a fome quase que abraçada conosco. Começamos então a fazer uma vaquinha para dar a nossa contribuição. Depois soubemos que uma ONG abraçou a causa e estará em Heliópolis para um lenitivo considerável. Tempos depois, perceberemos que a miséria poderá estar no mesmo endereço. Caridade ajuda, mas não acaba com a miséria. Podem mandar todas as ONGs que desejarem para este Nordeste de Meu Deus! Não acabaremos com nossa miséria! Só um povo educado deixará de ser miserável! E é bom não confundir pobreza com miserabilidade. Ser pobre é uma opção quando não se é miserável. O pobre tem vida simples, sem carrões, grandes propriedades. O pobre tem sua casa, seu alimento e seu conhecimento da vida, do mundo. O miserável não tem nada, nem mesmo consciência dos seus atos, porque não tem educação.

Ontem, na sessão da câmara de vereadores, Ana Dalva cobrou o reinício das aulas da rede municipal de ensino, aproveitando a presença do prefeito José Mendonça. Foi logo rebatida pelo vereador Igor Leonardo que disse não estarem as escolas preparadas com os protocolos de retorno, como se nove meses de administração não fossem suficientes para isso. Apesar de percebermos o desejo do alcaide para o retorno, há um espírito de corpo que baixou na categoria, empurrando as aulas para o ano que vem, com o apoio incondicional do secretário municipal de educação. Está claro que Mendonça não quer desagradar a maioria esmagadora dos professores, que até tiraram dinheiro do bolso para ajudar a elegê-lo. Afaga o ego professoral e ajuda a aumentar o campo da miserabilidade.

Por favor, não me obriguem a gastar linhas tentando convencê-los da relação proporcional entre educação e desenvolvimento. Sei também que não basta apenas ter escolas e professores, ou o aluno comparecer às aulas! Educação é muito mais. Tenho consciência de que nós não atingimos ainda a predominância na valorização da educação. É só olhar as redes sociais para entender tudo isso. Lembro-me de um esgoto aberto numa rua, motivo de horas de discussão. Entretanto, não me recordo de ver pessoas debatendo por horas a necessidade urgente da volta às aulas. Mas isso não significa que tenhamos que dar um passo a menos. Não há mais nenhum motivo para o não retorno. Nem mesmo temos o coronavírus circulando por aqui. Ora, e o estudo remoto? Nem que ele atingisse todos os estudantes seria argumento suficiente para negar a volta das aulas presenciais. Como, por exemplo, é possível alfabetizar uma criança pelo sistema remoto de forma satisfatória?

Exatamente por não valorizarmos a educação, estamos muito longe de acabarmos com a miserabilidade. Aquela mulher da reportagem, uma vez na plenitude do seu desenvolvimento educacional, acionaria as ferramentas que existem para garantir a ela o tratamento da sua doença e, certamente, não estaria com tantas contas de luz penduradas no prego. Há o SUS, o Bolsa Família, a Secretaria de Assistência Social. Até para que estes órgãos e programas funcionem perfeitamente é preciso uma consciência cívica maior da população. Não são dos políticos do lado A ou B. São paliativos do estado para o cidadão na hora do aperto, da dificuldade, até a chegada da educação plena, quando, certamente, chegará a hora de andar com as próprias pernas.

O apelo de Ana Dalva foi solitário. Quem gritou foi contra, movido pelo espírito de grupo ou pelo puxa-saquismo tupiniquim do semiárido. Afinal, por aqui, um grupo tira outro grupo do poder não para fazer melhor ou diferente, mas porque agora chegou a sua vez de...Fazer o de sempre! Uma vez noticiei aqui a ira do vereador Doriedson contra o prefeito que ele ajudou a eleger, que até então não tinha dito para que tinha vindo. Ontem ele pediu desculpas ao prefeito. Disse que só agora havia entendido tudo. Também entendemos, vereador! Vossa excelência continuará apostando na ignorância e na miserabilidade do nosso povo.