Nos países mais desenvolvidos, a volta às aulas presenciais é uma realidade.Por aqui, só há resistências! (Foto: Rede Brasil Atual) |
Um dia destes, uma reportagem de TV chamou a nossa atenção para que olhássemos para os nossos irmãos, vizinhos próximos, conterrâneos. Baixamos a cabeça envergonhados de ver a fome quase que abraçada conosco. Começamos então a fazer uma vaquinha para dar a nossa contribuição. Depois soubemos que uma ONG abraçou a causa e estará em Heliópolis para um lenitivo considerável. Tempos depois, perceberemos que a miséria poderá estar no mesmo endereço. Caridade ajuda, mas não acaba com a miséria. Podem mandar todas as ONGs que desejarem para este Nordeste de Meu Deus! Não acabaremos com nossa miséria! Só um povo educado deixará de ser miserável! E é bom não confundir pobreza com miserabilidade. Ser pobre é uma opção quando não se é miserável. O pobre tem vida simples, sem carrões, grandes propriedades. O pobre tem sua casa, seu alimento e seu conhecimento da vida, do mundo. O miserável não tem nada, nem mesmo consciência dos seus atos, porque não tem educação.
Ontem, na sessão da câmara de vereadores, Ana Dalva cobrou o
reinício das aulas da rede municipal de ensino, aproveitando a presença do
prefeito José Mendonça. Foi logo rebatida pelo vereador Igor Leonardo que disse
não estarem as escolas preparadas com os protocolos de retorno, como se nove
meses de administração não fossem suficientes para isso. Apesar de percebermos
o desejo do alcaide para o retorno, há um espírito de corpo que baixou na
categoria, empurrando as aulas para o ano que vem, com o apoio incondicional do
secretário municipal de educação. Está claro que Mendonça não quer desagradar a
maioria esmagadora dos professores, que até tiraram dinheiro do bolso para
ajudar a elegê-lo. Afaga o ego professoral e ajuda a aumentar o campo da
miserabilidade.
Por favor, não me obriguem a gastar linhas tentando convencê-los
da relação proporcional entre educação e desenvolvimento. Sei também que não
basta apenas ter escolas e professores, ou o aluno comparecer às aulas!
Educação é muito mais. Tenho consciência de que nós não atingimos ainda a
predominância na valorização da educação. É só olhar as redes sociais para
entender tudo isso. Lembro-me de um esgoto aberto numa rua, motivo de horas de
discussão. Entretanto, não me recordo de ver pessoas debatendo por horas a
necessidade urgente da volta às aulas. Mas isso não significa que tenhamos que
dar um passo a menos. Não há mais nenhum motivo para o não retorno. Nem mesmo
temos o coronavírus circulando por aqui. Ora, e o estudo remoto? Nem que ele
atingisse todos os estudantes seria argumento suficiente para negar a volta das
aulas presenciais. Como, por exemplo, é possível alfabetizar uma criança pelo
sistema remoto de forma satisfatória?
Exatamente por não valorizarmos a educação, estamos muito
longe de acabarmos com a miserabilidade. Aquela mulher da reportagem, uma vez
na plenitude do seu desenvolvimento educacional, acionaria as ferramentas que
existem para garantir a ela o tratamento da sua doença e, certamente, não estaria
com tantas contas de luz penduradas no prego. Há o SUS, o Bolsa Família, a
Secretaria de Assistência Social. Até para que estes órgãos e programas
funcionem perfeitamente é preciso uma consciência cívica maior da população. Não
são dos políticos do lado A ou B. São paliativos do estado para o cidadão na
hora do aperto, da dificuldade, até a chegada da educação plena, quando,
certamente, chegará a hora de andar com as próprias pernas.
O apelo de Ana Dalva foi solitário. Quem gritou foi contra,
movido pelo espírito de grupo ou pelo puxa-saquismo tupiniquim do semiárido.
Afinal, por aqui, um grupo tira outro grupo do poder não para fazer melhor ou
diferente, mas porque agora chegou a sua vez de...Fazer o de sempre! Uma vez
noticiei aqui a ira do vereador Doriedson contra o prefeito que ele ajudou a
eleger, que até então não tinha dito para que tinha vindo. Ontem ele pediu
desculpas ao prefeito. Disse que só agora havia entendido tudo. Também
entendemos, vereador! Vossa excelência continuará apostando na ignorância e na
miserabilidade do nosso povo.