No Nordeste, o vermelho da insensatez esconde o vermelho da violência |
Não, caro leitor. Não se trata de
política, mas pode ser. É verdade que o Nordeste deu números generosos à candidatura de
Fernando Haddad. Sem o Nordeste, o candidato do PT estaria menor que Marina
Silva em 2014. Mas a cor vermelha não vem da bandeira desbotada do Partido dos
Trabalhadores e de sua estrela ofuscada pelos escândalos de corrupção. Vem dos
números generosos da violência desenfreada que espalha glóbulos inúteis sobre a
aridez da terra.
Em artigo de Giampaolo Morgado
Braga, publicado neste sábado (24) na Revista Época, há um grito chamativo para
o problema. O articulista chega a dizer que, já rompida a barreira das 30
mortes por cem mil, aqui no Brasil, é necessário lançar mão de outros adjetivos
para tentar se aproximar da realidade violenta em que estamos vivendo. Giampaolo
diz ser Indecente, imoral, bestial e vergonhosa.
O Nordeste é dono do pódio da violência no
Brasil. Os três primeiros lugares são nossos! Sergipe, Ceará e Alagoas. Isso
mesmo! O menor estado brasileiro é dono da maior taxa de homicídio do país.
Quem está acostumado com os filmes de Hollywood, pensa que os Estados Unidos
são violentos. O lugar mais violento dos gringos é o estado de Lousiana, que
tem taxa de homicídio menor que o nosso estado menos violento, que é São Paulo.
Se o maior estado brasileiro ousar baixar a taxa de mortes violentas em 10% ao ano,
só daqui a 20 anos chegará aos níveis do menos violento estado dos Estados Unidos,
New Hampshire, que tem cerca de um homicídio por cem mil.
Se pegarmos Sergipe como exemplo,
e compará-lo com a violência na Europa, não dormiremos. A Áustria é o país com
uma taxa de menos de um homicídio por cada cem mil habitantes. No nosso
pequenino estado, cinco vezes menor que a Áustria, chega ao catastrófico número
de quase 58 mortes em cada 100 mil. Resumindo, Sergipe mata mais que a Europa
inteira. E não há perspectiva de melhoras nos três estados mais violentos do
país porque não há nada de novo que possa sequer dar esperança de uma transformação.
Até mesmo na questão política a coisa degringolou: os três atuais governantes
foram reeleitos!
Do meio da desgraça dos números,
há o Piauí que tem taxas parecidas com as dos estados do sul. E é só. Até
mesmo, se levarmos em conta os números de mortes em cidades, ainda não somos
campeões. A cidade que Queimados, no Rio de Janeiro, foi a mais violenta de
2016. Lá morrem quase 135 pessoas por cem mil habitantes. Só que o Nordeste
leva o vice-campeonato. No assassiômetro daquele ano, Eunápolis, na Bahia,
matou 124 em cada cem mil, taxa que ultrapassa qualquer época de guerra em todo
o mundo.
Guardem estes números. Quando
estiverem nas redes sociais denegrindo o seu adversário e, muitas das vezes,
defendendo o seu corrupto preferido, colocando de lado as discussões em torno
das reais necessidades do país; quando a temperatura subir nas discussões
inócuas sobre quem é gay, quem é preconceituoso ou quem é machista ou não,
lembre-se de que morreram 62.517 pessoas assassinadas em 2016 no Brasil.
Lembre-se ainda de que boa parte destas mortes está no Nordeste. Depois de tudo, podem elevar o tom e repetir em
alto e bom som: Deus é brasileiro! Cristo nasceu na Bahia! E os sergipanos
podem dizer do fundo do peito: Glória a Deus! E todos nós gritemos para o mundo
ouvir: O Nordeste é vermelho! Tudo isso para esconder a vergonha da nossa
insensatez!