Rui Costa e a nova face do governo da Bahia |
Agora que estamos um pouco
distantes da visita feita pelo governador Rui Costa a Heliópolis, é possível
fazer uma análise das implicações políticas, das marcas aqui deixadas e dos
dividendos políticos das ações. O primeiro a ganhar é de fato o próprio governador.
Não, não se trata aqui de cair na vala comum dos dividendos políticos do ato
simples de inaugurar obras. Todos os governantes fazem obras, um pouco mais ou
um pouco menos, mas nem todos se reelegem. Muitos entram num ostracismo de dar
dó e morrem sem ver seu nome elevado como um grande administrador ou benfeitor.
Rui ganha porque ele está criando um novo discurso, tentando dar uma nova cara
ao ato de ser governador.
Muitos podem usar o contraditório
dizendo que ele fez o mesmo de tantos outros governadores do passado quando
defende seu partido das desgraças feitas na Petrobrás, quando favorece Dilma
Rousseff contra o impeachment. Calma! Ninguém aqui está dizendo que Rui Costa é
um revolucionário. Não vamos tão longe. Mas há um desejo de dar uma nova cara a
isso que chamamos de administrar. Primeiro, é bom que se diga, nunca se viu um
aparato significativo de segurança para um chefe de estado. Só Colégio Estadual
José Dantas de Souza foi visitado inúmeras vezes por prepostos do Cerimonial,
Casa Civil e Casa Militar. Rui Costa sabe que o seu partido deixou de ser, e há
um bom tempo, o queridinho do pedaço. Prevenir não é exagero jamais.
Também mudou o discurso. Não se
trata do todo poderoso governador da Bahia, mas de um homem simples, que
enfrenta um estado com dificuldades financeiras e suplica a ajuda do povo na
preservação do patrimônio público. E não esquece o infalível brado da educação
como base importante para resolução da maioria dos problemas. Afinal, não
adianta polícia nas ruas com as crianças fora da escola tragadas pelo tráfico e
pela falsa ostentação da busca imediata do prazer. E aí o governador apela para
as famílias na luta coletiva do ato de educar. Numa Bahia tradicionalmente
governista, voltada para a visão de que os poderosos podem tudo, um discurso
apelativo como este faz um efeito devastador.
E então, alguns dos vinte e
poucos leitores deste blog rebatem com o argumento de que tudo isso é coisa de
marqueteiro. Rui Costa estaria seguindo a cartilha dos que o orientam com
polpudas verbas e nada mais. Pode ser. Não se pode duvidar do poder destes
marqueteiros, mas julgo ser algo infalível. Até porque o governador tem pela
frente um ACM Neto. Não é pouca coisa, principalmente para um político que
andava nas sombras fazendo o jogo de Jacques Wagner, sacrificando até seus
mandatos de deputado federal, a ponto de não ter nada para apresentar nos
inúteis anos que ficou em Brasília. Foi literalmente um deputado apagado e não
quer levar para a história esta fama como governador. Se sua eleição ele deve a
Wagner, Lula e demais apoios, a sua reeleição será lavra de seu mandato, da sua
boa ou ruim governança. Ele sabe que o cavalo está selado e só terá esta
chance.
Coisa de marqueteiro ou não, há
muito de Rui nas visitas de Rui Costa. Vejam o caso de ficar mais de uma hora
numa escola estadual, visitar sala por sala, tomar nota de tudo, ouvir
cuidadosamente e sem pressa toda a comunidade escolar e, ao final, oferecer
ajuda e pedir a preservação de tudo. Com isso, Rui Costa está colocando os
problemas da educação no colo do governo, eliminando as interferências e
conquistando o seu público. Não resta dúvida que ele também está vacinando a
Bahia contra uma nova greve dos professores, já que aumento real em época de crise
não se pode sequer pensar, mesmo que se saiba ser a APLB um sindicato voltado,
neste momento, para Salvador, apenas.
O que está em jogo é saber se
esta nova face governista tem lastro. Quer dizer, se Rui Costa resolverá mesmo
os problemas, se a equipe de governo vai ter estrutura para sanar os problemas
encontrados. No CEJDS, por exemplo, graças ao jogo político feito pelo próprio
então secretário da Casa Civil Rui Costa, fez a escola mergulhar numa crise sem
precedentes. Agora, com esta visita, com a nova diretoria e sanados os
problemas, o atual governador corrigirá um erro e colocará seu nome no mais
alto pedestal. Se a coisa falhar, duvidamos que haja marqueteiro na face da
terra que o faça sair da lama e do caos.