A menina que olha para a câmera é Taisiane em 2005 |
Em duas reportagens da revista
ISTOÉ desta semana é possível medir a dimensão do que está sendo o governo do
Partido dos Trabalhadores, teimosamente protagonizado pela falaciosa gerente
Dilma Rousseff. A primeira reportagem é intitulada “A ruína das conquistas
sociais”, das repórteres Débora Bergamasco e Ludmilla Amaral, fala do corte de
R$ 26 bilhões na Saúde, Educação e moradia que fizeram ruir o último discurso
petista, aniquilando conquistas e pondo em xeque a capacidade de o governo
domar a crise.
Hoje, Taisiane é mãe e a realidade é a mesma |
Logo no início, a revista faz um
histórico da tarde de fevereiro de 2005, quando Taisiane Simião viu o então
presidente Luiz Inácio Lula da Silva descer do céu, no bairro de Canaã, em
Caruaru, Pernambuco. “Eu jogava bola com os meninos quando voaram dois
helicópteros por cima da gente”, diz. “Saímos correndo do campinho e fomos para
perto da cerca. Na época eu não sabia, mas era o Lula. Ele se agachou,
perguntou nossos nomes e idades. Aí deu lanche, pão e bolo. Depois, sumiu.”
Taisiane – no retrato acima, ela é a criança que encara o fotógrafo com olhos
sonhadores – tinha 5 anos e estava prestes a entrar na escola. A vida era dura
para a família dela. Ivonete, a mãe, fazia bicos como faxineira, mas o dinheiro
não dava para nada. João, o pai, ganhava uns trocados como servente de
pedreiro. Taisiane e outras seis pessoas viviam em uma casa de um cômodo, sem água
encanada e banheiro. Na rua, o esgoto era a céu aberto. A chegada estrondosa de
Lula, que desceu do helicóptero como um herói que retornou para salvar o seu
povo, mexeu com aquela garotinha. O presidente, afinal, encarnava a esperança
de um futuro melhor.
Mas a grande realidade é que
nada mudou. Dos que aparecem na foto, Jackeson de Jesus abandonou a escola aos
11 anos, Taisiane Simião engravidou aos 15, Rubson Leite só vive de bicos. A
visita de Lula ao povoado, há 10 anos, não surtiu efeito algum. A propalada
propaganda do PT de retirou muitos da miséria é uma grande falácia. Foi a era
de um paliativo, de um analgésico para a dor. A doença da miséria ainda
perdura. Nos últimos 13 anos, desde que o PT chegou ao centro do poder, Lula
tem repetido a mesma cantilena. A grande marca da gestão petista, diz ele, é a
inclusão social. Para Lula e seus seguidores, políticas públicas como o
Bolsa-Família, o Farmácia Popular e o programa Minha Casa, Minha Vida
transformaram a vida de milhões de brasileiros ao oferecer oportunidades
negadas em governos anteriores. Na campanha presidencial, Dilma Rousseff
conquistou votos ao afirmar que seu partido foi o único capaz de diminuir drasticamente
a distância que separa os pobres dos que estão no topo da pirâmide. É preciso
reconhecer que, durante muito tempo, esse argumento pareceu válido. Se a
principal marca do governo Fernando Henrique Cardoso foi a estabilidade
monetária, na era petista muita gente ascendeu socialmente. O símbolo máximo
dessa escalada atende pelo nome de “classe C”, a nova camada social que fez
disparar os níveis de consumo no País. Tudo isso poderia ser verdade até pouco
tempo atrás, mas não agora. A bandeira do avanço social não pode mais ser
hasteada pelos petistas. O discurso da inclusão, tão caro a Lula e Dilma, ficou
sem sentido. Ele faz parte do passado. Acabou.
Os números falam por si só. De
acordo com dados do Ministério do Planejamento, em 2016 o governo Dilma vai
cortar pelo menos R$ 26 bilhões dos programas sociais, o que equivale a quase
todo o investimento feito por uma empresa do porte da Petrobras durante um ano.
Uma conta rápida mostra como a tesoura de Dilma está afiada, e em que direção
ela aponta. Com os R$ 26 bilhões, é possível construir mais de 17 mil leitos de
UTI ou 6 mil creches. Só o programa Minha Casa, Minha Vida será ceifado em R$ 9
bilhões, ou cerca de 50% do total gasto no ano passado. Com isso, a equipe
governamental decidiu suspender o lançamento da já prometida terceira fase do
programa de moradia.
Lula e Dilma: criador e criatura |
Na segunda reportagem, Acabou o
escrúpulo, o repórter Sérgio Pardellas mostra como Dilma, orientada por Lula, rende-se
ao mais rasteiro fisiologismo e ao vale tudo político para se manter no cargo,
mesmo que isso não garanta, porém, que ela conseguirá
Desde a primeira eleição de Dilma
Rousseff, em 2010, ela e o ex-presidente Lula estiveram reunidos dezenas de
vezes para debater a conjuntura política. Os dois últimos encontros entre o
criador e sua criatura aconteceram na quarta-feira 23 e na quinta-feira 1 no
Palácio da Alvorada e foram bem diferentes dos anteriores. Em ambos, Dilma
praticamente só ouviu. O tom enfático e as palavras duras proferidas por Lula
não autorizaram réplica. Instada pelo petista a promover uma reforma
ministerial de modo a contemplar todas as alas do PMDB e a promover à
coordenação-geral do governo um lulista de carteirinha, o ministro Jaques
Wagner, a presidente aquiesceu, como se alienasse o governo com porteira
fechada ao antecessor. Por isso, a reforma ministerial anunciada no final da
última semana diz mais sobre Lula do que Dilma. Mas as mudanças na Esplanada
também falam muito sobre a presidente. Fragilizada, a petista virou uma
marionete, pois topou fazer o diabo para prosseguir com a única agenda que a
consome há pelo menos seis meses: a de “não cair” – ou seja, evitar o
impeachment a todo e qualquer custo.
Daí se explica porque a mulher
sapiens mandou às favas qualquer escrúpulo. Não importa – a não ser para a
manutenção do poder – se para tentar se sustentar no cargo ela tenha de escalar
um time de quarta divisão para comandar o seu primeiro escalão. Não importa se
para empreender as mudanças no governo ela tenha de tratar com desdém os
ministros descartados na reforma. Para abrir espaço no ministério da Saúde a
Marcelo Castro (PMDB-PI), um apadrinhado do líder do PMDB na Câmara, o
neogovernista Leonardo Picciani, Dilma não se constrangeu em demitir o petista
Arthur Chioro por telefone. “É uma grande pancada que os militantes do SUS
estão recebendo do governo. A decisão de lotear o cargo para tentar atrair a
fidelidade do PMDB no Congresso é ingênua, posto que terá resultado efêmero, e
a cada votação se restabelecerá uma nova chantagem”, lamentou o deputado do PT
baiano, Jorge Solla. Sem a menor hesitação de consciência, a presidente também
passou o trator sobre o respeitado filósofo Renato Janine Ribeiro, escolha
comemorada havia menos de seis meses como um raro feito de seu segundo mandato.
A decisão atendeu ao único propósito de acomodar na Educação Aloizio
Mercadante, apeado do cargo de ministro da Casa Civil. Mercadante será o quarto
ministro da Educação, área considerada prioritária por Dilma, ao menos no
discurso, em apenas dez meses. Ascende à chefia da Casa Civil, Jaques Wagner,
aliado de primeira hora de Lula.
Dilma já não governa mais coisa nenhuma. Acabou. Lula segura o respirador e o PMDB tem o controle do oxigênio. Deitada no leito presidencial, só lhe é dado o direito de balançar a cabeça concordando com o que dizem a ela. De vez em quando, para não se esquecer de que é uma moribunda, o seu criador pede para alguém repetir uma música preparada especialmente para ela: Réquiem para um poste caído.