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Neópolis - Cidades do Velho Chico - 31

Vão esperar o Brasil afundar em agosto?

                                                         Landisvalth Lima
O nome não é verdadeiro, mas o fato é. Cristobaldo da Silva é um pequeno comerciante. Sustenta sua família com as vendas de uma bodega. De janeiro para cá passou apertado por ter dobrado o número de compradores na tradicional caderneta do fiado e também dobrado o número dos que atrasam pagamentos. A situação ficou pior quando sua mulher resolveu fazer uma festa de 15 anos para a filha mais velha. Eles haviam prometido à garota, mas não souberam dizer a verdade: as condições para realização do evento não existiam. Cristobaldo gastou o que não podia gastar e seu comércio está fechando as portas. O dinheiro que sobrou foi apenas o suficiente para uma passagem de ônibus a São Paulo. Retornará à sua condição de pedreiro numa época em que já não há mais garantia de empregos na construção civil.
A história acima pode servir de alegoria para a trajetória do Partido dos Trabalhadores no poder. Num país sério, Dilma Rousseff já teria sido mandada embora. Melhor, nem mesmo teria sido eleita. Qualquer economista honesto sabe que as medidas econômicas corretivas deveriam ter sido tomadas em 2011. O crescimento brasileiro da era Lula foi pautado no consumo e no endividamento da classe média. O consumo e a produção foram lá para as alturas e chegamos ao patamar de sétima economia do planeta. Era a hora da correção de rumos, do corte de impostos e juros, da taxação das grandes fortunas, da desoneração responsável de setores fundamentais. Deveríamos ter focado na produção industrial, mas preferimos prestigiar os bancos. O Brasil virou o paraíso dos banqueiros.
Enquanto a classe média tinha grana, a conta estava sendo paga com sobra, levando nas costas um estado extremamente caro, enorme e gastador. Nada pode ser tão estúpido quanto manter um governo com 39 ministérios. Metade destes não servem para nada que preste ao país. Além desta conta pesada, pagamos o preço da corrupção. Nunca se roubou tanto na história de um país em nenhum lugar do mundo. Os escândalos mensalão, petróleo, eletrolão e os futuros BNDES e HSBC colocam o Brasil como a 1ª economia corrupta do planeta. Para entreter o povo, havia as “bolsas”, os programas habitacionais, o financiamento educacional, o Pronatec e outros.
Dilma foi reeleita e mostrou como se dá um calote eleitoral. Sua popularidade, entretanto, está em um dígito. A boa notícia é que ainda não estamos no ápice da crise. Ela chegará ao seu ponto máximo em agosto. Enquanto os pobres estiverem pagando a conta do voto dado, o PT continuará no poder. Mês que vem, os ricos começarão a pagar e é aí que mora o perigo. Não me lembro qual foi a vez que os ricos pagaram a conta sozinhos. Também não me lembro de ter visto um grandão ir para a cadeia e sozinho pagar o pato. Se Dilma sobreviver em setembro, o país cairá de vez e será difícil uma recuperação tão cedo.
Por enquanto, cabe uma reportagem de Elvira Lobato, de O Globo, que é mais ou menos um conjunto de histórias que está virando lugar comum. No Maranhão, Manoel Rodrigo do Nascimento, personagem real, que recebe R$ 15 por saco produzido em fábrica de farinha, desabafa: “Quem trabalha não tem valor”. Ele queixou-se da conta de luz. Disse que tem uma geladeira pequena, uma TV “que só pega na pancada” e ventilador, e que pagou R$ 88 este mês. A popularidade da presidente Dilma Rousseff despencou em povoados pobres do Maranhão, onde, há apenas oito meses, ela obteve mais de 80% dos votos válidos no segundo turno da eleição. A crise econômica, o descumprimento de promessas de campanha e a corrupção na Petrobras revelada pela Operação Lava-Jato são criticados por moradores em conversas em frente a casebres de barro e telhados de palha.
Reações de decepção e revolta foram registradas em cinco municípios: Igarapé do Meio, Pindaré-Mirim, Alto Alegre do Maranhão, Rosário e Olho D’Agua das Cunhãs. Em todos, Dilma obteve votação avassaladora no segundo turno: 89,06%, 87,22%, 85,44%, 87,58% e 88,23%, respectivamente. Outro personagem real, Jerônimo Nogueira, de 53 anos, pequeno produtor rural de Alto Alegre do Maranhão, diz-se “arrasado” com a situação do país. “A situação está muito difícil. A gente produz e não consegue vender. A presidente poderia cuidar da população, mas fica brigando por poder”, afirmou Jerônimo.
Na mesma reportagem, Raimundo Alves, de 64, tem uma casa de farinha em Igarapé do Meio mostrou seu estoque de farinha sem comprador e disse que começou a vender fiado. Em relação à presidente avalia que ela “se perdeu” e que a corrupção é a principal causa dos problemas. O vaqueiro Raimundo Nonato Rodrigues, de 42 anos, acompanha as notícias pela TV. Ele disse que não entende por que tudo desandou de repente: “Eu me sinto traído. Dilma apontou um rumo durante a campanha e mudou tudo depois que ganhou a eleição. (...) Se a presidente se candidatar outra vez vai sofrer uma derrota muito grande no Maranhão.” E mais: O roubo na Petrobras foi uma falta de vergonha dos políticos. Sou pai de família e meus filhos ficariam envergonhados se eu fizesse algo errado. O país está envergonhado — disse o lavrador Antônio Ferreira Cruz, de 37 anos, do povoado de Telêmaco. 
Enquanto isso, ficam os juristas discutindo se há ou não elementos suficientes nas Leis do país que justifiquem o impeachment da presidenta incompetente. É que eles ainda não foram atingidos plenamente pela crise. Talvez, quando agosto vier, saberão que, por muito menos, Getúlio Vargas cometeu suicídio e Fernando Collor de Melo foi cassado.