Biaggio Talento – de A TARDE
Jacques Wagner e João Leão |
Agitado com a Operação Lava Jato,
o Brasil não será o mesmo após as revelações de corrupção mantida durante anos
na Petrobras e a divulgação da lista de políticos envolvidos. Na Bahia, o fato
de a cúpula do PP, um dos principais aliados do PT do governador Rui Costa, ter
nomes na lista de Janot pode ter impacto nas próximas eleições municipais e
fortalecer a oposição no Estado, avaliam analistas.
O vice-governador do estado e
secretário de Planejamento, João Leão e o conselheiro do Tribunal de Contas dos
Municípios, Mário Negromonte integram a lista do terror de Janot, além do
deputado federal Roberto Britto e Luiz Argôlo (SDD).
O juiz federal Sérgio Moro
investiga o envolvimento de várias empresas como as baianas OAS e Odebrecht,
além da UTC (dirigida pelo baiano Roberto Pessoa) no pagamento de propinas a
dirigentes da Petrobras, colocados em diretorias pelos partidos políticos que
se beneficiariam com parte do dinheiro das fraudes.
A relação dos 54 políticos que a
Procuradoria Geral da República pediu para o STF abrir investigação pelos
indícios fortes de corrupção, atingiu os principais partidos da base do
governo: PT, PMDB e PP.
Jacques Wagner e Mário Negromonte |
Os tentáculos da Lava Jato que se
estendem até a Bahia deve ter consequências na vida política do Estado. O
sociólogo Joviniano Neto avalia que o principal prejudicado politicamente será
o PT, mesmo que a investigação da participação dos políticos nas fraudes ainda
esteja no começo.
"É que, em casos como esses,
prevalece, no início, a primeira lei de Jean Marie Domenach (escritor francês
autor do famoso livro A Propaganda Política): a simplificação e o inimigo
único", lembra Joviniano, explicando que a tendência é se propagar a
imagem que o governo federal é o responsável e o partido que o comanda o
"inimigo único".
Nesse cenário, além da oposição
sair fortalecida, apesar de alguns elementos desse grupo também terem sido
citados como participantes do esquema, "ocorre uma natural inibição da
base de apoio ao governo que se vê meio constrangida para defendê-lo",
disse, apontando outro fator negativo para o PT, a necessidade da presidente Dilma
editar medidas impopulares.
Ele destaca, ainda, que pode
haver impacto nas eleições. "O tempo da mídia, da política e da justiça
são diferentes. E embora a Procuradoria Geral tenha feito apenas pedidos de
investigação, sem que ninguém esteja sendo processado, a repercussão da lista
de políticos pode ter, sim, reflexos nas próximas eleições municipais".
Rui Costa e Luiz Argôlo |
Sobre a relação entre PP e PT na
Bahia "nada vai mudar", diz ele, "mas vai haver uma permanente
tensão cercando todos os partidos cujos integrantes estão nesta primeira lista.
E os reflexos políticos serão sentidos ao longo do tempo".
Economia
Para o sociólogo, haverá um
impacto grande também na economia da Bahia, não só pelo fato do governo federal
reduzir seus investimentos em função da crise, como o fato de estar no olho do
furacão da Lava Jato as empreiteiras responsáveis pelas grandes obras de
infraestrutura no Estado.
O professor de Ciência Política
da Universidade Católica do Salvador, Claudio André de Souza assinala que o
impacto socioeconômico da Lava Jato se reflete diretamente na ação dos
políticos do Estado. "A operação ajudou, por exemplo, a piorar a crise do
Estaleiro Paraguaçu do qual participam a Odebrecht, a OAS e a UTC. Ocorreram
demissões e um clima ruim na região.
Óbvio que quem obteve dividendos
políticos com o empreendimento, no caso o governo da Bahia, vai sofrer desgaste
agora", disse. Segundo Souza, o escândalo tende também a reduzir as
doações aos partidos. "E ai vai criar a oportunidade de se discutir o
financiamento público das campanhas". Ele acha também que a mobilização
popular deve aumentar daqui para a frente.
Colaborou Marjorie Moura.