Landisvalth Lima
Fernando Peltier (foto:Facebook) |
Morre em Araci, estado da Bahia,
onde vivia, o poeta, escritor e teatrólogo Fernando Peltier (66), Macaúbas, que
trabalhou muitos anos em Serrinha e promoveu para o mundo do teatro gerações de
jovens. Este blogueiro, ao lado de Hildebrando (Dego), Urias, Raimundo,
Luzivânia, Murilo, Edvaldo Barbosa e tantos outros e outras, devemos nossa
formação cultural, nossa visão de arte e de sociedade a Peltier. Ele não desistia
nunca. Era incansável produtor cultural e buscava sempre novas linguagens
artísticas. Além disso, era um educador no sentido amplo da palavra.
Antônio Fernando Peltier
Loureiro Freire nasceu em Salvador-Ba, em 25 de janeiro de 1948. Filho caçula
de Jorge Antunes Freire, graduado funcionário fazendário estadual e de Maura
Peltier Loureiro Freire. Teve um infarto fulminante por volta das 3h30min e
disse como últimas palavras: "Não estou mais aguentando a dor" e
faleceu. Foi socorrido e levado para o hospital municipal de Araci, onde já
chegou sem vida.
A notícia rapidamente se
espalhou e um dos seus amigos, Jamensson Cardoso, postou no Facebook: " Fernando Peltier, Macaúbas, um símbolo de
resistência e luta, segue para a eternidade, fomos confidentes conflitados com
as inconformidades em função da própria vida. Meus sinceros sentimentos de
pesar para familiares e amigos. Obrigado Aracy por acolher um homem
verdadeiramente valoroso. O que foi isto meu Deus??". Tatiane Vilela
Mascarenhas também posto: "Meu
coração congelou de susto ao receber essa notícia, mas sei que o céu está em
festa por receber voce meu amigo, meu irmão, poeta de grandiosa beleza e
encanto e ser humano de coração nobre. Siga em paz Fernando Peltier, sei que
sua passagem será leve pela nível evolutivo do seu espírito. A família
Mascarenhas te ama!!!"
Desde garoto, Peltier, ou
Macaúbas, como o chamávamos no grupo Criarte, demonstrava aptidões para as
artes, sobretudo, as artes cênicas, tendo descoberto essa inclinação na escola
primária. Viveu assim, em Salvador por longo tempo. Fernando Peltier morou em
Jequié, no ano de 1962, quando pela primeira vez pisou num palco de um teatro
tecnicamente dito e representou o papel de um pastor num auto de natal
intitulado “O Boi e o Burro no Caminho de Belém”, de Maria Clara Machado, a
maior dramaturga brasileira no segmento infanto-juvenil, apresentado no Cine
Teatro Auditorium, contaminando-se definitivamente pelo vírus teatral. Foi
também em Jequié que escreveu suas primeiras poesias e prosas, tendo nessa
época obtido a aprovação de Wally Salomão aos seus escritos.
Em Serrinha, fundou com Hamilton
Safira o GRUDE-SE (Grupo Teatro Serrinha), em 1966 e o CRIARTE (Criação
Artística), 1976 no Centro Social Urbano Dalva Negreiros, quando era o diretor
daquele órgão público. Desta época são produzidas inúmeras peças infantis,
destacando-se Chapeuzinho Vermelho. Lembro-me que minha irmã, Luzivânia Lima,
substitui Mônica, como a mãe de Chapeuzinho, na apresentação na cidade de
Conde, no Litoral Norte da Bahia. A peça era sucesso onde chagava. Eu fazia o
papel da 4ª árvore. Murilo era o Caçador, Edvaldo era o Lobo Mau e Kika era o
Chapeuzinho Vermelho, dentre outros.
Peltier também foi o criador do
Projeto CIRANDA DO TEATRO, que forma platéia, a partir de dois anos de idade,
viajando por todo interior baiano, sensibilizando crianças e jovens para a
importância da linguagem teatral, seja na prática ou na audição de espetáculos.
Fundou e administrou a SPALLA – Escola de Arte da Bahia Ltda., em Salvador,
1994 e a Escola de Arte & Cia Fernando Peltier, em Salvador, Serrinha e
está implantou o CRITCA – Centro Regional de Investigação de Talentos em Arte e
Cultura, acoplado à sua Escola de Arte Fernando Peltier – Ballet e Teatro, no
Colégio Interativo, Araci, em 2010.
Fernando Peltier teve formação
quase completa em História Geral na UCSAL, 1972, e plena como Bacharel em
Direção Teatral, na EMAC/UFBa, formando-se em 1988. Bem antes, já havia feito o
curso de Magistério, concluído no Colégio Comercial de Serrinha, 1968. Segundo
a revista “Repertório” Ano 3, nº 2, 1999 – Teatro e Dança / UFBA, Programa de
Graduação em Artes Cênicas, “o Curso de Teatro com Dança ministrado por
Fernando Peltier tem revelado para o cinema e promovido a participação de
diversos alunos em comerciais de rádio e de televisão. A Escola de Arte é
recordista em aprovação para o vestibular dos cursos de teatro da UFBA. Em
menos de 5 anos de fundada, a escola já capacitou mais de 20 alunos, colocados
no mercado de trabalho, aptos para iniciarem-se no sucesso.”.
Fernando Peltier não se dedicou
apenas ao teatro. Foi escritor, poeta e dramaturgo. Publicou 5 livros, sendo o
último, na cidade do Porto, em Portugal: “Nós Te Atramos” (Dramaturgia),
Editora BDA, Salvador, 1996; “Escola Utopia” (Poesia), Editora LS, Salvador,
1997; “Heureca! – Notáveis Encontros com o Saber” (Dramaturgia); EGBA (Empresa
Gráfica da Bahia), FUNCEB (Fundação Cultural do Estado da Bahia), SECULT
(Secretaria Estadual de Cultura e Turismo), Coleção As Letras da Bahia,
Salvador, 1998; “Teatro Nosso Cada Dia” (Dramaturgia) e o último denominado “Na
Palma da Calma da Alma”, Corpos Editora, Porto, Portugal, 2010. Quem desejar
adquirir o novo livro poderá fazer através do link:
Recentemente, também, teve uma
de suas poesias incluída na Antologia Delicatta/SP – Bienal do Livro, cuja obra
se chama “CIRCO BAMBOLEIO”. É também autor e compositor musical, dedicando-se prioritariamente
às trilhas musicais de seus espetáculos, sobretudo no seguimento infanto-juvenil.
Tem CDs publicados, destacando-se “Pinóquio”, com músicas da peça homônima e
karaokê com as mesmas e “O Auto do Presépio de Natal”. Residia em Araci por
opção própria, pois gostava muito de cidades do interior de médio porte, razão
pela qual também já morou em Amargosa, Jequié e Serrinha.
Peltier desempenhou diversas
funções, tanto no serviço público estadual, quanto no municipal, ressaltando os
cargos de Avaliador Judicial da Comarca de Serrinha, 1973; Professor do Nível
Médio: História e Inglês do Colégio Comercial de Serrinha (particular) 1969;
Colégio Estadual Rubem Nogueira, em Serrinha, 1972; Gerente do CSU de Serrinha,
1976; Diretor de Cultura em São Francisco do Conde, Serrinha e Araci,
1985/2010; Diretor do Departamento Municipal de Feiras, Mercados e
Abastecimento de Salvador, 1982; Gerente Estadual de Promoção e Eventos do
Instituto Mauá, SETRABES, Salvador, 1987; Professor de Filosofia, Sociologia e
Artes do Colégio Interativo, em Araci. Dirigiu a CIA ICARASO DE TEATRO,
prestando trabalhos institucionais avulsos à Prefeitura Municipal de Araci,
lidando com as atividades e linguagens em Artes Cênicas junto a crianças e
jovens. É autor de diversos Projetos Culturais e Educacionais.
Recentemente, criou o PROJETO DE
EDUCAÇÃO POPULAR "PARA NÃO TER QUE PUNIR OS HOMENS!", no qual
apresenta peças teatrais temáticas e preventivas - Dengue, Prostituição
Infantil e Juvenil, Drogas, Bolsa Família, Educação Para o Trânsito, também
para o Lixo destinados a todos os níveis etários e de escolaridade, desde
criança até a maturidade e desenvolve oficinas, apresenta work-shop, Contação
de Histórias & Estórias, Poesias, Brincadeiras da Eterna Infância,
etc...
Fernando Peltier venceu o
Festival FESTEATRO, ano 3, realizado em Ilhéus, Bahia, em 1996, de caráter
nacional (participação de grupos de, Belo Horizonte e Lavras – MG, Goiânia e
Brasília/DF – Goiás e diversas cidades do estado da Bahia, na categoria
infantil, com “O Jardim das Abelhas”, de sua autoria. Teve também indicações às
premiações como o Troféu Bahia Aplaude com “O Jardim das Abelhas “,1996, e ao
Prêmio COPENE DE TEATRO, com “Pinóquio”, no ano 2000.
Em Araci realizou com o CIA
ICARASO nove espetáculos, a saber: “Força de Mulher”, “Pinóquio”, “Cochilou,
Cachimbo Caiu!” (Dengue), “Desespero de Mãe 1” (Drogas), “Desespero de Mãe 2”
(Prostituição Infantil e Juvenil), “Vida que Vem Melhorar” (Bolsa Família),
“Sinais de Inteligência!” (Educação para o Trânsito), “Auto do Presépio de
Natal”, “Auto das Dores de Cristo”, “Os Saltimbancos” e a comédia caipira “Fuga
num São João” com estreia na grade de
programação do “Arraiá do Raso”, no São João araciense de 2011.
Só mesmo uma grande paixão pelo
teatro é possível para participar de mais de 150 espetáculos teatrais em
diversas funções, destacando as de Autor, Diretor, Ator e Produtor Teatral. E
isso predominantemente no interior, onde o teatro é quase que ignorado pelas
autoridades. Fernando Peltier é responsável pelo surgimento de dezenas de
artistas de teatro, alguns de renome, que fizeram em criança ou na juventude,
parte como seus alunos nas suas escolas de arte. Eu sou um deles. Não segui a
carreira de ator, embora já tenha me profissionalizado ao seu lado, quando
fundamos a APATEDEBA – Associação Profissional dos Artísticas e Técnicos em Espetáculos
de Diversão do Estado da Bahia, ao lado de Benvindo Siqueira. Como professor,
uso o teatro para tentar vencer a ignorância. Até mesmo nas aulas planejadas,
até hoje, adiciono recursos aprendidos com Peltier no antigo CSU de Serrinha.
Perdemos Macaúbas, mas o céu haverá de ser seu novo palco. Palco de utopias,
literalmente.
Com informações complementares do Bahia Já e do Google Plus.