Landisvalth Lima
Marina Silva (PSB) |
Uma contradição está revelando a
verdadeira face do Brasil. Aqui, diferente do que ocorre em muitos países,
negro não vota em negro e pobre só vota em rico. Claro que isso não é regra
geral, mas, segundo pesquisa Datafolha, entre os que recebem o Bolsa Família,
Dilma chega a pontuar em 63 pontos. Marina não chega a 20.
Em reportagem do jornalista Brian Winters, da
Reuters, publicado no portal do UOL Eleições, os brasileiros podem fazer
história este mês caso Marina Silva (PSB), uma filha de seringueiros pobres da
Amazônia, seja eleita a primeira presidente negra do país. Ainda assim, Marina
encontra-se atrás da presidente Dilma Rousseff (PT), que tenta a reeleição pelo
PT, nas preferências entre os eleitores de ascendência africana.
A desvantagem, que contrasta com
o que aconteceu no caso do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, que foi
eleito em 2008 e reeleito em 2012 com massivo apoio dos norte-americanos
negros, pode custar a Marina a vitória em uma acirrada corrida presidencial. As
razões por trás das dificuldades de Marina ecoam com eloquência a própria
história brasileira e sua complexa relação com as questões raciais, assim como
espelha o recente progresso social que tem rendido à presidente Dilma favoritismo
para vencer a reeleição, apesar de uma economia em baixo crescimento.
Mas essa contradição também está
presente entre estudantes universitários, tidos como eleitores de Dilma para
evitar o retorno do PSDB ao governo. Não houve migração de eleitores de Dilma para
Marina, mas de indecisos e descrentes para Marina. Na maioria, classe média
alta e ricos. Nas últimas semanas, a Reuters entrevistou mais de vinte
brasileiros negros em três cidades. Muitos dizem que ficariam orgulhosos em ver
Marina vencer --especialmente em um país no qual os negros têm sido
historicamente sub-representados em governos, universidades e diversos outros
setores da sociedade.
No entanto, eles também afirmam
que estão mais focados na economia do que em qualquer outro fator. Desde que
assumiu o poder em 2003, o PT promoveu grandes avanços na redução da pobreza,
especialmente entre negros. Isto é mais uma espécie de desculpa para justificar
o voto. Salvador é a capital mais negra do Brasil e só teve, em toda sua
história, um único prefeito negro. "Ninguém quer voltar ao passado",
disse Gustavo Leira, um servidor público aposentado de 71 anos, em Brasília. A
raça da Marina é importante, disse ele, "mas não a coisa mais
importante".
Marina, cuja plataforma possui um
posicionamento mais ao centro e favorável ao mercado, tem em grande medida
evitado tocar no tema racial, refletindo uma longa tradição na política e na
sociedade brasileiras. A esmagadora maioria dos brasileiros evita discutir
questões raciais, preferindo, em vez disso, falar em termos de classe social. Ao
longo dos séculos, o Brasil recebeu 10 vezes mais escravos africanos do que os
Estados Unidos. O Brasil foi o último país das Américas a abolir a escravidão,
em 1888. Hoje, os negros brasileiros têm probabilidade três vezes maior do que
brancos de sofrer com a pobreza extrema. Entretanto, parece adorar os brancos e
odiar sua própria raça, quando a questão é poder.
Perguntada em uma entrevista à
Reuters na semana passada o que significaria ser a primeira presidente negra do
Brasil, Marina respondeu: "Não somente (isso)... Eu também seria a
primeira ambientalista. Tenho muito orgulho de minha identidade como mulher
negra", acrescentou ela. "Mas não faço uso da minha fé ou minha cor.
Vou governar para todos. Para negros, brancos, crentes e descrentes, independentemente
de sua cor ou condição social", afirmou. Seria uma bênção se tal comportamento
de negros e pobres fosse um indicativo da não existência do preconceito entre
nós, mas não é isso. Marina também é vítima do preconceito contra os
evangélicos, do mesmo jeito que o candomblé, o homossexualismo, o uso de drogas
e outros sofrem discriminação por parte de muitos segmentos evangélicos.
Em suma, parece que o que menos
importa é o programa, o preparo, o debate. Dilma, se vencer, não será por seus
méritos, mas por ser aliada de Lula e por causa dos programas sociais. Aécio,
se vencer, não será por ser um bom gerente, mas por ser antipetista. Marina,
mesmo se esgoelando para representar o novo, para fugir da dicotomia PT X PSDB,
pode perder para o seu próprio povo. A coisa é tão complexa que, em qualquer
país do mundo, o escândalo da Petrobras derrubaria um governo inteiro e
provocaria até suicídios dos políticos envolvidos. Aqui, principalmente entre
os pobres, político é ladrão mesmo. Se roubar e me der algo, é o cara. E ainda
tem gente que não entendeu por que Joaquim Barbosa pediu aposentadoria. Enquanto
ele lutava para colocar corruptos na cadeia, a maioria do povo brasileiro
aprovava o governo que permitiu a falcatrua. E não fica só por aí. Vários
políticos condenados pelos tribunais eleitorais dos estados lideram as
pesquisas ou constam em provável lista de eleitos. Só para citar: José Roberto
Arruda (DF), Paulo Maluf (SP), André Moura (SE) e por aí vai.