Izabelle Torres – da revista
ISTOÉ
Aécio e Dilma frente a frente em debate |
Os dois candidatos fazem ataques
e denúncias e usam dados que o adversário tenta desmentir. Mas levantamento de
ISTOÉ mostra que, na tática de distorcer dados, a campanha de Dilma tem
ultrapassado todos os limites
Poucas vezes na história se viu
uma campanha eleitoral tão agressiva e repleta de disputas de números
distorcidos, acusações e um festival de mentiras. A competição entre os
candidatos Aécio Neves (PSDB) e Dilma Rousseff (PT) acirrou ainda mais o clima
de animosidade dentro das campanhas. O tratamento entre os candidatos nas
aparições públicas, especialmente nos debates, deixa claro que a mais aguerrida
eleição presidencial transformou os adversários políticos em inimigos
ferrenhos. Como aconteceu no primeiro turno, quando o PT investiu na
desconstrução da candidata Marina Silva (PSB), o alvo agora é Aécio. Em vez de
apresentar projetos para tirar o País da estagnação, Dilma optou por um gesto
de desespero para virar o jogo e adota a estratégia da desconstrução do
adversário, mesmo que o custo disso seja a divulgação de dados imprecisos e
inverídicos. A disputa fica mais acirrada porque as estruturas de campanha
cresceram absurdamente, estão mais profissionais e, a cada ano, mais caras. As
guerrilhas virtuais contratadas para alimentar notícias, boatos e até calúnias
loteiam as redes sociais com o tom da guerra em andamento. Para esclarecer aos
eleitores o que há de verdade nos ataques trocados entre os candidatos, ISTOÉ
se debruçou nos dados oficiais e em estudos sobre alguns dos temas mais
recorrentes nessa disputa. O resultado (ver quadro) é um retrato evidente de
que a candidata Dilma Rousseff tem se valido muito mais de informações falsas
para acusar seu adversário do que o contrário.
Em alguns casos, a adulteração
dos fatos de maneira fraudulenta deixa clara a intenção de ludibriar o eleitor.
Um vídeo distribuído amiúde pelos petistas é uma prova do estratagema matreiro
adotado pela campanha do PT. Na gravação, Aécio Neves aparece votando contra o
projeto de valorização do salário mínimo em 2011, na sessão do Senado de 23 de
fevereiro daquele ano. O vídeo distribuído nas redes sociais sofreu uma edição,
com cortes dos minutos que antecedem a votação. A versão completa conta com o
discurso do então líder do PSDB, Álvaro Dias (PR), e do próprio Aécio Neves,
explicando que os tucanos votariam contra a proposta porque o texto estabelecia
salário de R$ 545 e eles defendiam um reajuste para R$ 600, um valor maior do
que a proposta governista. A oposição foi derrotada por 55 x 17 e o salário
fixado foi o valor desejado pelo governo. No debate da quinta-feira 16, Aécio
fez referência ao vídeo para ilustrar a campanha de mentiras que ele acusa o PT
de fazer.
O debate foi o resumo da guerra travada entre os
candidatos. Em vez da disputa de propostas e ideias, o encontro entre os dois
envolveu denúncias de nepotismo, corrupção e, também, calúnias. Os
presidenciáveis acusaram várias vezes o oponente de mentir. Apesar do tiroteio
mútuo, na reta final da campanha, a estrutura de marketing do PT é
inegavelmente quem mais investe pesado para desconstruir o adversário e
despertar na sociedade um sentimento de medo de futuros tempos difíceis, com
inflação descontrolada e desemprego em alta. Dilma afirma, por exemplo, que os
governos do PSDB nunca investiram em programas sociais e não priorizaram os
pobres, como faz o PT, que tirou 32 milhões de pessoas da pobreza e criou um
mercado de consumo de massa. Na verdade, o governo Fernando Henrique Cardoso
criou pelo menos 12 programas de transferência de renda. Em 2001, o governo
gastou cerca de R$ 1,8 bilhão com os programas Bolsa Alimentação, Peti
(Programa de Erradicação do Trabalho Infantil), Bolsa Escola e Brasil Jovem. No
ano seguinte, com a implantação do Vale Gás, o gasto foi a R$ 3,5 bilhões. Isso
sem contar que o Bolsa Família, carro-chefe da política social do PT, é
resultado da fusão e ampliação de todos os programas que já existiam desde os
governos do PSDB. A campanha petista, com grande contribuição da presidenta
Dilma Rousseff, também investe pesado para reduzir a credibilidade do
economista Armínio Fraga, anunciado pelo candidato tucano como futuro ministro
da Fazenda, caso ele seja eleito. No discurso eleitoral, Dilma insiste em que a
escolha feita por Aécio representa o sinal de que, para controlar a inflação,
serão feitos cortes que custarão os empregos dos brasileiros. Os ataques feitos
a Fraga são dissonantes do que diziam os petistas em 2002 e 2003, quando
herdaram a política econômica do governo tucano. Na época, Lula disse que o
então presidente do BC era “competente”. Em seu livro, “Sobre Formigas e
Cigarras”, o ex-ministro da Fazenda de Lula e da Casa Civil de Dilma, Antonio
Palocci, reconhece que o PT até cogitou manter Armínio por alguns meses à
frente do Banco Central, quando o partido ascendeu ao poder.
(Dê um clique nas fotos para ampliá-las)
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