Landisvalth Lima
Seleção Alemã - Campeã Mundial de 2014 |
A Copa do Mundo acabou. Era a sua
vigésima edição e a segunda a ser realizada no Brasil. De todas, esta foi a que
nos deixou uma melhor lição. Nós ainda somos o único país a papar cinco títulos
e a participar de todas as edições. Também temos vários outros recordes
negativos que não cabem aqui relacionar. O Brasil, como um todo, costuma adotar
um modelo e tem dificuldades em melhorá-lo ou transformá-lo. Costuma andar
sobre sapatos altos e tem dificuldades em enxergar que tudo passa por
transformações. Além do mais, quando a casa cai, fica procurando desculpas para
tentar justificar o injustificável.
Agora será possível perceber que
meia dúzia de oportunistas domina o futebol brasileiro e não mais tem
capacidade de melhorar o que está aí. Precisamos de uma transformação geral no
futebol brasileiro, na política deste país e também na sua economia. O modelo
está coberto de vícios e não nos permite pensar no futuro. A vitória da
Alemanha foi a vitória da organização, do planejamento, da paciência. No jogo
que acabou há pouco, o gol foi feito por um reserva, colocado no time para
substituir jogadores já carimbados pela passagem irremediável do tempo. A
Alemanha vem com um projeto desde o ano 2000. Foram 14 anos para conquistar
dois 3º lugares, um vice-campeonato e um título de campeão. Nada mal.
Enquanto isso, ficamos nós aqui com
a cara pintada de verde e amarelo, segurando a fitinha do Senhor do Bomfim e
esperando o milagre de uma bola chutada em direção ao gol do adversário.
Preenchemos os espaços da mídia com expressões do tipo “raça”, “força”, “fé”.
Não se ouve falar em “trabalho”, “planejamento”, “organização”. Enquanto na
Alemanha vão às escolas em busca de craques, aqui o Crack invade as escolas e
leva os nossos futuros Neymares, Messis, Ronaldos, Pelés, Garrinchas etc.
Costumamos acreditar em coisas
completamente ultrapassadas e inaceitáveis. Achamos que um homem sozinho pode
salvar uma nação, um estado ou um município. Não votamos em alguém porque ele
apresentou um projeto para algo, mas por ele ser torcedor do meu time, por ser
bonito, amável, elegante e falar as coisas que eu quero ouvir. No futebol,
acreditamos que Neymar sozinho resolveria tudo. Depois achamos que o Felipão
seria o salvador da pátria. Resultado: levamos o 7 a 1, o 3 a 0 e ainda
perdemos o artilheiro da copa para sempre.
E a copa não nos deixou apenas
sem o hexacampeonato. Deixou o pobre do governo do PT a explicar o
superfaturamento nestas obras, jamais inúteis mas nunca prioritárias. Agora
perceberemos o rombo nos gastos públicos, que seriam esquecidos com a euforia
da vitória. Dona Dilma também deve estar irritada. Sua vida poderia ser
facilitada no caminho da reeleição. O uso do marketing do hexa era um dos
braços da campanha. E nesse caso damos graças porque eleição não se deve ganhar
com lorotas.
Não podemos deixar de entender que todos os
defeitos da copa foram compensados pela receptividade do povo brasileiro ao
estrangeiro. A nossa amabilidade foi fenomenal. A Alemanha nos deu 7 motivos
para odiá-los, mas torcemos por eles na final contra a Argentina, não só pelos “Hermanos”,
pela rivalidade histórica, mas pela postura dos alemães em Cabrália, aqui na
Bahia. Mas é este mesmo povo que precisa exigir que não se convoque jogadores
reservas de times de 2ª divisão na Europa, só porque estão jogando naquele
continente.
Enfim, os erros foram muitos e
serão expurgados ao longo dos meses vindouros, efeito natural do vexame verde e
amarelo. Esse legado tem que ser aproveitado para ajudar a acabar com a
corrupção que enlameia nosso país, desde o futebol até a educação, permitir a
implantação de projetos sérios, que valorizem a organização, o planejamento e a
meritocracia. Que sejam afastados a incompetência, o oportunismo, o nepotismo,
o achismo e a repetição da mesmice e do atraso.