III Conferência Municipal de Cultura |
Aconteceu no último sábado, na
Câmara Municipal de Heliópolis, a III Conferência Municipal de Cultura, com o
tema “Uma Política de Estado Para a Cultura: Desafios do Sistema Municipal de
Cultura”. O evento foi divulgado no município e teria inicia às 9 horas da
manhã. O início se deu efetivamente às 10:45 com o pronunciamento em vídeo do secretário
de Cultura da Bahia, Antônio Albino Canelas Rubim, que falou da importância das
conferências de cultura no processo democrático brasileiro, dos resultados
apresentados durante a gestão do governador Jaques Wagner e dos desafios a
serem superados pela atual metodologia utilizada. Em seguida foi composta a
mesa com a diretora de cultura Joana Darte, seu pai – ex-prefeito José Emídio,
o Zé do Sertão – o secretário de educação, prof. José Quelton, o secretário de
agricultura José Guerra, a vereadora Ana Dalva, o diretor de esportes José
Sales, este blogueiro, o presidente da Associação da Maçaranduba, José Pereira,
e outros. A abertura foi feita pelo Vice-Prefeito José Gama Neves,
representando o titular da administração municipal. Em seguida, após alguns
pronunciamentos burocráticos, foi decretado o intervalo para o almoço. Pela
tarde, os pronunciamentos continuaram e o encerramento se deu a 16 horas.
Quando cheguei à Câmara Municipal percebi que
o público não era bom. Para dizer a verdade, sofrível. O tema cultura nunca foi
um atrativo em Heliópolis, mas as autoridades estão contribuindo para
sepultá-lo. Não se pode lamentar a ausência do público quando o prefeito e a
maioria dos secretários não comparecem. E isso num dia de sábado. Não precisava
ficar lá o dia todo, mas marcar presença, dar o incentivo necessário. Além
disso, pareciam peixes fora da água. O próprio Zé do Sertão deve ter ficado
triste porque, na época em que ele era prefeito, apesar dos inúmeros erros
cometidos, estavam lá grupos folclóricos, músicos de Heliópolis e de fora do
estado. Até mesmo na conferência do ano passado, sob a direção do ex-vice
prefeito Clóvis de Dulce, embora também um fracasso, houve apresentação de
grupo teatral e música. Não se pode esconder o sol com a peneira. O fracasso da
III Conferência de Cultura é fruto do fracasso das anteriores, do fracasso da administração
municipal, da incompetência dos seus dirigentes e do pouco caso que estamos
dando à cultura como um todo. Pode até servir para buscar recursos, mas não
para programar um desenvolvimento focado na melhoria da qualidade da nossa
produção cultural. Uma cidade que viu Helvécio Santana morrer sem ter produzido
um CD do mais importante músico da nossa história, e assistiu Alaelson do
Acordeon vender sua sanfona para honrar compromissos, por não ter recebido
pagamento das apresentações do São Pedro, não pode dizer que valoriza a cultura
em época nenhuma.
Todos os dirigentes anteriores
fracassaram porque nunca tiveram como objetivo o real desenvolvimento cultural
das pessoas e da sociedade. É duro ouvir a verdade de que estamos apenas
seguindo uma cartilha dos governos superiores para angariarmos recursos e
usá-los em mecanismos que nos garantam continuar no poder. O objetivo é a
manutenção das posições políticas. É continuar no “trono do apartamento, com a
boca escancarada cheia de dentes, esperando a morte chegar.”. É vegetar! Passar
por uma vida apenas para suprir o estômago e os prazeres e, se possível, ainda
ser ovacionado pelos cegos de visão futura. Querem provas? Onde estavam os
nossos músicos, as mulheres que fazem artesanato, os estudantes e professores
que escrevem, as cantoras de ladainhas, os dançarinos de quadrilhas juninas, os
atores de teatro amador, os cordelistas, os cantadores de Reis do Tijuco, os sanfoneiros,
as bandas de pífanos? Na plateia quase só se via funcionários públicos. Apesar
do esforço do vice-prefeito de tentar animar a gestão, a coisa estava mais
parecendo um velório. Além disso, o tom burocrático acentuou o fracasso.
Conferência é debate e temos que estar abertos a receber críticas, mesmo que
elas venham de um blogueiro indesejável.