Domingos Dutra afirma que Lula
deu razão a gente ordinária e Dilma está pagando o pato.
Blog do Fernando Rodrigues – do UOL
Domingos Dultra sai do PT depois de 33 anos. (foto: Sergio Lima/Folhapress) |
O deputado Domingos Dutra (PT-MA)
fez um discurso emocionado na 2ª feira (5.ago.2013) em Milagres do Maranhão,
interior do Estado, no qual deixou claro para todos os petistas que o ouviam:
ele deixará a legenda que ajudou a fundar, há 33 anos, para se filiar à Rede,
de Marina Silva. O motivo do rompimento é a aliança do PT com o senador José
Sarney (PMDB-AP). O deputado, que chegou a fazer greve de fome em 2010 contra o
apoio do PT à reeleição de Roseana Sarney, cansou de defender que seu partido
não se junte ao clã que domina a política maranhense há décadas. Em entrevista
ao Blog, ele afirma que Lula desperdiçou a chance de usar sua popularidade para
“oxigenar a política”. Para Dutra, o ex-presidente preferiu dar razão a “gente
ordinária, que está aí há séculos”, e hoje a presidente Dilma “paga o pato” por
essa escolha, virando alvo de protestos que pedem renovação na política. O
deputado avalia que é mais fácil o PMDB abandonar o PT, caso Dilma não se
reeleja presidente, do que o PT “se desgrudar” de Sarney. “2014 está chegando e
o PT continua no curral do Sarney”, afirma. Leia trechos da entrevista a
seguir:
Por que o senhor decidiu sair do
PT?
Em 2010, o diretório estadual do
PT definiu, contrariando a vontade do diretório nacional e pressões do governo
do Estado, uma aliança com o PC do B para o governo do Estado, apoiando o
Flávio Dino, que era deputado federal. O PC do B é aliado do PT desde a
primeira eleição, em 1989. Nosso encontro foi em março e de março até junho o
senador [José] Sarney ficou pressionando o presidente Lula. Ao final, Lula
determinou que o diretório nacional fizesse intervenção no diretório [estadual]
do Maranhão. E entregou o partido para o Sarney. Eu fiz greve de fome durante
10 dias. No final da grave de fome, nós fizemos um acordo e nesse acordo o diretório
nacional nos liberou para fazer campanha a favor do Flavio. Só que está
chegando 2014 e o PT do Maranhão continua no curral do Sarney. Diante dessa
situação, eu não posso continuar no partido. A não ser que o PT do Maranhão
saia do curral do Sarney.
Há chances de o PT romper com
Sarney?
Acho muito difícil. Eu não acho
que o PT vá sair, mas é possível o PT ser expulso pelo PMDB do Maranhão, do
Sarney, caso a presidente Dilma não melhore sua popularidade e o presidente
Lula não puder ser candidato. Se o PT não tiver um candidato competitivo, o
PMDB larga o governo e vai se juntar com o Aécio [Neves]. Aí acho que eles expulsam
o PT e se agregam ao PSDB.
Nessa hipótese, o sr.
permaneceria no PT?
Se o PT se desgrudar do Sarney,
eu reavalio a minha saída. Apesar de todos os problemas nacionais que o partido
tem, eu acho que ainda dá pra disputar o PT ainda. Agora, em nível local é
impossível, porque não dá para conciliar.
Qual é sua relação com a Rede, de
Marina Silva?
Estou desde fevereiro de 2013
ajudando a fundar o Rede. Como tem a fidelidade partidária, eu só posso me
desfiliar do PT na hora que tiver um outro partido sendo legalizado no TSE
[Tribunal Superior Eleitoral]. Fundou o partido, eu tenho 30 dias para sair de
um e entrar no outro. Estou no processo de formação da Rede e numa contagem
regressiva para me desfiliar do PT.
Além do sr., mais alguém do PT no
Maranhão pretende ser filiar à Rede?
Tem vários militantes. Mas eu não
estou fazendo campanha para grandes militantes saírem do PT e irem para a Rede.
Primeiro, tem que legalizar o partido, para depois… Agora, eu acho que
legalizando, vai sair muita gente. O [deputado estadual] Bira do Pindaré está
discutindo.
Nesta semana, o sr. fez um
discurso emocionado em Milagres do Maranhão anunciando a sua saída do PT. Como
seus companheiros de partido reagiram?
Muitos não querem que eu saia, e
nessas reuniões que eu estou fazendo com o Flávio Dino, chamadas “Diálogos”, juntam
muitos petistas. Então eu aproveitei para explicar por que estou saindo. É
evidente que isso emociona, ninguém rompe 33 anos de história de forma fria. Eu
não tenho histórico [familiar] de político, eu venho de baixo, sou filho de
camponeses, minha mãe era quebradora de coco, meu pai era lavrador, nasci num
quilombo, estou no PT desde 80, nós abrimos a picada. Cheguei até aqui, nunca
me envolvi com corrupção, nunca peguei um tostão de empresários pra fazer
campanha, sempre faço minhas campanhas a pé, demos o melhor da nossa vida pelo
PT e pela liderança do presidente Lula, então é evidente que isso emociona.
Então, talvez pela emoção do anúncio, deu essa repercussão.
O projeto do PT se esgotou?
Eu acho que tem muita gente boa
no PT, tem lideranças extraordinárias. O governo fez muita coisa boa, tanto o
presidente Lula como a presidente Dilma. O erro foi na política porque, ao
invés de oxigenar a política, o presidente Lula deu muita razão pra gente
ordinária, pra política tradicional, que está aí há séculos. Por isso que está
pagando o pato hoje. A presidente Dilma está pagando esse preço alto porque o
presidente Lula teve a chance, com a sua popularidade, de oxigenar a política,
e não oxigenou. Preferiu figuras como o Sarney, o [Fernando] Collor, Jader [Barbalho],
e assim por diante.
O sr. vai se candidatar a qual
cargo em 2014?
Como eu estou saindo do PT e a
Rede ainda não existe, estou colocando meu nome como pré-candidato a senador.
Se a Rede surgir, é pela Rede. Eu estou em segundo lugar nas últimas pesquisas,
o campeão é o candidato do governo, que pode ser o [ministro das Minas e
Energia] Edison Lobão [PMDB]. Mas, sem estrutura nenhuma, eu estou em segundo
lugar.
(Bruno Lupion)