MÁRCIO FALCÃO, JOHANNA NUBLAT e ERICH
DECAT – da Folha de São Paulo
Heloísa Helena e Marina Silva |
Em sua primeira manifestação no
lançamento de seu novo partido, a ex-senadora Marina Silva disse neste sábado
(16) que a ideia de criar uma nova legenda não é apenas para se colocar em uma
eleição e criticou o "caciquismo" na política. Ela disse que a rede,
como é chamado o movimento, deve se colocar para quebrar a "lógica de partidos
a serviço de pessoas". "O que está acontecendo aqui é um partido para
questionar a si próprio, e tem que ser assim. Não pode ser partido para
eleição. Não é o principal. Estamos em uma nova visão de mundo, de sujeito
político que não é mais espectador da política, esse sujeito é protagonista",
afirmou, sendo fortemente aplaudida. "Não tem conformação com o modelo
anterior. É o questionamento das estruturas verticalizadas. Saímos de um
ativismo dirigido pelo sindicato, pela ONG, pelo DCE, com a modernização do
ativismo autoral. Você não tem estrutura na frente ou atrás das pessoas, você
tem estruturas ao lado", disse. "Não tem liderança carismática que
possa ser o grande líder, o messias, o condutor do grande grupo",
completou. Sem anunciar o nome da nova legenda, Marina disse que a ideia é
fazer alianças pontuais, mas sem se rotular como governo ou oposição. "Não
é mais liderança única, é liderança multicêntrica, não é movimento de arco e
flecha. Uma hora sou arco e outra sou flecha, só espero não ser o alvo." Ela
disse que foi questionada sobre o posicionamento que adotaria em relação ao
governo Dilma e afirmou que não terá posição fechada. "Estamos na época ao
paradoxo, nem situação, nem oposição a Dilma. Precisamos de posição. Se Dilma
estiver fazendo algo bom, vamos apoiar. Se não, não. Parece ingênuo. mas não
tem nada de ingênuo". A ex-senadora Heloísa Helena (AL), que vai deixar o
PSOL para ingressar na nova sigla, também fez um discurso em defesa da ética na
política. Ela cobrou que os militantes tenham esse compromisso. "Nós não
temos preços na testa", disse. Em seguida, ela lançou o nome de Marina
para a Presidência em 2014, levantando os mais de 500 participantes do evento
que gritaram: "Brasil urgente, Marina presidente". Marina comparou a
criação de sua sigla ao lançamento do PT nos anos 80 e 90. No evento, três
deputados federais e três vereadores foram anunciados como fundadores do
partido. Farão parte do projeto os deputados Domingos Dutra (PT-MA), Walter
Feldman (PSDB-SP) e Alfredo Sirkis (PV-RJ). Também estão em conversa com o
partido, mas não foram citados, Ricardo Tripoli (PSDB-SP), Reguffe (PDT-DF) e
Alessandro Molon (PT-RJ). Também estava no evento e será uma das fundadoras a
ex-senadora Heloísa Helena. Indiretamente, ela minimizou a falta de um grande
leque de apoiadores, justificando que nem todos que partilham do projeto terão
atuação no partido. "Nós somos um movimento, e tem gente desse movimento
que vai continuar em outros partidos, mas são do movimento". Marina disse
que a rede nasce do "desconforto com o que está acontecendo no Brasil e no
mundo pela estagnação do poder pelo poder, do dinheiro pelo dinheiro". A
ex-senadora defendeu que é preciso enfrentar crises política, ética, econômica
ambiental que têm como base os problemas no sistema político. "São pessoas
de um partido criando uma ferramenta para atuar na política". Para ser
criado, o novo partido precisa recolher e registrar na Justiça Eleitoral 500
mil assinaturas.
Estatuto do novo partido
apresenta pontos divergentes
A Folha acompanhou parte de uma
reunião preparatória para a apresentação, realizada ontem em uma casa de
eventos de Brasília. Ao lado de Marina Silva, participaram do encontro a
ex-senadora Heloisa Helena e os deputados Walter Feldman (PSDB-SP) e Domingos
Dutra (PT-MA). Há um impasse na questão das doações. Na reunião alguns
integrantes levantaram a possibilidade de haver doações só por parte das
pequenas e médias empresas. Outros, mais radicais, defendiam uma "campanha
de brechó", da qual só pessoas físicas poderiam fazer doações. O texto
preliminar também restringe as doações de empresas de bebidas alcoólicas,
cigarros, armas e agrotóxicos. Também há controvérsia sobre a validade, de no
máximo 16 anos, de mandato para um parlamentar. Alguns fundadores do partido
defendem só dois mandatos seguidos. Sobre a questão de só integrarem
"fichas limpas", alguns dos membros levantaram a possibilidade de se
abrir uma brecha para quem tiver problemas com a Justiça em razão de
envolvimento com movimentos sociais. As discussões sobre o estatuto continuam
hoje. Com a palavra, Marina Silva disse que não quer um partido para ser
candidata à Presidência, mas não descartou a possibilidade de o partido lançar
um nome: "Se dentro dessa estratégia uma candidatura, seja lá de quem for,
que esteja apto a levar nossas ideias para frente, se colocar, nós vamos até
ter candidato".
HOSPEDAGEM
Para receber os militantes, foram
criadas vagas de hospedagem "solidária" em Brasília. "Vou
hospedar cinco: dois amigos de São Paulo, dois do Paraná e um do Rio Grande do
Sul. Vai ficar bem apertado, porque meu apartamento tem 50m²", afirma o
sociólogo Pedro Piccolo. Leo Cabral, que abriga três pessoas em seu
apartamento, diz que o objetivo é reduzir os custos. "A ideia é tentar ser
aberto, não limitando a participação das pessoas por questões econômicas",
diz André Nahur, que abriga um universitário mineiro.