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Neópolis - Cidades do Velho Chico - 31

O PCC no Paraguai


                       Por Odilon Oliveira (*)
O Juiz Federal Odilon Oliveira
A facção já se encontra em franca atuação em território paraguaio há uma década, onde, como aqui, afronta o poder constituído. Decide sobre a vida e sobre a morte. Seus integrantes praticam as mesmas atrocidades e com maior possibilidade de não serem alcançados.
POR QUE O PCC ESTÁ NO PARAGUAI?
No Brasil, a estimativa consiste em que, de cada cinco presos, um é membro ou simpatizante do Primeiro Comando da Capital. São 515 mil presos, isto fora os integrantes e aderentes que estão soltos e que cumprem ordens da organização. Fica fácil estimar a quantidade.
No Paraguai, o contingente não é tão grande, mas todos são bem preparados para missões institucionais específicas: a) compra de drogas, inclusive diretamente das FARC, eliminando atravessadores; b) compra de armamento pesado; c) prática de sequestros econômicos; d) lavagem de dinheiro, haja vista a grande quantidade de casas de câmbio. O Paraguai é um reduto de traficantes brasileiros e serve de esconderijo para os que fogem da justiça brasileira.
ALGUMAS AÇÕES DO PCC NO PARAGUAI
O tráfico de drogas, que gera 70% da receita do PCC, e o contrabando de armas e de explosivos são práticas intensas e rotineiras do Paraguai para o Brasil. A organização participou e continua participando de grandes eventos criminoso: a) sequestro da empresária Edith Bordon, cujo cativeiro, de 2001 para 2002, durou 20 dias. Rendeu 1 milhão de dólares aos sequestradores, que serviu para financiamento da guerrilha colombiana e de novos sequestros no Paraguai. O sequestro foi idealizado pelas FARC e executado por integrantes também do PCC e do PPL – Partido Pátria Livre, organização de esquerda paraguaia. Na época, o paraguaio Manuel Cristaldo Mieres já ensaiava para ingressar no PCC, e efetivamente o fez; b) sequestro de Cecílias Cuba, filha do ex-presidente Raul Cubas, ocorrido em setembro de 2004, durando o cativeiro seis meses, até fevereiro de 2005, quando a vítima foi assassinada. Os 5 milhões de dólares do resgate serviriam para a montagem de uma base das FARC no Paraguai. O crime foi idealizado pelas FARC e executado por integrantes do PCC e da organização de esquerda paraguaia PPL. Os sequestradores Manuel Cristaldo Mieres e sua irmã Magna Meza Martinez, ligados ao Partido Pátria Livre, já integravam, naquele país, o PCC; c) assalto ao Banco ABN, em Assunção-PY, com a participação maciça de integrantes do PCC, frustrado graças a atuação da polícia paraguaia; d) sequestro do japonês Hirokazu Ota, em maio de 2007, sendo chefiado pelo brasileiro Valdecir Pinheiro, representante do PCC e acusado, no Paraguai, de nove sequestros. Em 2008, noutro confronto, a polícia paraguaia o assassinou; e) atentado contra o Senador Robert Acevedo, ex-governador do Departamento de Amambay, em abril de 2010, como vingança por sua luta contra o narcotráfico e o PCC naquele país. Foram 40 tiros de fuzis contra seu veículo, morrendo toda a sua escolta. O senador recebeu dois tiros e escapou por milagre; f) invasão do presídio de segurança máxima de Pedro Juan Caballero, em maio de 2011, por integrantes do PCC, quando foram resgatados seis membros brasileiros e um paraguaio.
FINALIDADES DAS FARC NO PARAGUAI
A principal finalidade é divulgar sua ideologia na América do Sul, seguindo o desejo de obter reconhecimento oficial e apoio político. No ramo dos negócios escusos, estão a negociação de armas e cocaína e o estreitamento de laços com o PPL e o Primeiro Comando da Capital, este seu grande cliente na aquisição de drogas.
PERIGOSA ALIANÇA
O PCC atua, no Paraguai, com respaldo das FARC, do PPL e do EPP – Exército do Povo Paraguaio, além do Comando Vermelho. O EPP, o PPL e as FARC são organizações inspiradas na doutrina marxista/leninista, que lutam por uma sociedade igualitária, sem classes, com governo proletariado e, decorrentemente, por uma economia estatizada, monopolizada, com abolição da propriedade provada. O PCC e o Comando Vermelho não alimentam essa ideologia, mas atacam o estado-repressor, representado pelo judiciário, ministério público, polícia e sistema penitenciário, como meio para a busca desenfreada do lucro. Todavia, todas essas organizações, sem exceção, para a consecução de um fim, usam da violência física ou psicológica contra pessoas ou bens, intimidando o Estado, autoridades e a população. O Brasil não sabe dimensionar o potencial do PCC, individualmente, e o risco da aliança entre essas facções.
(*)Odilon de Oliveira, nasceu em 26/02/1949, na Serra do Araripe, município de Exu, Pernambuco. Filho de pais lavradores, trabalhou na roça até os 17 anos de idade. Foi alfabetizado na roça, à noite, em sua própria casa, após ter dia inteiro de trabalho. Entrou tarde na faculdade de Direito, vindo a se formar aos 29 anos de idade. Foi Procurador Autárquico Federal, Promotor de Justiça, Juiz de Direito. É Juiz Federal desde 1987. Sempre trabalhou em fronteiras como magistrado federal, na área criminal: Mato Grosso, Rondônia e Mato Grosso do Sul. Já condenou centenas de traficantes internacionais. Atualmente, é titular da única vara especializada no processamento dos crimes financeiros e de lavagem de dinheiro de Mato Grosso do Sul, com jurisdição sobre todo o Estado. Seu maior sonho é ver a juventude livre das drogas.