As razões para os conflitos entre
estudantes dentro das escolas vão desde brigas provocadas por disputa por
namorados, cortes de cabelo e times de futebol até facadas por questões ligadas
ao tráfico de drogas
Jorge Gauthier e Luana Ribeiro –
da redação do CORREIO
Familiares não quiseram falar durante sepultamento do corpo de Thailson, morto em frente à escola. (Foto: Almiro Lopes) |
Diariamente, estudantes trocam as
carteiras escolares pelos bancos da Delegacia para o Adolescente Infrator
(DAI), em Brotas. Em 136 dias letivos de 2012 –, excluindo o recesso junino, os
feriados e quatro dias de paralisações nacionais -, foram registradas 138
ocorrências policiais envolvendo estudantes em escolas das redes estadual,
municipal e particular.
As razões para os conflitos entre
estudantes dentro das escolas vão desde brigas – com lesões corporais –
provocadas por disputa por namorados, cortes de cabelo e times de futebol até
facadas por questões ligadas ao tráfico de drogas.
Das 138 ocorrências registradas
este ano, 103 aconteceram dentro de escolas da rede estadual de ensino, segundo
a delegada Claudenice Mayo, titular da DAI - e durante 115 dias os professores
estaduais estiveram em greve, o que afetou o funcionamento da maioria das
escolas de Salvador. “São fatos que aconteceram dentro ou na porta das escolas.
Todo dia tem um registro policial envolvendo aluno de alguma escola aqui na
delegacia”, pontua.
Na quinta-feira (20), o estudante
Thailson da Silva Paranhos, 17, foi morto a facadas em frente à Escola Estadual
Teodoro Sampaio, em Pirajá. Ele vestia a farda da Escola Estadual Alberto
Santos Dumont. Segundo a polícia, ele teria ameaçado um aluno da Teodoro
Sampaio.
O corpo do estudante foi
sepultado ontem à tarde no Cemitério Municipal de Pirajá. Além dos familiares,
colegas da escola compareceram fardados à cerimônia. A família de Thailson não
quis falar com a imprensa. Até ontem, ninguém tinha sido detido.
E esse foi o segundo caso na
mesma semana. Na segunda-feira, Emile Raiana Barbosa dos Santos, 14, foi morta a facadas em
Periperi, depois de uma briga em que sua irmã se envolveu na Escola Estadual
Felipe Busquet. O principal suspeito é um homem de prenome Cleidson.
A Secretaria da Educação do
Estado (SEC), através da assessoria, disse desconhecer a quantidade elevada de
ocorrências registradas na DAI, informou que vai solicitar dados oficiais à
Polícia Civil e que só então se pronunciará sobre as medidas que toma. A SEC
pontua que é feito um acompanhamento diário dos casos de agressão que acontecem
dentro das escolas junto com a Ronda Escolar da PM.
Motivações
Dos registros de ocorrências
feitos este ano, há atos infracionais ocorridos em escolas de mais de 70
bairros. “Eles discutem por tudo dentro da sala. Às vezes por um corte de
cabelo que um acha feio começa o bullying e quando vemos a situação já é de
confronto físico entre os alunos”, conta uma professora de Português que trabalha
há 15 anos na rede estadual.
“Em anos anteriores já tivemos
casos de estupro e de homicídios até dentro da sala de aula. Esses atos são
resultado da violência que os estudantes já carregam da vida externa para as
escolas”, diz Mayo.
A entrada de armas,
principalmente brancas, dentro das escolas, é questão complicadora da
segurança. A falha de segurança, segundo a delegada, só pode ser resolvida com
trabalho conjunto de pais e professores. “As escolas são inseguras. Já se
pensou até em colocar detector de metais, mas não foi viável. É fundamental que
os pais observem os pertences dos seus filhos e que as escolas façam vigilância
constante”, diz Mayo.
Ontem, a delegada Claudenice Mayo
realizou uma palestra no Colégio Estadual Brigadeiro Eduardo Gomes, em Brotas.
Falou sobre os direitos e deveres dos adolescentes. Na exibição, os alunos
sabiam responder de imediato questões relacionado a crimes. “Eles convivem com
a criminalidade e acaba sendo uma rotina falar dessas coisas”, diz a delegada.
Município
Segundo os dados da DAI, 26 agressões
ocorreram em escolas da rede municipal de Salvador. A Secretaria Municipal da
Educação, Cultura, Esporte e Lazer (Secult) informou que não utiliza equipamentos como câmeras ou
detectores de metais.
“É uma questão muito delicada,
pois apesar de oferecerem defesa contra a violência, (os equipamentos) criam um
clima pesado no ambiente escolar”, diz a coordenadora de ensino da Secult,
Gilmária Cunha. Ela destaca, entre as ações da secretaria, o projeto Mediando
Conflitos nas Escolas, realizado em 47 instituições da rede com turmas do 6º ao
9º ano (5ª à 8ª série), que promove ciclos de palestras com psicólogos e
personalidades do esporte.