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Nossa Senhora de Lourdes - Cidades do Velho Chico 21

A república da mentira

                              Landisvalth Lima
A mentira é a ação mais comum da nossa República
Se algum dia puder fazer o meu doutorado, espero fazê-lo pautado num tema caro: a mentira como ação de governo no Brasil. Sei perfeitamente que ela está aí no nosso dia-a-dia. Machado de Assis vive a relatar que a nossa sociedade burguesa capitalista está calcada na mentira. Começa pelo cemitério. Todos são bons depois de mortos e deixarão saudades eternas de esposas, filhos, netos e cia. Ninguém é caloteiro, demagogo, traidor, farsante, canalha, ladrão etc. Esta mentira não se pode combater. Em alguns casos ela é até lenitivo para a dura vida que vivemos. Mas o que os governos republicanos no Brasil têm feito tendo como base a lorota, a falsa informação e a propaganda enganosa não está escrito em lugar algum.
O início disso tudo está lá no passado inicial da República. A guerra de Canudos foi nosso berço loroteiro. Pintaram Antônio Conselheiro como capaz de destruir o novo regime e reimplantar a monarquia, só porque Cícero Dantas, o Barão de Jeremoabo, temia perder dinheiro e poder. Esta mentira custou a morte de algo em torno de 25 mil pessoas. Mais de 300 seguidores do Conselheiro foram covardemente degolados pelo Exército na noite do dia 2 para o dia 3 de outubro de 1897, mesmo depois de se entregarem após a palavra do General Artur Oscar de mantê-los vivos.
Teria aqui mil outros exemplos do passado, mas vou dar um pulo de era e chegar aos tempos atuais. Passarei por cima das mentiras de Lula e Dilma, da propaganda do bolivarianismo que fala português. Quero tratar da minha Bahia. Trago aqui pérolas de mentiras sobre o propalado aumento do servidor público. As mentiras são tantas que já viraram piadas. Uma delas se refere aos professores: “O Governo da Bahia vem praticando uma política abrangente de valorização da carreira do Magistério. Desde 2009, quando foi instituído o Piso Salarial Nacional do Magistério, o governo vem adotando valores até mesmo superiores a este piso. Em 2015, ao conceder o reajuste linear, esta política salarial será mantida.” Eu nem mesmo vou me referir aos outros anos porque todos sabem o porquê daquela bendita greve de 115 dias. Mas o avanço linear dado por Rui Costa é de 6,41%. Diria então o defensor do PT: É o reajuste da inflação! Quer mais!?
Explico. O governador Rui Costa está apenas continuando a política de arrocho salarial iniciada no governo de Jaques Wagner. A proposta de reajuste do funcionalismo estadual, é só fazer as contas, determinará uma perda de 3,41% em relação ao período janeiro-dezembro de 2014, quando a inflação alcançou 6,41%. Além disso, os professores teriam que ter aumento de 13,01%, como determina a Lei do Piso Nacional dos Professores. Além do pouco percentual, o reajuste vem parcelado em 3,55% retroativos a março e 2,91% a partir de novembro, quando a reposição da inflação do ano passado exigiria a aplicação do índice de 6,41% desde janeiro.
A mentira vem desde 2013, quando o governo Wagner aplicava reajustes segmentados e sem retroatividade. De lá para cá, o salário do funcionalismo foi achatado em cerca de 10% e o dos professores em percentuais ainda maiores, levando em consideração a Lei do Piso da categoria. Para a mentira se consolidar, o governo baiano diz que o aumento na folha de pagamento será de R$ 390 milhões. Como são 260 mil servidores, é só fazer a conta de quanto cada um receberá em média em 2015, algo em torno de 139 reais mensais em média. E isto é vendido como uma grande conquista do servidor. O governo não diz que, em muitos casos, não dá nem mesmo para pagar a conta de luz mensal. Também não diz que, como o aumento não é a partir da data base do servidor, só nos meses de janeiro e fevereiro o governador Rui Costa tirou do servidor o direito líquido e certo de algo em torno de 280 reais, ou, em números totais, 73 milhões.
É muita mentira. Até no Paraná, estado que tem um povo vivendo em condições de vida bem melhores que a nossa, mesmo a televisão mostrando a polícia descendo o pau em professores, o Beto Richa, já acostumado ao uso do óleo de peroba, disse que a polícia “estava parada”, não fez nada. Foram os “baderneiros” e etc. Meu Deus! E ainda tem gente que defende tais comportamentos como adequados, corretos. Há petistas que chegam a dizer que o Rui Costa é o cara, o estadista! E os amantes do tucanato dizem que Beto Richa é um homem de princípios éticos e morais!
Que o homem comum acredite nesta lorota toda, por força da mídia governamental, é até aceitável num país de baixos e vergonhosos índices educacionais de qualidade. Entretanto, chega a ser inimaginável ler ou ouvir o que disse um representante dos trabalhadores. Para a coordenadora da Fetrab, Marinalva Nunes, “o governador apontou um cenário que contempla a reposição da inflação para o funcionalismo. Isso é um avanço porque nós conseguimos cumprir os princípios fundamentais da campanha salarial 2015 e os acordos setoriais firmados no ano passado”. Segundo ela, os pilares principais são o reajuste linear, os acordos setoriais, o repasse da inflação e o piso do magistério. “Isso quer dizer uma ação positiva do governador.” É uma pena que a mentira não seja um dos sete pecados capitais e algo suficiente para mandar alguém ao inferno ou à sentença de morte.