Landisvalth Lima
A mentira é a ação mais comum da nossa República |
Se algum dia puder fazer o meu
doutorado, espero fazê-lo pautado num tema caro: a mentira como ação de governo
no Brasil. Sei perfeitamente que ela está aí no nosso dia-a-dia. Machado de
Assis vive a relatar que a nossa sociedade burguesa capitalista está calcada na
mentira. Começa pelo cemitério. Todos são bons depois de mortos e deixarão
saudades eternas de esposas, filhos, netos e cia. Ninguém é caloteiro,
demagogo, traidor, farsante, canalha, ladrão etc. Esta mentira não se pode
combater. Em alguns casos ela é até lenitivo para a dura vida que vivemos. Mas
o que os governos republicanos no Brasil têm feito tendo como base a lorota, a
falsa informação e a propaganda enganosa não está escrito em lugar algum.
O início disso tudo está lá no
passado inicial da República. A guerra de Canudos foi nosso berço loroteiro.
Pintaram Antônio Conselheiro como capaz de destruir o novo regime e reimplantar
a monarquia, só porque Cícero Dantas, o Barão de Jeremoabo, temia perder
dinheiro e poder. Esta mentira custou a morte de algo em torno de 25 mil
pessoas. Mais de 300 seguidores do Conselheiro foram covardemente degolados
pelo Exército na noite do dia 2 para o dia 3 de outubro de 1897, mesmo depois
de se entregarem após a palavra do General Artur Oscar de mantê-los vivos.
Teria aqui mil outros exemplos
do passado, mas vou dar um pulo de era e chegar aos tempos atuais. Passarei por
cima das mentiras de Lula e Dilma, da propaganda do bolivarianismo que fala
português. Quero tratar da minha Bahia. Trago aqui pérolas de mentiras sobre o
propalado aumento do servidor público. As mentiras são tantas que já viraram
piadas. Uma delas se refere aos professores: “O Governo da Bahia vem praticando
uma política abrangente de valorização da carreira do Magistério. Desde 2009,
quando foi instituído o Piso Salarial Nacional do Magistério, o governo vem
adotando valores até mesmo superiores a este piso. Em 2015, ao conceder o
reajuste linear, esta política salarial será mantida.” Eu nem mesmo vou me referir
aos outros anos porque todos sabem o porquê daquela bendita greve de 115 dias.
Mas o avanço linear dado por Rui Costa é de 6,41%. Diria então o defensor do
PT: É o reajuste da inflação! Quer mais!?
Explico. O governador Rui Costa
está apenas continuando a política de arrocho salarial iniciada no governo de
Jaques Wagner. A proposta de reajuste do funcionalismo estadual, é só fazer as
contas, determinará uma perda de 3,41% em relação ao período janeiro-dezembro
de 2014, quando a inflação alcançou 6,41%. Além disso, os professores teriam
que ter aumento de 13,01%, como determina a Lei do Piso Nacional dos
Professores. Além do pouco percentual, o reajuste vem parcelado em 3,55%
retroativos a março e 2,91% a partir de novembro, quando a reposição da
inflação do ano passado exigiria a aplicação do índice de 6,41% desde janeiro.
A mentira vem desde 2013, quando
o governo Wagner aplicava reajustes segmentados e sem retroatividade. De lá
para cá, o salário do funcionalismo foi achatado em cerca de 10% e o dos
professores em percentuais ainda maiores, levando em consideração a Lei do Piso
da categoria. Para a mentira se consolidar, o governo baiano diz que o aumento
na folha de pagamento será de R$ 390 milhões. Como são 260 mil servidores, é só
fazer a conta de quanto cada um receberá em média em 2015, algo em torno de 139
reais mensais em média. E isto é vendido como uma grande conquista do servidor.
O governo não diz que, em muitos casos, não dá nem mesmo para pagar a conta de
luz mensal. Também não diz que, como o aumento não é a partir da data base do
servidor, só nos meses de janeiro e fevereiro o governador Rui Costa tirou do
servidor o direito líquido e certo de algo em torno de 280 reais, ou, em
números totais, 73 milhões.
É muita mentira. Até no Paraná,
estado que tem um povo vivendo em condições de vida bem melhores que a nossa,
mesmo a televisão mostrando a polícia descendo o pau em professores, o Beto
Richa, já acostumado ao uso do óleo de peroba, disse que a polícia “estava
parada”, não fez nada. Foram os “baderneiros” e etc. Meu Deus! E ainda tem
gente que defende tais comportamentos como adequados, corretos. Há petistas que
chegam a dizer que o Rui Costa é o cara, o estadista! E os amantes do tucanato
dizem que Beto Richa é um homem de princípios éticos e morais!
Que o homem comum acredite nesta
lorota toda, por força da mídia governamental, é até aceitável num país de baixos
e vergonhosos índices educacionais de qualidade. Entretanto, chega a ser
inimaginável ler ou ouvir o que disse um representante dos trabalhadores. Para
a coordenadora da Fetrab, Marinalva Nunes, “o governador apontou um cenário que
contempla a reposição da inflação para o funcionalismo. Isso é um avanço porque
nós conseguimos cumprir os princípios fundamentais da campanha salarial 2015 e
os acordos setoriais firmados no ano passado”. Segundo ela, os pilares
principais são o reajuste linear, os acordos setoriais, o repasse da inflação e
o piso do magistério. “Isso quer dizer uma ação positiva do governador.” É uma
pena que a mentira não seja um dos sete pecados capitais e algo suficiente para
mandar alguém ao inferno ou à sentença de morte.