Carlinhos Cachoeira (Foto: Roosewelt Pinheiro/ABr) |
ÉPOCA tem acesso a diálogos em que o bicheiro comemora
nomeação e contratos milionários com a CEF. Procurada pela reportagem, o banco
afirma que vai abrir processo para apurar o caso
ANDREI MEIRELES - do portal da revista ÉPOCA
ÉPOCA teve acesso com exclusividade a diálogos gravados que mostram como a turma do bicheiro Carlinhos
Cachoeira atua para conseguir negócios milionários com a Caixa Econômica
Federal. Em uma conversa gravada pela Polícia Federal, em 14 de abril de 2011,
o empresário Cláudio Abreu, então diretor da Delta Construções para o
Centro-Oeste, diz, aos gritos, para Cachoeira que eles haviam ganhado um grande
contrato com a CEF: a construção em Brasília do Centro Tecnológico da Caixa,
uma obra no valor de R$69,7 milhões.
Cachoeira também tinha uma boa notícia para dar para o
parceiro Cláudio Abreu. Ele diz que “a Marise” é a nova superintendente da
Caixa Econômica em Goiás. Segundo Cachoeira, Marise havia sido indicada por
Marcelo Limírio, do laboratório NeoQuímica, também sócio de Cachoeira. “Marise”
é Marise Fernandes de Araújo, uma funcionária de carreira que assumiu a
Superintendência da CEF 20 dias depois da conversa entre Abreu e Cachoeira.
“Vou levar ela aí para você conhecê-la”, diz Cachoeira. Cláudio Abreu diz que é
importante: “Sabe por quê? As obras de saneamento aí do PAC em Catalão, que nós
vamos fazer. Isso tudo vai depender da superintendência”, afirma Abreu. Sete
meses depois desse diálogo entre Cachoeira e Abreu, a empresa Delta foi
contratada, no dia 22 de novembro de 2011, para fazer obras de saneamento em
Catalão. Valor do contrato: R$ 25, 1 milhões.
Numa terceira conversa gravada, na noite de 14 de abril de
2011, Cachoeira e Abreu voltaram a falar sobre o contrato para a construção do
centro tecnológico da Caixa. “Carliiiinhos, que vitória lá em Brasília! Essa
obra da Caixa. É o edifício digital da Caixa”, diz Abreu, vibrando. “Excelente,
Cláudio! Excelente”, diz Cachoeira. “Isso para nós vai ser muito bom. Vamos
fazer um negócio bacana, bonito, show de bola”. Carlinhos Cachoeira também se
empolga: “Vamos matar a pau, Cláudio, matar a pau”.
A Caixa afirma que a Delta Construções venceu uma licitação,
na qual cumpriu todos os requisitos técnicos e legais e não sofreu qualquer
tipo de contestação. Mas, diante das gravações feitas pela Polícia Federal, a
diretoria da CEF determinou uma avaliação sobre os procedimentos adotados na
licitação. “A Caixa, em respeito à transparência dos atos da administração,
embora não tenha verificado nenhum procedimento em desacordo com os aspectos
legais que orientam a contratação, instaurará processo de análise preliminar
para rever todos seus aspectos, assim como solicitará uma auditoria no
processo”, afirma a CEF, em nova enviada a ÉPOCA.
Quanto às obras de saneamento em Catalão – ampliação do
sistema de esgotamento sanitário da cidade –, a Caixa diz que a
responsabilidade pela licitação e a contratação da Delta é da prefeitura.
Segundo o banco, a Caixa atua apenas como repassadora de recursos. Quem assinou
o convênio foi o Ministério das Cidades. Em relação à nomeação da funcionária
Marise Araújo para a superintendência em Goiás, a Caixa diz que ela entrou no
banco em 1981 e, em todos esses anos no emprego, não há qualquer registro que
desabone sua carreira.
Em conversas entre Cláudio Abreu e Carlinhos Cachoeira no
dia 14 de abril de 2011, às 16h59, Cláudio Abreu diz a Carlinhos Cachoeira que
ganhou uma obra de R$ 70 milhões na Caixa. A conversa é interrompida para
Cláudio atender um prefeito. Pouco depois, Cachoeira e Abreu voltam a
conversar. Cachoeira diz que também tem uma boa notícia: a nova superintendente
da Caixa foi indicada por Marcelo, da NeoQuímica. Ele diz que vai levá-la para
Abreu conhecer. E falam sobre as obras de saneamento do PAC, com recursos
repassados pela Caixa. À noite, Abreu vibra com o contrato para a construção do
edifício digital da Caixa, Cachoeira diz “vamos matar a pau”.
(Ouça os diálogos clicando aqui)